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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Sem medidas do governo, IPCA já estaria acima do teto da meta

Sem o efeito de medidas adotadas pelo governo, que, mesmo sem ter como objetivo principal o controle da inflação, acabaram por reduzir o nível da alta dos preços, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estaria rodando acima de 6% há 11 meses e poderia, inclusive, ter ultrapassado o teto da meta de 6,5% em setembro, segundo cálculos de economistas consultados pelo Valor. Excluindo-se do indicador itens que tiveram alguma interferência da política econômica, a inflação anualizada não teria recuado para 5,86% no mês passado.


Em um núcleo que chama de IPCA subjacente , a MCM Consultores expurga do indicador condições excepcionais com impacto negativo e positivo sobre a evolução dos preços. Nessa conta, saíram do índice as ajudas dadas pelos itens energia elétrica residencial, mobiliário, refrigerador, máquina de lavar, fogão, automóvel novo e usado, gasolina, óleo diesel e ônibus urbano.

Do outro lado, foram retirados os preços de refrigerante e água mineral, cerveja, outras bebidas alcoólicas e cigarro, cujas alíquotas de IPI foram elevadas para contrabalançar as desonerações concedidas a outros produtos. A consultoria também desconsidera a evolução do grupo alimentação e bebidas, que é muito suscetível a choques e sazonalidades.

Nessa medida, o IPCA em 12 meses teria subido de 6,5% para 6,6% entre agosto e setembro, já que, no período, o grupo alimentação perdeu fôlego com a contribuição dos produtos in natura. Se os preços de alimentação fossem mantidos nesse núcleo, a inflação anualizada teria desacelerado, mas o resultado cheio seria pior: o indicador, após ter chegado ao pico de 8,15% em maio, teria cedido e alcançado 7% em setembro.

A Tendências Consultoria calcula que, sem os efeitos da isenção fiscal para automóveis, do congelamento das tarifas de transporte público e do corte nos preços da conta de luz - medidas cujo impacto, segundo a economista Adriana Molinari, é mais fácil de ser mensurado nos índices ao consumidor, ao contrário da desoneração da cesta básica- o IPCA anualizado de setembro teria ficado em 6,81%.

Com essas medidas alternativas, observamos que as pressões inflacionárias têm recuado um pouco, mas grande parte disso se deve aos alimentos , afirma Fernando Genta, economista-chefe da MCM. Ainda que, ao longo do último trimestre, esses itens tenham liderado o processo de descompressão do IPCA, diz Genta, isso não significa que toda a aceleração do indicador observada até meados do primeiro semestre tenha sido puxada somente pelo grupo alimentação.

Segundo o economista, apesar do ciclo de aperto monetário iniciado em abril - que levou a taxa Selic de 7,25% a 9,5% ao ano e, no cenário da MCM, deve encerrar 2013 em 9,75% -, o IPCA ainda sofre o impacto de condições monetárias expansionistas. Mesmo nos atuais níveis, Genta avalia que os juros reais ainda estão abaixo do nível considerado de equilíbrio, que não pressiona a inflação. De acordo com estimativas da MCM, o juro real neutro atual estaria entre 4,5% e 5,5%.

Outras pressões que se mantêm sobre a inflação, observa o economista-chefe da consultoria, são o mercado de trabalho apertado, que se traduz principalmente em um nível desconfortável de preços de serviços, e a política fiscal expansionista. Nesse cenário, afirma Genta, as intervenções do governo ajudaram o Banco Central a entregar uma alta de 5,9% de IPCA em 2013, segundo as projeções da MCM, que contam com um reajuste da gasolina ainda neste ano.

Apenas a redução das tarifas de energia elétrica residencial diminuiu em 0,58 ponto percentual a inflação oficial de 2013, calcula Flávio Serrano, do BES Investimento. Juntando essa ajuda a outras menos significativas, como a reversão dos reajustes de transporte público, o IPI menor para veículos e o corte de tributos federais da cesta básica, Serrano afirma que as medidas do governo tiraram cerca de um ponto da inflação deste ano - que, em suas estimativas, será de 5,7%, sem aumento dos combustíveis no último trimestre.

Na avaliação de Serrano, as desonerações tiveram efeito maior sobre a inflação do que sobre a atividade econômica e ainda podem ser usadas pelo governo no ano que vem. Com o calendário eleitoral, o governo vai querer estimular o crescimento e deve usar todos os instrumentos disponíveis para isso, com a criação de uma ou outra isenção tributária , diz o economista do BES. Uma hipótese, segundo ele, é que os remédios sejam desonerados. Os produtos farmacêuticos representam 3,5% do IPCA.

Para Tatiana Pinheiro, do Santander, as intervenções do governo não foram suficientes para que a inflação retornasse à trajetória de convergência ao centro da meta, mas mesmo assim tiveram bastante efeito sobre a inflação, dado que os itens administrados, que representam um quarto do indicador, subiram apenas 1,12% nos últimos 12 meses. As desonerações, diz ela, ajudaram o IPCA a não se afastar muito de seu intervalo médio de flutuação, o que tem o efeito positivo de controlar expectativas.

Adriana, da Tendências, afirma que o impacto das desonerações sobre a dinâmica de preços foi contundente , mas pondera que essas medidas têm o efeito colateral de gerar uma inflação represada , dado que, em algum momento, as distorções de preços nas tarifas precisam ser corrigidas. Com as eleições presidenciais em 2014 e indicações de que a Prefeitura de São Paulo também não vai aumentar os passagens de ônibus no próximo ano, a economista sustenta que ajustes mais expressivos nas tarifas administradas ficaram para 2015, quando, em seus cálculos, o IPCA vai subir 6,2%.
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