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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Brasil pode atender mercado em caso de epidemia aviária

Uma doença já conhecida em todo mundo e principalmente por produtores de aves está voltando a colocar o mercado em estado de alerta. É a gripe aviária, que desde o início do ano já matou oito pessoas ao redor do mundo e infectou ao menos outras 50 até o momento. A preocupação é que um novo surto mundial da gripe iniba o consumo mundial dos diversos tipos de aves e derrube os preços em todos os países, afetando as margens do setor produtivo.


O primeiro e último grande surto de gripe aviária ocorreu em 2005. Naquele ano, mais de 160 pessoas morreram em decorrência do vírus e milhões de aves foram sacrificadas, sobretudo no sudeste asiático, considerada a área de maior risco de epidemia do vírus. A maior parte das vítimas havia tomado contato com o vírus a partir do contato direto ou indireto com aves, o que levou consumidores de todo o mundo a reduzir ou até banir o consumo de carne de ave, trocando-a por outras proteínas. Como consequência, os preços dos frangos e patos sofreram uma brusca redução. Segundo levantamento da Scot Consultoria, em um período de seis meses, o preço do frango vivo na granja passou de R$ 1,60 para R$ 0,70, uma queda de quase 57%, considerada "atípica" para o setor em qualquer época do ano. "O consumidor, ao invés de, no primeiro momento, procurar fontes seguras que possam fornecer carne de frango com todas as etapas [de sanidade] corretas, ele para de comer, então isso causa um impacto negativo no setor", explica o analista Augusto Maia, da Scot.

Se os casos da gripe tomarem proporções maiores, a possibilidade de uma nova retração global na demanda no curto prazo não está descartada, de acordo com Maia.

"Já no médio ou longo prazo, o Brasil pode se beneficiar. Foi justamente em 2005 que o País assumiu a liderança na exportação mundial de aves, com o investimento em fiscalização sanitária e defesa sanitária", lembra Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). "Mas estamos assustados porque há focos de gripe aviária em vários continentes", acrescenta.

Até o momento, já foram sacrificados mais de 23 mil aves somente na China, 170 mil na vizinha Coreia do Sul e 825 no Vietnã, segundo relatórios da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês).

A concentração de casos de gripe tanto em aves como em seres humanos na China levou as autoridades das Filipinas a suspenderem temporariamente as compras de aves chinesas, além de pintos de um dia, ovos e sêmen do país na semana passada.

Caso ações como essa se repitam, Turra garante que o Brasil pode assegurar o fornecimento de aves para outros mercados. "Nós poderemos ser um porto seguro, e temos condições de atender a emergências. O Brasil tem capacidade ociosa", assegura o presidente da Ubabef. No ano passado, os frigoríficos brasileiros produziram 12,308 milhões de toneladas, 5,7% a menos do que em 2011, com 13,05 milhões de toneladas - o maior volume produzido historicamente pelo setor.

De todo a produção brasileira, aproximadamente um terço é destinado para as exportações. Para este ano, a previsão da entidade divulgada no início do mês é que as exportações cresçam entre 2% e 2,5%, o que representaria 4,15 milhões de toneladas a 4,17 milhões de toneladas embarcadas até dezembro. Se algumas barreiras não tarifárias forem derrubadas, as exportações podem acelerar para 5%, ou 4,27 milhões de toneladas.

Acordo com a OIE

Como ainda não se sabe como será a evolução da gripe aviária no mundo, Turra prefere não traçar novas estimativas. Mas ele ressalta que o Brasil tem um acordo de compartimentalização com a OIE que garante que, em casos de surto de gripe aviária em nível global, o País tem "ilhas de preservação" - ou seja, determinadas plantas que já foram avaliadas pela organização internacional, entre elas a da Seara, agora pertencente à JBS, e a da BRF - que são asseguradas pela entidade como plantas livres do vírus da gripe. "Poucos empresas entraram, queremos ampliar isso."

Defesa sanitária

Os novos casos de gripe aviária têm surgido globalmente desde o ano passado, principalmente na Ásia, mas este ano é especificamente mais preocupante para o Brasil por causa da Copa do Mundo, em junho, quando estima-se que mais de 550 mil estrangeiros venham ao País.

Segundo Turra, a Ubabef e as empresas do setor avícola deverão apoiar o Ministério da Saúde e da Agricultura para espalhar avisos nos principais portos e aeroportos com recomendações de higiene para os turistas.

Ele afirmou, porém, que apesar da defesa sanitária ter levado o Brasil a conquistar a liderança nas exportações globais, o País não está completamente a salvo da epidemia. "Temos uma fronteira imensa, com entradas fáceis. Além de tudo, existe biopirataria, que é outro fato que nos assusta. Não podemos deixar de pensar que, por interesse econômico, há quem torça para que o Brasil também capitule e abra a guarda."
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