Olhar Agro & Negócios

Quinta-feira, 18 de julho de 2024

Notícias | Agronegócio

Principal ingrediente da inflação, tomate vira assunto nacional

Cada vez mais escasso na lista de compras em razão do preço, o produto alimenta piadas nas redes sociais e provoca boicote de restaurantes, ao mesmo tempo em que anima os produtores, nunca tão recompensados financeiramente quanto agora.


Assim como no resto do país, o tomate vitamina a inflação de Porto Alegre. Em 12 meses, o aumento chegou a 168,05%, segundo o IPC-S, da Fundação Getulio Vargas. A alta parece justificar a origem do termo “tomate” em italiano – “pomodoro” vem de “pomo d’oro” (“maçã de ouro”).

Se o tomate já está caro para chuchu, o pepino para o bolso do consumidor pode ser ainda maior. Como a safra gaúcha está acabando, e o centro do país, maior produtor, teve quebra na produção por excesso de chuva, não há previsão de queda de preços.

Na Ceasa Porto Alegre, por onde passa um terço dos hortigranjeiros do Estado, o aumento foi ainda maior do que o registrado pelo IPC-S. O quilo pulou de R$ 1 para R$ 4: alta de 300%.

– Entre dezembro e janeiro, o forte da safra no Rio Grande do Sul, muito tomate do Estado abasteceu o Sudeste. Isso é um fato novo – explica o agrônomo Antônio Conte, da Emater-RS.

Contra a alta do tomate, chefs sugerem criatividade, e nutricionistas apontam legumes e frutas que contêm as mesmas propriedades benéficas à saúde. A dica é sair da mesmice e valorizar os produtos da estação.

– O brasileiro não se adapta às sazonalidades e consome produtos de baixa qualidade e mais caros. A manga, que está barata agora, é uma boa alterativa para saladas – sugere Aires Scavone, chef e professor de gastronomia.

A disparada do preço fez a tradicional cantina paulistana Nello’s banir o produto do cardápio. Na Serra Gaúcha, região colonizada por italianos e principal produtora do Estado, os restaurantes também passam apuros.

Marcos Giordani, sócio da Pizzaria Giordani, diz que, há três meses, comprava uma caixa por R$ 20. Hoje, não sai por menos de R$ 100. Como utiliza cerca de 50 caixas do produto por mês, a despesa de R$ 1 mil quintuplicou.

– Tivemos outros aumentos consideráveis recentemente, como os laticínios, que cresceram 10%, e a cebola, que aumentou 30% – conta.

Reclamações na cidade, celebração no campo

Se na cidade há ranger de dentes, na colônia há satisfação. Em 10 anos, a alta dos últimos meses garantiu a melhor remuneração que o agricultor Agostinho Vist, 48 anos, se recorda. Morador do bairro Brasília, em Caxias do Sul, há pelo menos 30 anos ele cultiva tomates.

– É um dos melhores preços que já tive. Muda um pouco conforme o momento, mas o preço médio é de R$ 50 a caixa com 20 quilos do tomate longa vida – comemora.

Ao produtor, o valor pago por quilo é R$ 2,50. Ano passado, despencou a R$ 0,50 e muitos agricultores optaram por nem colher.

O preço viçoso fez o tomate aparecer como o produto agrícola que teria a maior variação do valor bruto da produção (VBP) neste ano em todo o país, de acordo com levantamento realizado pelo Ministério da Agricultura. Conforme o estudo, superaria culturas como soja, milho e cana de açúcar. A projeção tem como base dados de fevereiro. A safra de 7,7 milhões de toneladas valeria R$ 8,7 bilhões, um crescimento de 49,7% ante 2012.
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