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Quase 10% dos estudantes da UFMT já pensaram em se matar recentemente, diz estudo

Da Redação - Lázaro Thor Borges

“Voltei a me cortar e pensamentos suicidas rondam a minha mente”, diz uma estudante, de 19 anos, que cursa Pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Cuiabá. O desabafo foi colhido na página de internet “UFMT Você Não Sabe Mas Eu Sei”, onde dezenas de universitários enviam pedidos de ajuda, em que descrevem situações de pânico, depressão e principalmente de desejo suicida.

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A anônima em questão faz parte dos 10% de estudantes do campus de Cuiabá da UFMT que declararam ter pensamentos suicidas nos últimos meses. O número foi obtido pela pesquisa do mestrando em enfermagem Hugo Gedeon, que publicou o estudo no início do ano. O artigo  “Fatores associados à presença de ideação suicida entre universitários” é resultado de um questionário feito com 637 acadêmicos federais.

 

Gedeon confessou ter ficado estarrecido quando chegou ao resultado. Ele explica que os estudantes que responderam ao questionário da pesquisa foram escolhidos de modo a fazer um recorte estatístico do câmpus, para que o número representasse com certo grau de precisão a totalidade da universidade.

 

“Isso só mostra o quanto é importante prepararmos os profissionais da saúde para que eles saibam lidar com o problema. Muitas vezes o paciente chega no hospital ou no consultório relatando casos de depressão e de ideação suicida mas por conta da subjetividade daquilo o enfermeiro não sabe qual a melhor maneira de lidar com o problema”, conta.

 

No trabalho, cada estudante selecionado respondeu a seguinte pergunta “Nos últimos trinta dias você pensou em se matar?”. Ao final da pesquisa, 9,9% dos universitários responderam positivamente à questão.

 

Fatores associados

 

A pesquisa também contém um diagnóstico de ‘fatores associados’ à ideação, ou seja, de possíveis causas do problema. A princípio o pesquisador constatou que o desejo de se suicidar está fortemente ligado a quatro fatores: orientação sexual, depressão, casos de suicídio na família e problemas socioeconômicos.

 

A falta de dinheiro é um entrave não só à rotina acadêmica, mas também à possibilidade de conseguir apoio e acompanhamento psicológico. “Não consigo ir a um psicólogo, eu não tenho condições e estou na lista de espera da UFMT até agora”, diz o mesmo desabafo da estudante de Pedagogia.

 

Segundo o trabalho de Gedeon, a ideação suicida entre os universitários de classe C é muito maior quando comparada àqueles de classe B e A, com mais recursos financeiros.  Mas até mesmo àqueles que sao tratados por especialistas não conseguem se livrar das enfermidades psicológicas.

 

''E eu já não aguento mais essa vida de viver só, de estar no meio de tanta gente e ainda me sentir assim. Eu achei que mudaria esse semestre, mas vejo que só tende a piorar. [...] Já procurei especialistas e ainda me sinto mal. Meu problema pode ser depressão, mas a falta de apoio também vai matando aos poucos.”, relata outro estudante anônimo.

 

Exposição

 

Espaços como a página “UFMT Você Não Sabe Mais Eu Sei” são, onde os relatos acima foram colhidos, tem uma função ambígua. Ao mesmo tempo em que os comentários às publicações podem auxiliar quem sofre muitos podem não entender e fazer deboche do sofrimento relatado.

 

“Eu já vi muita gente fazendo comentários no sentido de ajudar quem de fato pede ajuda, mas tem um risco muito grande quando você fica suscetível ao que os outros dizem, pode ter comentários de deboche, relativizando aquele sofrimento e isso piora muito a situação de quem vive uma depressão, por exemplo.

Outro lado


Segundo a assessoria da UFMT já existem medidas previstas para solucionar o problema do suicídio na comunidade acadêmica. Uma delas é a Liga Acadêmica de Saúde Mental (LASM), da Faculdade de Medicina da UFMT, que planeja ações conjuntas coma Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Prae-UFMT) com o objetivo de ouvir os estudantes.

“Pretendemos desenvolver atividades, em um primeiro momento, aos residentes na Casa do Estudante Universitário do Câmpus de Cuiabá, como rodas de conversa, para levantarmos e ouvirmos as demandas”, explica Eduardo de Oliveira Passafaro, estudante de Medicina e presidente da LASM, que foi criada há cinco anos e conta, atualmente, com dois estudantes e duas professoras orientadoras.

Já a coordenadora acadêmica do Serviço de Psicologia Aplicada, professora Vera Brum, afirma que são oferecidos atendimentos psicoterapêuticos, em grupo ou individuais. “Para consultas, basta preencher uma ficha de cadastro e aguardar a chamada. O serviço, criado em 2012 na UFMT, está disponível tanto para a comunidade universitária como para a sociedade em geral”, comenta. 

 
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