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Os desafios sobre trilhos
Luciano Vacari
O setor agropecuário é o que mais exporta produtos nacionais. Grande parte dessa comercialização sai dos portos brasileiros, principalmente pelo porto de Santos e Paranaguá. E, apesar dos problemas que existem com relação à disponibilidade de containers, mar afora vai tudo de vento em popa. O problema maior está do porto para trás.
Majoritariamente, o escoamento da safra de grãos ocorre pelas rodovias brasileiras. Segundo estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), realizado em 2019, 67,4% da soja brasileira exportada é escoada pelas rodovias, 24% pelas ferrovias e 8,6% por hidrovias, sendo uma grande dependente do modal rodoviário para a exportação dos produtos brasileiros. Porém essa dependência não é apenas na hora de exportar, mas também na hora de importar, segundo a FreteBras, no 1º trimestre de 2022, o produto mais transportado pelo agro foram os fertilizantes.
O transporte dos produtos do agronegócio foi responsável por movimentar um volume aproximadamente de R$ 6,7 bilhões só nos primeiros três meses do ano, fazendo o setor ser responsável por mais de 37,4% de todo frete rodoviário brasileiro.
Toda essa movimentação de grãos até o porto é apenas a primeira parte da cadeia de exportação, que busca levar esse produto até outro país, na maioria das vezes o destino é a China.
Segundo dados da ESALQ/USP, o transporte da soja na rota Sorriso/MT – Santos/SP, está com um preço médio nesse mês de setembro, de R$ 513 por tonelada, sendo esse transporte feito pelo modal rodoviário.
Outro dado interessante da EsalqLog e publicado pelo Valor Econômico é com relação ao custo em dólar do transporte da soja entre Sorriso e Santos. Em 2020, o custo médio desse trajeto pelo modal rodoviário foi de US $92,04 por tonelada de soja, enquanto pelo modal ferroviário o custo médio foi de US$ 85. Apesar de ser uma alternativa mais barata e eficaz, o setor ferroviário ainda necessita de investimento em ampliação e modernização.
A parte positiva disso é que os dados mostram que os investimentos em ferrovias no Brasil vêm crescendo nos últimos anos, principalmente com o aumento da concessão de ferrovias a empresas do setor privado.
Atualmente o modal ferroviário brasileiro conta com mais de 3.297 locomotivas e 114 mil vagões segundo a ANTF, e em 2021 foram somados mais de 6 bilhões em investimentos privados no setor, empregando mais de 41 mil trabalhadores.
Mas na prática ainda tem muito trilho a ser construído e quilômetros de estradas a serem duplicados. A participação da iniciativa privada é indispensável para viabilizar investimentos e acelerar os processos. O modelo de estadualização, adotado em Mato Grosso para destravar a expansão da Ferronorte, também se mostra uma via mais célere para o processo.
Reduzir as distâncias sobre rodas percorridas pelos grãos vai trazer não apenas lucro, mas também segurança para as pessoas que transitam pelas rodovias.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação