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Sábado, 27 de abril de 2024

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Pecuária de corte gaúcha se desenvolveu a partir de Bagé

É difícil pensar que aquele bife suculento ou o churrasco macio do final de semana tenham uma história tão longa. Há mais de um século, os criadores perceberam que não bastava oferecer carne. Era preciso combinar resistência, produtividade e qualidade. Foi aí que um grupo de bajeenses revolucionou a bovinocultura e inventou uma feira para expor, adquirir e compartilhar a genética dos melhores animais. Assim, inventaram a pecuária de excelência do Rio Grande do Sul. O centenário da Expofeira de Bagé representa a história que deu à carne gaúcha o status de uma das melhores do mundo.

— Foi uma mudança conceitual. Tínhamos o gado crioulo, remanescente dos animais trazidos no século 16 pelos espanhóis. Com as raças britânicas, os produtores viram a importância do melhoramento genético — diz Paulo Ricardo Sousa Dias, presidente em exercício da Associação e Sindicato Rural de Bagé.

Ao perceber as vantagens do cruzamento com as raças britânicas, que entraram no país por Bagé, os produtores decidiram se unir para facilitar a compra de animais. Criaram uma das associações rurais mais antigas do Estado, que se inspirou nas feiras da Argentina e do Uruguai. Nascia a Expofeira.

— Quando o angus chegou, os animais eram pequenos. Mas a qualidade da carne já era evidente — diz Alberto Pinheiro, presidente do Núcleo Regional de Angus de Bagé.

Segundo Pinheiro, o melhoramento feito ao longo do século tornou a raça uma das mais procuradas por criadores, para invernar ou fazer cruzamentos. O criador revela ainda que o papel da região, hoje, é de vanguarda, exportando a genética do angus.

Mesmo fenômeno ocorreu com outra raça britânica, a hereford, que entrou no país por Bagé na mesma época. Muito forte no Uruguai, a criação encontrou eco na Campanha. Exemplo é o pecuarista Gedeão Pereira, que realiza um dos maiores remates da Expofeira de Bagé. O pai tinha campos no Uruguai, nos quais criava hereford. Ao se transferir para o Brasil, trouxe a paixão pela raça.

— Hoje é o Brasil que exerce influência sobre todo o Mercosul com a qualidade da sua genética. Somos a referência em raças britânicas — completa Gedeão.

O grupo que importava animais no início do século 20 estava fazendo história. E sabia disso. Tanto que, em 1906, um engenheiro agrônomo viu a necessidade de registrar os animais que entravam ou nasciam no Estado. Começou assim a Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares (ANC) — batizada em homenagem a Leonardo Collares, que abriu os livros de registro em Bagé.

— Sem a identificação, o melhoramento não seria possível. Os registros eram o apoio para investir com segurança — destaca o superintendente substituto do Registro Genealógico da ANC, Amilton Elias.

À crônica das raças soma-se o investimento em pesquisa para explicar o pioneirismo na pecuária de excelência. Desenvolvida nos laboratórios da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, a raça sintética brangus, cruzamento entre nelore e angus, já é uma das mais procuradas. Segundo o chefe geral da Embrapa, Alexandre Varella, apesar da região ser reconhecida por exportar sua genética, ainda há muito o que pesquisar.

—A análise do DNA pode selecionar animais mais resistentes. A genética do nosso gado ainda tem muito a melhorar — afirma.
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