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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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Fórum Soja Brasil faz balanço da maior expedição por lavouras do grão no País e aponta os desafios da safra recorde

O produtor de soja vai encerrar o ciclo 2012/2013 com a contabilidade no positivo. Mas apesar dos números recordes da safra e do preço do grão, o segmento enfrenta fatores que vêm comprometendo a produção: problemas climáticos, logística, pragas e questões indígenas, por exemplo, foram os temas que deram o tom da pauta do Fórum Soja Brasil, evento que encerrou a maior Expedição por lavouras do grão no País durante a 14ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, interior gaúcho.


Com o tema “Desafios de uma safra histórica”, o quinto e último fórum do Projeto Soja Brasil, mediado pelo jornalista do Canal Rural João Batista Olivi, apresentou o balanço da expedição que durou quatro meses e conferiu de perto desde o plantio à colheita da safra 2012/2013. Segunda a consultoria Safras & Mercado, a produção do período é estimada em 82,3 milhões de toneladas.

Para avaliar o andamento da cultura, duas equipes formadas por jornalistas, pesquisador da Embrapa e representantes da Aprosoja Brasil percorreram 30 mil quilômetros, 87 municípios de oito Estados. A expedição também percorreu três províncias da Argentina e lavouras dos Estados Unidos.

Dividida em cinco rotas, a expedição vivenciou a realidade de cada região, conferiu momentos bons, como a expansão de lavouras e aumento da produtividade, mas também viu produtores amargarem prejuízos por questões climáticas, com a falta e excesso de chuva, e pragas. Esses assuntos e outros destaques discutidos durante o ano pelo setor produtivo, como logística e a questão indígena, foram debatidos no fórum. “Por todas as lavouras percorridas, além do clima, a incidência de buva, nematoides e lagartas, prejudicaram as lavouras”, disse Áureo Lantmann, consultor do Projeto Soja Brasil. Mas melhoras também foram vistas, como a rotação de culturas em algumas localidades e o controle de pragas no momento correto em outras. Outro aspecto negativo observado pelas equipes foram os milhares de quilômetros de solos descobertos, expostos ao calor, a erosão e aos riscos climáticos, além da diminuição das áreas de plantio direto sobre a palha. “Isso é um risco muito grande, ainda mais em um ano como este, que sabíamos que a distribuição de chuvas seria irregular. Com um solo coberto, o impacto do clima seria bem menor”, observou Lantmann.

A incidência de pragas nas lavouras e o manejo inadequado foram destacados por Alexandre José Cattelan, chefe-geral da Embrapa Soja: “Em algumas regiões, a helicoverpa está sendo um problema. Ela é fruto de práticas e manejo errados e, para que a incidência não ocorra, a rotação de culturas deve ser feita. Na questão da ferrugem, destaco a importância do vazio sanitário. É uma das grandes ferramentas que se tem, pois adia bastante o tempo da primeira aplicação de fungicida”, disse.

As mudanças climáticas e como elas interferem na cultura foram tratadas por Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária. “O que estamos vendo em cem anos aconteceria em muito mais tempo, e isso é provocado pela emissão de gases de efeito estufa. Existe o equilíbrio energético, que também interfere no clima. Estamos observando chuvas muito intensas. No Cerrado, por exemplo, o percentual anual continua o mesmo, mas a incidência de pancadas é muito maior. Isso é provocado pelo reequilíbrio energético de todo o planeta”, afirma o pesquisador.

Apesar dos problemas enfrentados pela cultura, para o analista de Safras & Mercado Flávio França Júnior, a renda do produtor será positiva: “A produtividade foi melhor, o preço que ele vai receber é historicamente alto. O agricultor também comprou com antecipação um bom volume de insumos, e vendeu percentual elevado antecipado da produção com preços altos”, listou França. “Só não será ainda melhor porque os custos de produção aumentaram entre 10 e 15% em relação à safra passada, e os problemas com logística e infra-estrutura, como o atraso de navios nos portos continua sendo um problema. Nosso grande desafio é mandar nossa soja para o exterior”, observou.

A falta de logística da porteira ao porto, como dificuldades com transporte e estradas também foi enfatizadas por Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil, integrante da Expedição: “Não nos faltam caminhões, falta logística. Hoje, se demora muito mais para percorrer um caminho e descarregar o produto do que antes. É uma vergonha o que está acontecendo e o que vai acontecer nas próximas safras”, desabafa.

Presidente interino da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP/RS) falou sobre a questão indígena, citando que no Brasil existem mais de 500 processos sobre demarcação e desocupação de terras, destacando o problema do município gaúcho Mato Castelhano, onde muitos produtores podem perder as terras. “Temos que fazer pressão, pois infelizmente não estamos sendo ouvidos. E o governo parece que não está nem aí”, disse.

Um dos aspectos mais positivos que os participantes da expedição destacaram foi a interação com os agricultores: “Levamos informações sobre a cultura do grão e interagimos diretamente com mais de cinco mil produtores”, ressaltou Glauber Silveira. “Para nós que trabalhamos com pesquisa, esse contato direto com o produtor é fundamental. Além de facilitar que as tecnologias cheguem no campo, também conseguimos um feedback do produtor para que possamos melhorar nossas pesquisas, para que elas possam ajudar a resolver os problemas do campo”, observou Alexandre José Cattelan, chefe-geral da Embrapa Soja.

“Cumprimos nosso objetivo de acompanhar a safra em todas as suas etapas, discutindo diretamente com os produtores os grandes temas envolvidos na cultura como clima e pragas, entre outros, levantando pontos críticos e oferecendo informações, assistência e promovendo vários eventos”, disse Julio Cargnino, gerente de conteúdo do Canal Rural. Segundo Cargnino, a importância de estar presente no campo, dialogando, auxiliou o produtor no processo de tomada de decisões. “A próxima Expedição Soja Brasil começa em junho e já estamos em fase de planejamento. As rotas voltam a passar pelos maiores Estados produtores do grão, além da Argentina e Estados Unidos”, adiantou.

O Projeto Soja Brasil é uma realização do Canal Rural e da Aprosoja Brasil, com coordenação técnica da Embrapa, e patrocínio das empresas BASF, Mitsubishi Motors e Monsanto.
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