Olhar Agro & Negócios

Domingo, 21 de julho de 2024

Notícias | Economia

Reajuste moderado de preços de alimentos ajudará inflação

Especialistas dizem que o mais provável é que haja uma fase de alterações mais moderadas nos preços desses produtos. Para o Brasil, esse é um cenário positivo no que tange ao combate à inflação, mas que preocupa do ponto de vista do comércio internacional já que os alimentos (e o minério de ferro) respondem por boa parte das nossas exportações.


Na semana passada, em edições diferentes, o Valor publicou entrevistas com dois analistas das questões agrícolas que concordaram em si sobre as perspectivas para as cotações internacionais dos alimentos. Para o economista Christopher Hurt, da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, a tendência é que a agricultura experimente um longo período de "moderação". Ele prevê um cenário de crescente equilíbrio entre oferta e demanda por alimentos, margens de lucro mais apertadas no campo e menos estímulos ao aumento da produção, mas minimiza a possibilidade de uma crise estrutural. A demanda chinesa por carnes (e, consequentemente, a de milho e soja para a produção de ração) tende a desacelerar nos próximos anos, assim como o uso de milho para a fabricação de etanol nos EUA. A China é a grande locomotiva da demanda, e o fato é que sua economia está desacelerando. Isso vai reduzir o ritmo da transição alimentar pela qual está passando, o que significa que o consumo de carnes vai crescer menos.

Hurt acrescenta que, a despeito da economia chinesa vir crescendo em ritmo mais fraco, o consumo per capita de proteínas animais (incluindo o de pescados) na China pode se aproximar dos patamares observados nos países desenvolvidos num prazo de cinco a dez anos. Ou seja, a demanda por alimentos da parte dos chineses não vai continuar empurrando para cima as cotações internacionais, mas continuará firme o suficiente para impedir uma desvalorização muito acentuada.

Já o ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, que também ocupou a pasta da Agricultura durante o governo militar de João Figueiredo, disse não acreditar que vá ocorrer uma redução muito importante da taxa de crescimento da demanda de produtos agrícolas nos próximos anos. O que vai mudar, seguramente, na sua opinião, é estrutura da demanda, com o aumento do número de consumidores com renda para buscar produtos de maior valor proteico. Ele também prevê uma relativa estabilização dos preços já que o "avanço espetacular da China não vai se repetir". O país, previu Delfim, vai continuar crescendo 4,5%, 5% ao ano. E mais importante: vai aumentar muito a urbanização, o que reduz a oferta de produtos agrícolas de um lado e aumenta a demanda de outro, porque aumenta a renda.

Por enquanto, a marca do comportamento dos preços de produtos agrícolas no mundo nos últimos meses tem sido a queda. Em agosto, o índice de preços globais de alimentos da FAO caiu a 201,8 pontos, ante os 205,6 de julho, dando continuidade à trajetória descendente iniciada em maio.

No grupo dos cereais - cujo índice específico passou de 227,3 pontos, em julho, para 210,9 no mês passado, na quarta retração consecutiva - pesou a recomposição da oferta de milho nos EUA nesta safra 2013/14, cuja colheita começará a ganhar fôlego nas próximas semanas. Mesmo com o clima adverso em regiões do Meio-Oeste americano, que provocou altas expressivas de preços em julho, a tendência de recomposição da oferta prevaleceu e abriu espaço para a valorização.

No mercado doméstico, os dados divulgados na sexta-feira pelo IBGE mostram que o movimento de desaceleração dos alimentos - forte entre maio e julho - foi interrompido em agosto, quando esses preços ficaram praticamente estabilizados. O principal indicador da inflação do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentou um aumento de 0,24% no mês passado e a previsão dos especialistas é de que alimentos e bebidas vão voltar a pressionar o índice em setembro.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
Sitevip Internet