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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Após o bom 3º tri, alimentos e câmbio podem afetar IPCA

A alta de 0,35% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado encerrou o trimestre mais favorável para a evolução dos preços em 2013, segundo economistas, quando a média da variação mensal da inflação oficial ficou em apenas 0,21%, segundo dados divulgados ontem pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Nos últimos três meses do ano, a expectativa é que a sazonalidade mais pressionada dos alimentos, os impactos defasados da depreciação cambial e um esperado reajuste da gasolina levem o índice a voltar a rodar em patamar mais elevado, o que resultaria em inflação acumulada no ano pouco maior do que a de 5,84% registrada pelo IPCA no ano passado.

Entre agosto e setembro, a inflação acumulada em 12 meses cedeu de 6,09% para 5,86%, menor patamar nessa medida desde dezembro passado, movimento que, para analistas, foi influenciado principalmente pelo comportamento benigno dos alimentos no domicílio.

A avaliação é que há espaço para uma correção de um dígito dos combustíveis nas refinarias sem que o regime de metas de inflação seja ameaçado, mas a sazonalidade mais desfavorável para os preços - aliada a repasses da alta do dólar, que ainda estão por vir - diminui as chances de que o governo consiga cumprir o objetivo informal de entregar em 2013 uma inflação menor que a de 2012. Para isso, o IPCA teria de subir menos de 2% no último trimestre.

Sem um aumento da gasolina, diz Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, o indicador oficial de inflação poderia terminar o ano com avanço por volta de 5,8%, o que não significa, porém, que a dinâmica inflacionária teria melhorado em relação ao ano passado. Adriana observa que há uma distorção relevante entre os preços livres e administrados, que subiram 7,39% e 1,12% nos últimos 12 meses, respectivamente, em função de medidas do governo, como a redução das tarifas de energia elétrica e a ausência de aumentos nos preços de transporte público.

A economista da Tendências considera que uma alta de 7% da gasolina nas refinarias, ainda este ano, chegará com intensidade de 4,3% às bombas e terá impacto de 0,17 ponto percentual no IPCA do ano. Assim, estima Adriana, a inflação oficial terá aumento de 6% em 2013, número que incorpora alta acumulada de 2,12% nos meses finais do ano, influenciada principalmente por preços mais altos nos alimentos in natura ao campo positivo e pelo repasse de aumentos já registrados no atacado, assim como pela depreciação cambial, que deve aparecer com mais força nos grupos de artigos de residência e vestuário.

Segundo Tatiana Pinheiro, do Santander, o IPCA de setembro já mostrou sinais de impacto do câmbio nos eletrodomésticos e equipamentos, que avançaram de 1,43% em agosto para 2%, assim como nos produtos comercializáveis como um todo, que passaram de 0,43% para 0,64%.

Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE, identifica interferência do câmbio no preço de alguns alimentos (como o pão francês, influenciado pelo trigo carnes e frango, afetados pelo preço das rações), no forte reajuste das passagens aéreas (porque o combustível de aviação é reajustado pelo dólar) e também em produtos como os eletrodomésticos.

Apesar de a cotação da moeda americana ter deixado o patamar acima de R$ 2,40 para algo mais próximo de R$ 2,20 no último mês, Tatiana destaca que o real ainda está mais desvalorizado do que no início do ano, o que favorece repasses adicionais no último trimestre, quando a demanda fica sazonalmente mais aquecida. Em seus cálculos, um ponto da alta de 6,3% estimada para o IPCA em 2013 virá da escalada do dólar ocorrida desde meados do ano passado.

Com esse cenário, a economista do Santander sustenta que o IPCA acumularia alta de cerca de 6% este ano, mesmo sem aumento dos combustíveis. Em sua opinião, é mais vantajoso para o governo reajustar a gasolina ainda este ano, já que a alta dos preços ao consumidor para 2013 está praticamente dada. Se o governo adiar a decisão para 2014, diz ela, pode ter surpresas, como um novo choque de preços de alimentos.

Para Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, existe a possibilidade de que o reajuste seja concedido somente em dezembro, o que, na prática, faria com que seus efeitos sobre a inflação ficassem mais concentrados no próximo ano. Seu cenário-base, no entanto, conta com um aumento iminente dos combustíveis, que, junto a novas altas em vestuário, devido às coleções de verão, e outras pressões típicas de fim de ano, levarão o IPCA a aumentar 6% nos 12 meses até dezembro.

O economista Guilherme Maia, da Votorantim Corretora, afirma que uma inflação média mensal de 0,65% na reta final do ano - projeção que conta com alta de 5% da gasolina nas refinarias e impacto máximo de 0,2 ponto no IPCA - será suficiente para que a inflação oficial encerre 2013 com expansão de 5,8%, ligeiramente abaixo do nível de 2012. Mesmo assim, diz Maia, a evolução dos preços não está convergindo de forma satisfatória ao centro da meta, de 4,5%. O fato é que, se o objetivo do Banco Central é que a inflação caminhe lentamente para o centro, o IPCA deveria estar menor.
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