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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Notícias | Agricultura

Cultivo de algas marinhas garante renda extra para comunidade no CE

O cultivo de algas vermelhas mudou a vida de mulheres de uma comunidade de pescadores do município de Icapuí, no Ceará. Com a produção de algas, elas preservam a natureza e garantem uma renda extra, confeccionando produtos de beleza e alimentos para vender.


As rochas avermelhadas de arenito, chamadas de falésias, ao lado de dunas de areia, são algumas marcas das paisagens de Icapuí. Na comunidade de Barrinha, os homens sempre se dedicaram à pesca.

Raimundo Sebastião pescou desde os nove anos até se aposentar, com 60 anos. Hoje, ele tem uma profissão que é novidade: algicultor, a pessoa que planta algas marinhas. “A gente planta e depois cultiva”, explica.

As algas são vegetais que podem dar tanto na terra quanto na água. Segundo Raimundo, antes do projeto de cultivo, implementado pela Fundação Brasil Cidadão, a extração de algas era muito diferente: “Era só arrancando. Ela vinha com toda a raiz que ela tinha no fundo do mar. Ninguém aqui conhecia este trabalho de preservar. Nesse tempo, o objetivo era tirar para acabar mesmo, para tirar muito, para uns fazerem mais que os outros”.

Essa extração desenfreada quase acabou com as algas do banco natural de Icapuí. Foi então que a comunidade desenvolveu um projeto para cuidar melhor desse recurso. “Já havia experiência de cultivo em alguns lugares, então vamos usar alga de cultivo que é mais selecionada, você não depreda o banco. Nós investimos não só em uma mobilização de conscientização dessa comunidade, como também ensinamos como utilizar esta alga in natura para transformá-la em alimento e agregar valor”, explica Leinad Vasconcelos Carbogim, coordenadora do projeto.

Hoje o algicultor Raimundo toca o viveiro. A fase da lua determina quando ele e o filho, Nazareno, que está aprendendo com o pai, podem ir até o banco de algas. Isso só acontece na lua nova e na lua cheia, quando a maré baixa o suficiente para eles irem andando até o local. Eles caminham cerca de 1,5 quilômetros mar adentro.

O cultivo da alga é parecido ao da ostra. Na plantação, é preciso puxar as cordas que estão no fundo para fazer a limpeza das algas. A sujeira acumulada impede que a luz do sol atue sobre elas e as algas param de crescer. Outra tarefa dos algicultores é verificar as cordas para ver se alguma muda se desprendeu ou foi comida por peixes. Quando preciso, eles replantam algumas mudas, que pegam no mar. “O galhinho vai crescer e quando for daqui um mês, ele já está bom”, conta Raimundo.

As algas são cortadas para que possam crescer novamente e colhidas a cada três meses. O manejo tem que se rápido, antes da maré subir. Depois de duas horas, o algicultor volta à praia com a colheita do dia e vende para o projeto.

A alga colhida por Raimundo serve para fazer vários produtos. São as mulheres que cuidam de todo o processo. Primeiro, elas lavam e depois colocam as algas para secar. Adeneide Maria da Silva, que cuida das finanças do grupo e está estudando administração na universidade, lembra como foi a reação das pessoas no começo do trabalho. “Elas achavam que a gente era louca, porque amarrar algas em cordas e plantar no mar, isso jamais ia crescer e dar algum resultado.
Tanto que gente tinha uma barraquinha de palha, onde a gente fazia as reuniões e outras coisas. Hoje, nós temos a sede, onde a gente trabalha”, comemora.

A sede foi feita especialmente para o projeto. No local, funciona uma cozinha industrial onde as algas já secas são usadas para fazer gelatina e mousse, que se destinam à merenda escolar de Icapuí. Das algas, se tira uma substância rica em fósforo, ferro e potássio. Por mês, são produzidas 600 gelatinas e três mil mousses.

Com as algas, também é possível fazer cosméticos, como xampu e sabonete. As mulheres da comunidade participaram de cursos pra aprender a fazer os produtos de beleza. As oito mulheres que trabalham no projeto ganham até R$ 200 por mês com as algas.

A produção ainda é pequena, porque estão colhendo poucas algas. O desafio agora é conseguir produzir mudas no laboratório. A bióloga Rosi Rebouças é a responsável pela pesquisa. “Em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nós estamos tentando simular as condições do mar. A ideia é que as algas se reproduzam para evitar o desgaste e a retirada das algas do banco natural”, relata.

Por enquanto, a comunidade de Barrinha tem uma certeza: as algas não serão mais exploradas de forma predatória, mas sim com esquema de manejo, de forma que o negócio seja sustentável, para durar para sempre.
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