Olhar Agro & Negócios

Domingo, 30 de junho de 2024

Notícias | Pecuária

IAC pretende controlar doença de citros com medicamento humano

Partindo do pressuposto de que doença se combate com remédio, o Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico (CCSM/IAC), localizado em Cordeirópolis (SP), fez uma descoberta inédita: substituiu, com sucesso, o uso de agrotóxicos por uma molécula já usada para tratamento de infecções bacterianas nas vias aéreas de humanos no controle de fitopatógenos dos citros, como a Xylella fastidiosa, da Clorose Variegada dos Citros (CVC). “O trabalho é inédito, pois, apesar de essa molécula ser usada na medicina, nunca foi testada para combater doenças de plantas”, diz Alessandra Alves de Souza, a pesquisadora do IAC que está conduzindo a pesquisa.


A pesquisadora afirma que a importância da descoberta está no novo uso do produto, já usado como medicamento e que mostra não ser prejudicial para o homem, e no seu baixo impacto ambiental. “A dose empregada na planta é bem menor que a usada em seres humanos. Essa molécula também é usada para combater os radicais livres e ajuda na prática de exercícios físicos”, explica Alessandra, cuja equipe fez pedido de patente para a descoberta no Brasil e no exterior.

CVC e cancro cítrico

Os pesquisadores avaliaram essa molécula como estratégia para inibir ou desagregar o biofilme bacteriano da Xylella fastidiosa, causadora da CVC, e o da Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico. O biofilme formado pela bactéria Xanthomonas fica na superfície das folhas e o constituído pela Xylella se instala dentro da planta.

De acordo com a pesquisadora, no caso da Xanthomonas citri, esse biofilme protege as bactérias de estresses ambientais, entre eles o calor e raios UV, e de compostos antimicrobianos que possam afetar o desenvolvimento da bactéria, dentre eles o cobre, rotineiramente utilizado no controle químico da doença.

A pesquisa no Centro de Citricultura do IAC buscou encontrar uma estratégia para retardar ou inibir a formação dessa capa protetora nas folhas antes da infecção, a fim de tornar a Xanthomonas mais vulnerável. Assim a bactéria ficaria mais suscetível aos estresses ambientais e aos compostos antimicrobianos. Consequentemente, seria reduzida também a quantidade de produtos químicos e os focos da doença. “Com esse objetivo, avaliamos o análogo de aminoácido, o N-acetil-cisteína, chamado NAC, um agente com propriedades antibacterianas e que reduz a formação de biofilme em várias bactérias, principalmente causadoras de doenças em seres humanos”, explica Alessandra.

A pesquisa foi desenvolvida inicialmente em plantas com CVC e que receberam NAC com aplicações do produto por diferentes sistemas, como hidroponia e fertirrigação. Nesses casos, a doença voltou três meses após a interrupção do tratamento. Foi avaliado também o uso do NAC acoplado a um adubo de liberação lenta, situação em que a doença retornou apenas seis meses após a interrupção do produto. “Isso indica que o produto deve ser aplicado temporalmente, mas que, dependendo da forma de aplicação, os intervalos poderão ser maiores”, diz a pesquisadora.

A pesquisa teve início há quatro anos. Os resultados, definitivos em casa de vegetação e agora testados no campo, mostram que a molécula empregada não só reduziu a quantidade de bactérias Xylella fastidiosa capazes de colonizar o xilema das plantas, como também foi capaz de reverter os sintomas de plantas com CVC. Esses resultados de campo poderão estar finalizados em dois ou três anos, segundo o IAC.

No caso da Xanthomonas, o NAC teve efeito de desprendimento da comunidade bacteriana que vive sobre as folhas”, explica Alessandra. Segundo ela, a aplicação de N-acetil-cisteína com cobre reduziu em até mil vezes a concentração de bactérias nas folhas. “Daí concluímos poder se tratar de nova estratégia de manejo do cancro cítrico.”

Menor impacto ambiental

Apesar de os experimentos serem conduzidos em condições controladas, em laboratórios e casa de vegetação, o custo final do uso dessa molécula é bastante viável. “O tratamento atual para CVC é à base de inseticida, o que, além de caro, tem alto impacto ambiental”, diz a pesquisadora., para quem a questão ambiental deve ser levada em conta.

O pesquisador Marcos A. Machado, diretor do CCSM/IAC e coordenador das pesquisas, ressalta, no entanto, que o uso do NAC não substitui os inseticidas para controlar vetores de doenças ou pragas. “Seu objetivo é diminuir a capacidade das bactérias do CVC e do cancro de se fixarem nas plantas, reduzindo assim a severidade dessas doenças. Ao reduzir o número de plantas doentes reduzirá, em consequência, o número de plantas fonte daqueles patógenos e assim a doença como um todo no pomar”, explica. “Ele não tem ação curativa e deve ser visto como um tratamento adicional que, somados a outros, pode reduzir a severidade de CVC e cancro cítrico no pomar”, completa, avisando que essas pesquisas ainda não têm resultados para as bactérias do HLB (greening).

A equipe do CCSM/IAC segue agora estudando novas formas de aplicação do NAC a fim de encontrar respostas ainda mais eficientes. Os próximos passos envolvem testes em campo para controle da CVC e testes em casa de vegetação para controle do cancro cítrico e HLB .

A pesquisa tem apoio dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), de Genômica para Melhoramento de Citros e o IAC colaborará com grupos para testes em outras culturas. (com informações da assessoria do IAC).
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
Sitevip Internet