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Promotora diz que feminicidas carregam culpa e lembra de homem que se entregou: “via a mulher em todo lugar”

Da Redação - Wesley Santiago

“O autor do feminicídio carrega a culpa com ele e também acaba com a sua vida”. A avaliação é da promotora Lindinalva Rodrigues, do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher do Ministério Público, que se assustou com o aumento nos casos em Cuiabá. Os casos pularam de um, no ano passado, para sete neste ano. Muitas vezes, segundo ela, os autores destes crimes agem por impulso e acabam carregando a culpa para a resto da vida: “Lembro do caso de um rapaz que se entregou por remorso, sentia a necessidade de pedir desculpas à família”.

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“Esse ano, eu tive uma audiência com um rapaz que matou a companheira há dois anos, fugiu e depois se entregou. Não podemos revelar o nome, mas isso mostra que os autores destes crimes carregam a culpa consigo. Este homem disse que não aguentava mais ser perseguido pela sua consciência, que via a moça que ele matou em todos os lugares”, revela a promotora.
 
Segundo Lindinalva, o feminicida percebeu que a única forma de recomeçar a vida, seria voltando para Cuiabá [estava em Mato Grosso do Sul] e pagando pelo seu crime: “Isso confirma que este tipo de assassinato também mata o agressor de alguma forma. A culpa o persegue”.
 
“O homem tinha a necessidade de pedir perdão para a mãe da vítima. Foi uma cena muito emocionante quando ele o fez. Embora saiba que isso não ia trazê-la de volta, havia esta necessidade de pedir desculpas e começar a pagar pelo que ele fez”, explica a promotora à reportagem.
 
A promotora lembra que este tipo de crime envolve mulheres de todas as classes sociais. Porém, as mais pobres ainda continuam em maior vulnerabilidade. Alguns crimes, porém, chamam a atenção pela crueldade com que são praticados contra as vítimas. Lindinalva comenta que se chocou ao receber as fotos do assassinato ocorrido em agosto deste ano, no bairro CPA II, em que Adriana Aparecida de Siqueira, de 41 anos, e Andreza Maria Vilharga da Siqueira, de 19, mãe e filha, foram assassinadas e tiveram o rosto desfigurado com um martelo.
 
“Fiz a audiência deste caso. Tenho 21 anos de Ministério Público (MP), não consegui ver todo o exame de corpo de delito. É algo muito cruel, a cena era muito forte de se ver. Este final de semana teve uma mulher que correu do marido, mas mesmo assim foi morta. As mulheres estão sendo caçadas, como se fosse algo medieval”, disse a promotora.
 
Lindinalva lembra que “é sempre a mesma história. O homem dizendo que ama, que não conseguiu superar a perda do relacionamento. Precisamos mudar deste sistema, essa forma de pensar, por que se não todas as vidas serão destruídas. Todos que cometeram este crime estão presos e vão continuar lá. É crime hediondo, gravíssimo”.
 
“Tem que estar consciente que não é normal alguém ameaçar você de morte, não é uma discussão familiar isto. Não é natural, mesmo de cabeça quente, que alguém diga que vai te matar. Não vale a pena continuar o relacionamento, porque muitas vezes acabam pagando com a própria”, finaliza a promotora.
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