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Cotonicultores sofrem com preços mas fortalecem Ampa em 2012, diz Carlos Augustin

28 Dez 2012 - 08:14

Especial para o Agro Olhar - Thalita Araújo

Foto: Márcio Trevisan

Cotonicultores sofrem com preços mas fortalecem Ampa em 2012, diz Carlos Augustin
O produtor Carlos Ernesto Augustin esteve à frente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) no biênio 2011/2012 e, neste mês de dezembro, passou o cargo ao novo presidente eleito, Milton Garbugio.


Em entrevista ao Agro Olhar, ele comenta o desafio dos preços ruins que o setor está enfrentando e fala de todos os bons projetos desenvolvidos para a atividade durante o tempo em que esteve na presidência da Ampa.

AO - Quais foram os grandes ganhos da cotonicultura mato-grossense no ano de 2012?

Carlos Ernesto Augustin: Em 2012, Mato Grosso colheu aproximadamente 1 milhão de toneladas de pluma do total de 1,9 milhão de ton produzidas pelo Brasil, consolidando sua posição como o maior produtor de pluma do país e colaborando para consolidar a posição brasileira no ranking mundial dos maiores produtores de fibra. Na safra 2011/2012, o Brasil alcançou a terceira colocação mundial em exportação - com o recorde de 1 milhão de toneladas enviadas ao exterior.

Nos últimos dois anos, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) conduziu de forma exemplar a tarefa de normatizar e fazer uma divisão justa dos recursos provenientes da indenização norte-americana aos produtores brasileiros de algodão. Nós, da diretoria da AMPA, decidimos rodar os sete núcleos regionais e promovemos reuniões com os associados antes da aprovação final dos projetos. Quase ao final de nosso mandato, aprovamos nossas prioridades na aplicação desses recursos.

Outro passo importante de 2012 foi o início da construção da nova sede, que será inaugurada em 2013 como sede da AMPA e da Aprosoja.

Não posso deixar de lembrar que a AMPA comemorou 15 anos em setembro de 2012. Graças à união de nossos associados em torno de nossos interesses em comum, nossa entidade chegou aos 15 anos forte e madura. Graças a eles, Mato Grosso é hoje um nome respeitado não só no cenário nacional como o maior produtor de algodão do Brasil, como também em nível internacional.

AO - E as principais perdas?

Carlos Ernesto Augustin: Podemos dizer que os cotonicultores mato-grossenses perderam em termos de preço. Em dezembro de 2010, quando tomei posse como presidente da AMPA, o preço do algodão era de 1.7 dólares por libra peso.

A rentabilidade do algodão era excelente e a projeção de futuro indicava grande otimismo, já que o mundo estava demandando fortemente o algodão. No entanto, a palavra de ordem dos últimos anos no mercado de algodão tem sido volatilidade. Passamos de um dólar e setenta (1.70) há dois anos a 0.75 centavos de dólar hoje, ou seja, menos da metade do valor, o que está muito próximo dos custos de produção.

A diminuição de área plantada é condição para aumento de preço, porém a China mantém um preço mínimo de um dólar e trinta centavos (1.30) - o dobro do valor de mercado. Os três maiores produtores mundiais - China, Índia e EUA - protegem fortemente seus produtores de algodão, lhes garantido preço mínimo adequado.

O Brasil também mantinha uma política protetora do preço mínimo, porém, hoje, o preço mínimo estabelecido está abaixo do custo de produção e inviabilizando a efetivação dessa política. Temos que urgentemente revisar o preço mínimo do algodão, tarefa esta a ser enfrentada pela nova gestão da Abrapa e AMPA. O mercado mundial do algodão hoje não é mais gerido pelo livre mercado e sim pelas políticas públicas implantadas pelos grandes países produtores. Em outras palavras: quem está sem proteção está à deriva!

AO - Que principais motivos levaram a este cenário de preços ruins?

Carlos Ernesto Augustin: O agravamento da crise econômica na Europa e Estados Unidos. Temos muita oferta de pluma e demanda desaquecida. A China, nosso principal parceiro comercial, também dá sinais de revisão de índices de crescimento.

