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Domingo, 21 de julho de 2024

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Mercosul trabalha por proposta única para UE, diz Ramalho

Apesar das possibilidades de um atraso na harmonização de propostas entre os países membros do Mercosul para a negociação com a União Europeia, o alto representante do Mercosul, o brasileiro Ivan Ramalho, disse não acreditar na necessidade do bloco sul-americano levar aos europeus uma proposta de velocidade variada de liberalização comercial.


"O que existe de concreto hoje é que a negociação continua sendo em bloco", disse, ao Valor PRO, o serviço de informação em tempo real do Valor, durante o Encontro Nacional de Comércio Exterior 2013 (Enaex), no Rio. "É evidente que se não houver um acordo, se não houver consenso, é natural que os negociadores possam estudar outras alternativas", reconheceu.

Dizendo-se otimista, Ramalho afirmou que ainda é possível que a negociação interna dos países do Mercosul leve a uma proposta consensual até o fim do ano. No cronograma original, os países do bloco devem concluir em setembro suas listas de produtos a serem harmonizadas com os vizinhos.

Um possível atraso pode vir da Venezuela. O novo membro ainda não aderiu completamente à Tarifa Externa Comum (TEC). O embaixador José Ferreira Simões, subsecretário-geral do Itamaraty para a América do Sul, Central e do Caribe, também aposta no cumprimento do cronograma.

Ramalho frisou que todos os países do Mercosul ainda estão elaborando suas listas de produtos a serem discutidas. "Depois de prontas, elas terão que ser harmonizadas, mas naturalmente alguns poderão pedir exclusões ou inclusões de produtos antes de uma lista final ser levada à União Europeia", explicou. Segundo ele, o risco de intenções protecionistas atrapalharem a negociação entre os dois blocos não ocorre apenas do lado sul-americano.

"Se esse acordo não andou até hoje não foi só por causa do Mercosul, mas porque a União Europeia, todos sabem, tem também preocupações defensivas muito grandes na área agrícola", disse.

Ramalho defendeu que o Brasil continue dando prioridade ao bloco nas suas relações comerciais, pois a qualidade da pauta de exportação tem sido mantida. No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras para os países do Mercosul cresceram 4,4%. A diferença entre as vendas para o Mercosul e os outros grandes parceiros comerciais do Brasil é a qualidade da pauta de exportações. Cerca de 90% das exportações brasileiras aos países membros do bloco são produtos manufaturados, com alto valor agregado.

"O Mercosul não é parte do problema que o Brasil enfrenta hoje no seu comércio exterior, tem sido, pelo contrário, um atenuante", disse. Ele frisou que ainda que hajam desencontros no comércio com a Argentina, o país continua sendo o grande comprador de produtos manufaturados do Brasil. Entre janeiro e julho de 2013, as vendas do Brasil para a Argentina cresceram 9,1%, frente ao mesmo período do ano passado, o maior avanço entre os principais parceiros comerciais do país.

O percentual está acima da evolução das vendas para a China, que cresceram 8,5% na mesma comparação. As vendas para a União Europeia no período caíram 6,4% e para os Estados Unidos a queda foi de 14%.

O embaixador Simões traça um cenário pessimista para a economia mundial e acredita que o Brasil deve valorizar o relacionamento com o Mercosul. Para ele, a economia americana apresenta recuperação econômica ainda "muito sensível", enquanto a China tem sinais claros de desaceleração.

Para o embaixador, a economia chinesa deve crescer perto de 7,5%, este ano, e menos de 7% no próximo ano. Ele também disse que o desemprego na Europa tem trazido mais instabilidade. "Falem mal, mas falem do Mercosul. É preciso que as pessoas conheçam o Mercosul", afirmou, em defesa do bloco. Desde sua criação, o comércio entre estes países representava US$ 4,5 bilhões. Em 2012 esse número alcançou os US$ 60 bilhões.

Sobre a criação da ainda embrionária Aliança do Pacífico, Ivan Ramalho é otimista. Ele acredita que o novo bloco pode favorecer as trocas comerciais do Mercosul com os outros países da região, favorecendo a integração regional. "Para ele, a possível entrada do Paraguai na Aliança do Pacífico não enfraquece sua participação no Mercosul.

O embaixador Simões partilha da mesma opinião. "Não [enfraquece o Mercosul]. O Mercosul é um conjunto de regras, um conjunto legal. Ele [o Paraguai], mesmo suspenso, continuou, digamos assim, ligado a essas regras", disse Simões, frisando que o Paraguai ainda não entrou na aliança do pacífico, é apenas um observador como o Mercosul também é um observador.

"A Aliança do Pacífico é um acordo que está ainda em processo de conformação, ainda está concluindo o seu acordo entre os quatro países-membros. O prazo ainda não foi concluído", arrematou Ramalho. Ele lembrou que o Paraguai não está mais suspenso do Mercosul e que a decisão sobre quando voltar plenamente ao bloco é do governo do país.

"O Paraguai nunca deixou o bloco, foi suspenso apenas politicamente de participação nas reuniões deliberativas. Mas as operações do Paraguai no que diz respeito a tarifas e até mesmo financiamentos, nada disso foi paralisado", disse Ramalho.
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