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Produtor participa há 51 anos da Expofeira de Bagé
07 Nov 2012 - 07:10
Patrícia Lima - Zero Hora
A força às vezes lhe falta no braço. Mas o velho produtor rural ainda se sustenta na coragem de abraçar o trabalho. Manoel Azambuja, 87 anos, desliga o trator com simpatia para atender a reportagem de Zero Hora.
— Moça, não sei se posso te ajudar. Não sei muita coisa, só sei do meu serviço aqui — afirma seu Manoel, cheio de simplicidade.
Produtor reconhecido e premiado com a raça jersey, ele põe na conta da intuição e da troca de conhecimento com outros o sucesso da propriedade no interior de Bagé. Sem formação específica, diz que aprendeu o que precisava com o tempo.
Depois da conversa, liga o trator e volta a remexer a terra. Com uma disposição pouco comum para um quase nonagenário, seu Manoel é um homem do campo, daqueles do tempo antigo, como ele mesmo gosta de dizer. Acorda às 6h, toma café com leite e vai para o campo. Trabalha até as 22h.
Já não pega pesado como há alguns anos, mas nunca deixa de supervisionar o trato com os animais, o pasto, as cercas, os nascimentos e as demais rotinas da propriedade.
A tal intuição, a quem seu Manoel dá tanto crédito, foi a responsável pela participação na Expofeira de Bagé em 1961. No evento dominado pelas raças de corte, apresentou vacas jersey e ovelhas ideal.
— Fui um teimoso — dispara.
Foi assim também que, num ímpeto, decidiu participar dos começos da Expointer, quando a feira ainda era realizada no bairro Menino Deus, em Porto Alegre.
— Eu sentia que era importante estar nessas feiras, mesmo que não vendesse nenhuma vaca. A troca de conhecimento era muito grande e a gente aprendia muito.
Foi assim que a minha propriedade cresceu. E como cresceu. Seu Manoel importou uma das primeiras ordenhadeiras do Estado, que veio da antiga Checoslováquia, e teve um tambo com capacidade para produzir e comercializar leite, queijo, manteiga e nata na região de Bagé. Hoje, com a idade e a divisão da propriedade com os filhos, dedica-se apenas à reprodução.
Somente uma vaca é ordenhada, para garantir o café da manhã. Mesmo assim, os animais que seu Manoel leva às exposições ficam quase sempre entre os primeiros colocados. Para a Expofeira deste ano, vai levar 10 exemplares. Nascido em Pinheiro Machado, Manoel Azambuja viveu no campo até os oito anos, quando perdeu o pai. Emocionado, lembra da infância pobre e difícil.
Aos 15, já morando no centro de Bagé, foi trabalhar no comércio. Em 1950, casou-se com uma prima que tinha um pequeno lote de terra no interior da cidade, juntou as economias e comprou mais um pedaço de campo. Começou criando gado holandês, normando e jersey.
Em cerca de um mês, os animais das outras raças morreram e ele apostou no jersey. Hoje, o ancião que batiza suas vacas com nomes de amigos ou familiares conta com orgulho que ajudou a construir a história da raça jersey na região da Campanha, expondo seus animais em eventos como a Expofeira e a Expointer. E avisa:
— Vou participar enquanto puder. Ainda vou longe.
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