AO - Estima-se uma redução em torno de 30% das lavouras de algodão na próxima safra. Esse número é preocupante e revela um desestímulo dos produtores ou é uma reação normal e esperada, a fim de reequilibrar os estoques e o mercado?

Carlos Ernesto Augustin: Por um lado, temos estoques elevados de pluma e um desaquecimento no mercado consumidor; por outro, temos uma demanda maior por soja e milho. O empresário rural tomou a decisão estratégica de reduzir a área de plantio de algodão na safra 2012/13, o que é uma reação normal ao mercado que poderá ser revertida a médio prazo.

AO - Em que principais pontos as propriedades cotonicultoras de Mato Grosso evoluíram em 2012 em comparação a anos anteriores? Uso de tecnologia, biotecnologia, sustentabilidade, legislação trabalhista...?

Carlos Ernesto Augustin: As propriedades cotonicultoras de Mato Grosso estão em constante evolução. Ao longo de 15 anos de história da AMPA, os produtores associados criaram institutos, empresas e cooperativas para nos ajudarem nesse processo de evolução, graças ao qual ajudamos o Brasil a passar da condição de importador a exportador de pluma.

Em termos de cumprimento da legislação trabalhista e ambiental, somos referência para o resto do país. A Abrapa, inclusive, lançou em setembro de 2012 o programa “Algodão Brasileiro Responsável” (ABR) inspirado na experiência do Instituto Algodão Social (IAS).

O Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), por sua vez, tem desenvolvido novas tecnologias e, para a sua difusão, possui uma equipe de agrônomos nos principais núcleos de produção em Mato Grosso. Para colocar as tecnologias desenvolvidas pelo IMAmt e por seus parceiros à disposição dos agricultores com mais agilidade e menor custo, a AMPA conta ainda com a Cooperativa Mista do Agronegócio (Comdeagro).

O foco principal do trabalho do IMA é o Programa de Melhoramento Genético de Algodão, cujo objetivo é desenvolver variedades produtivas, com bom rendimento e qualidade de fibra, e resistentes/tolerantes às principais doenças e aos nematoides que atacam o algodoeiro. Atendendo a essas necessidades, o IMAmt lançou o material IMACD 8276 no biênio 2011/12. Nesse período, a equipe de pesquisadores do instituto intensificou os trabalhos de incorporação de traits para resistência a herbicidas e/ou pragas nos seus materiais elites. Porém, o IMAmt sempre tem a preocupação de desenvolver variedades nas versões convencional e transgênica, para que o produtor possa optar pelo uso ou não da tecnologia transgênica.

AO - Quais foram os principais trabalhos e projetos desenvolvidos pela Ampa enquanto o Sr. esteve na Presidência?

Carlos Ernesto Augustin: Definimos em conjunto com os associados da AMPA os projetos prioritários para aplicação dos recursos provenientes da indenização norte-americana aos produtores brasileiros de algodão; iniciamos a construção da nova sede da AMPA (em parceria com a Aprosoja); iniciamos a preparação do 9º Congresso Brasileiro do Algodão, que acontecerá em setembro de 2013 e cuja realização está sob a responsabilidade da AMPA/IMAmt; participamos de vários eventos e missões internacionais (ICA, ICAC, China Cotton Conference, Bremen International Conference, entre outros); estivemos envolvidos em lutas conjuntas com outras entidades produtivas em prol de melhorias na infraestrutura logística (principalmente através do Movimento Pró-Logística) e no campo tributário e fiscal; montamos o laboratório de Biologia Molecular, no Campo Experimental do IMAmt, em Primavera do Leste, e lançamento o “Manual de Boas Práticas para o Manejo do Algodoeiro em Mato Grosso”, uma iniciativa do IMAmt que se propõe a auxiliar produtores e seus colaboradores no seu dia a dia.

AO - O Sr. entrega o posto para o próximo presidente com a sensação de “missão cumprida”?

Carlos Ernesto Augustin
: Com certeza! O trabalho na direção da AMPA é contínuo e, em função do espírito de união dos associados, não há uma quebra de continuidade no trabalho de uma diretoria para outra. Acredito que fizemos a nossa parte e continuaremos trabalhando pelo fortalecimento do algodão mato-grossense como produtor e membro do Conselho Consultivo da AMPA.
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