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Sábado, 20 de julho de 2024

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Chacina do Paralelo 11

Documento revela participação de servidores públicos em matança de comunidades indígenas

Foto: Reprodução

Técnica de tortura a indígenas na década de 1960 semelhante aos usados pela ditadura militar

Técnica de tortura a indígenas na década de 1960 semelhante aos usados pela ditadura militar

Documento obtido pelo Olhar Direto junto à Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados revela detalhes de um dos episódios mais tristes da história brasileira. A Chacina do Paralelo 11 conta o extermínio de aldeias inteiras de índios na década de 60 e a participação de funcionários do estado brasileiro em crimes como tortura, assassinato e roubo de terras.


A matança consta de trechos do Relatório Figueiredo, documento produzido em 1967 pelo então procurador do Ministério do Interior Jader de Figueiredo Correia. O material era dado como desaparecido e foi encontrado praticamente intacto, no final de 2012, dentro do Museu do Índio, no Rio de Janeiro. O documento de mais de sete mil páginas veio à tona por meio de reportagens do jornal Estado de Minas.

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A chacina do Paralelo 11 dizimou milhares de índios na divisa dos Estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia a pretexto da expansão de terras para produção agropecuária. Conforme depoimentos de envolvidos no caso, a matança contou com a atuação direta de integrantes do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que antecedeu a Funai.

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Relatos dão conta da realização de sessões de torturas com as mesmas técnicas utilizadas por militares durante os anos de chumbo. O documento revela detalhes sobre caçadas a índios, emboscadas, utilização de venenos, doação de alimentos com estricnina e inoculação de doenças como sarampo e varíola, às quais os indígenas não possuíam proteção.

Também há registros da utilização de bombas e granadas jogadas por aviões. Detalhes da matança só se tornaram público porque um dos jagunços, chamado Ataíde, contratado pelo seringalista Antônio Mascarenhas de Junqueira, nunca recebeu pela prestação do serviço.

Segundo um dos relatos lidos durante audiência pública na Câmara, realizada em junho deste ano, Chico Luiz, líder dos jagunços, e portando uma metralhadora, em um dos ataques feitos à comunidade, disse o seguinte: “É preciso matar todas estas pragas”, afirmara o líder do bando.

Ataíde o advertiu. “Não faça esta bobagem. Os Cintas-Largas vão se vingar. Os padres também não vão gostar disso”.
Segundo Ataíde, cada um dos assassinos contratados deveria receber o pagamento de 50 mil cruzeiros, mas Junqueira recusou o pagamento e não queria mais aquele tipo de abordagem por ser muito cara. A estratégia mais barata, de acordo com o relato do jagunço, contida no documento, seria bombardear as aldeias usando avião.

Mais de 3,5 mil índios foram mortos na ocasião. Parte das terras, que eram públicas, foi vendida pelo próprio Estado brasileiro.
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