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Domingo, 21 de julho de 2024

Notícias | Economia

Trigo escasso aumenta preço ao produtor e encarece o pão

A tensão com a oferta escassa de trigo deve garantir preços favoráveis aos produtores brasileiros do cereal. E as cotações mais altas no campo já se refletem na mesa do brasileiro. Segundo o Sindicato que representa os moinhos de São Paulo (Sindustrigo-SP), de junho a agosto houve repasses mensais de 5% ao preço da farinha de trigo e, em setembro, um novo aumento é programado. O pãozinho francês não ficou imune. Desde junho, já está, em média, de 4% a 4,5% mais caro nas padarias do Estado.


O indicador Cepea/Esalq mostra que, desde junho, houve valorização de 30% nos preços do cereal no Estado do Paraná, principal produtor brasileiro de trigo para panificação. Nesse mesmo intervalo, as padarias contabilizam que o gasto com aquisição da farinha de trigo subiu 12%, segundo o vice-presidente do Sindicato da Panificação de São Paulo (Sinpan-SP), Carlos Perregil. "Para o pão, o repasse foi de 4% a 4,5%. Se a farinha se estabilizar, os repasses ao pão devem cessar, pois não queremos perder clientes", diz Perregil.

O produtor do Paraná recebe cerca de R$ 1 mil pela tonelada de trigo de qualidade superior, acima dos R$ 900 por tonelada da referência para o cereal americano, segundo a Safras & Mercado. O especialista da consultoria, Élcio Bento, explica que os preços tendem a cair quando a Argentina entrar no mercado, a partir de dezembro ou janeiro. No entanto, avalia, as cotações devem permanecer em patamares relativamente altos ao longo de toda a safra, no intervalo de R$ 750 a R$ 950 por tonelada.

Com trigo escasso no Brasil e preços nas alturas, moinhos e produtores iniciam disputa para definir os rumos da oferta no mercado interno. De um lado, está a indústria que pede ao governo que libere a importação de mais 2 milhões de toneladas do cereal de fora do Mercosul sem cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC), de 10%. De outro, os produtores, que garantem que a partir da próxima semana haverá no Paraná trigo de qualidade disponível para moagem.

Em abril, o governo já havia liberado a importação de 2 milhões de toneladas de fora do Mercosul sem a cobrança da TEC. No fim de agosto, liberou mais 300 mil toneladas e estendeu o prazo de entrada do produto no Brasil de 31 de agosto para 10 de setembro. Ontem, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) anunciou que vai liberar a importação de mais 400 mil toneladas de fora do Mercosul até 30 de novembro.

Para sustentar o pedido de tarifa zero para adicionais 2 milhões de toneladas de trigo, o moinhos alegam que já começaram em setembro a processar apenas trigo americano, uma vez que não há cereal disponível no Brasil. "Isso nunca aconteceu", afirma o presidente do Sindustrigo-SP, Christian Saigh.

Também não há oferta no Paraguai, cujas lavouras também foram afetadas por geadas. "Se houver trigo paraguaio será a partir de outubro. Ainda assim, a qualidade é uma incógnita", afirma Saigh. Ele calcula que os estoques do cereal (a maior parte de origem americana) no país são suficientes neste momento, em média, para 30 dias de consumo.

A Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) estima que os moinhos já tenham comprado 450 mil toneladas de trigo dos Estados Unidos, mesmo sem a garantia de que haveria a isenção da TEC, afirma o presidente do conselho deliberativo da entidade, Marcelo Vosnika.

Além de chuvas, as geadas que atingiram o Paraná no fim de julho frustraram a expectativa de uma recuperação na safra de trigo brasileira. A Safras & Mercado já refez as contas: as perspectivas iniciais apontavam uma colheita de 5,8 milhões a 6 milhões de toneladas, mas agora já são esperadas 4,7 milhões de toneladas. "As geadas de agosto ainda não foram quantificadas, mas pegaram lavouras do Paraná e do oeste do Rio Grande do Sul", disse Élcio Bento, analista da consultoria.

A quantidade do cereal que será produzida no país não é o único ponto de interrogação, já que resta saber a qualidade do que sairá de campo. Até o momento, com 7% da área plantada no Paraná já colhida, estima-se que entre 80% e 90% não têm qualidade suficiente para a produção de farinha e devem acabar virando ração para aves e suínos. Esses volumes vieram das áreas que mais sofreram com o clima, segundo Bento, mas a preocupação com os lotes que ainda entrarão no mercado é grande.

A quebra da safra paranaense elevou para 40% o nível de ociosidade dos moinhos do Estado, historicamente na casa dos 20%, segundo Vosnika. Mas do lado do produtor, o posicionamento é de que nesta semana estarão disponíveis lotes de trigo colhidos com qualidade de panificação, garante o diretor-técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.

Nesse cenário, as importações de trigo tendem a ganhar força mais uma vez. A projeção da Safras para o ano comercial (de agosto a julho) é de que sejam trazidas do exterior de 7,3 milhões a 7,5 milhões de toneladas - embora esse número tenda a subir, depois da quantificação das perdas com as últimas geadas. "Ainda podemos ter nesta temporada 2013/14 a maior importação de trigo da história", prevê Bento. Na temporada 2012/13, encerrado em agosto, foram 7,7 milhões de toneladas, mas o recorde foi no ciclo 2006/07, com 7,8 milhões de toneladas.

A Argentina deve seguir como o principal fornecedor de trigo ao Brasil, favorecida pela recuperação de sua produção, que deve sair de 8,5 milhões de toneladas do ano passado para 13 milhões este ano. Isso vai elevar o saldo exportável de 3,2 milhões para 7 milhões de toneladas. "Esse cenário torna o abastecimento do Brasil mais tranquilo que no ano passado", afirma Bento.

Mas, como o cereal argentino só estará disponível entre dezembro e janeiro, a expectativa do analista - ao contrário do que avalia a indústria - é que, até lá, os moinhos brasileiros sigam abastecidos pelo Paraguai, pelo Canadá e pelos EUA. (Colaborou Tarso Veloso, de Brasília)
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