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Notícias / Energia

No sul do país, produtores rurais colhem os frutos das 'árvores de energia'

Rural Centro

O Complexo Eólico Cerro Chato, que entrou em operação em 2011 na cidade gaúcha de Sant'Ana do Livramento, fronteira com a uruguaia Rivera, tem capacidade instalada para gerar até 90 MW através de 45 aerogeradores distribuídos por três parques eólicos. Para viabilizar a instalação, a Eletrosul, empresa responsável pela geração e transmissão da energia, selou parceria com 18 proprietários rurais, que cederam uma pequena parte de suas propriedades para as “plantações” das gigantes “árvores de energia”.

A resistência dos produtores quanto ao novo projeto de geração de energia através dos ventos do sul do Brasil não perdurou. “Eu nem sabia o que era energia eólica quando o pessoal da Eletrosul entrou em contato comigo”, lembra o pecuarista João Alberto Fernandes, de 82 anos. Sua propriedade tem dois aerogeradores em funcionamento e mais um em fase de implantação. Sua vontade é “cultivar” um gerador para cada um de seus três filhos. “É uma energia limpa e não dá prejuízo nenhum. Apenas o fato de ter o nome envolvido nesse projeto já é uma ajuda que eu ofereço ao município e ao Brasil”, orgulha-se Fernandes. Em sua fazenda, cada torre rende aproximadamente R$ 850 por mês.

O complexo ajudou, de certa forma, diversos pequenos produtores da região em Sant'Ana do Livramento. Algumas propriedades que estavam abandonadas e foram alvo de investimentos para a construção dos aerogeradores receberam de volta seus proprietários, que estavam morando na cidade por conta da descapitalização da fazenda. “A vida se tornou difícil e alguns lugares ficaram abandonados pela desvalorização. Proprietários com menos de 100 hectares não sobreviveram porque a produção não cobria as despesas do estabelecimento. Agora os donos estão voltando porque a renda que vem da torre fornece dinheiro para contratar um caseiro”, revela Fernandes.

Dentro do Complexo Cerro Chato, Marcelo Linhares é o produtor que tem mais aerogeradores instalados: são 13 dentro de sua fazenda de pecuária de corte. Linhares lembra que cada torre ocupa em média 0,5 hectare, mas a área destinada acaba cumprindo uma função nobre na geração de energia limpa. “A gente tem que procurar novas fontes de energia que não tragam danos ambientais e esta é mais uma alternativa que se apresenta para essa demanda que está crescendo”, aprova Linhares. A renda obtida por cada aerogerador ajuda a propriedade a lidar com a alta nos custos de produção, complementando o capital para a aquisição de insumos como fertilizantes, produtos veterinários e também possibilitando investimentos em mão de obra.

A renda repassada aos produtores rurais é referente a 1% da energia que gera cada torre. “Além da renda mensal, os proprietários apontam vantagens como melhoria das estradas locais, diminuição da criminalidade no campo devido à presença da vigilância, valorização fundiária e aumento do potencial turístico da região”, lista Maurício Castro Carrilho, gerente do Centro Regional da Eletrosul em Sant'Ana do Livramento.

Os bandeirantes da energia

O produtor Carlos Abreu Campos, titular da Estância Santa Clara, que em pouco mais de mil hectares cultiva arroz e cria gado de leite, corte e ovinos para carne e lã, além de criar cavalos da raça Crioulo, também se lembra do ceticismo com que recebeu a proposta da geração de energia eólica dentro de sua propriedade. “Os profissionais que nos visitaram foram verdadeiros bandeirantes em uma terra onde os produtores estavam concentrados somente em suas produções baseadas em antigos costumes. Visitando o parque hoje e vendo a obra realizada traz dos olhos ao pensamento o quanto foi necessário para chegar até aqui”, relembra Campos. Na Estância Santa Clara são três aerogeradores que rendem, cada um, R$ 750,00 mensais em média. “É extremamente saudável para nós, produtores rurais, estarmos inseridos num contexto de preservação ambiental”, acrescenta o produtor.

A “cruzada” da energia eólica no sul do país ainda não está concluída. Nos planos da Eletrosul ainda estão previstos investimentos na ordem de R$ 2,2 bilhões para novas estruturas. Além da ampliação do Complexo Eólico Cerro Chato, que terá capacidade para gerar mais 78 MW através de outros 39 aerogeradores em implantação, outros dois complexos deverão entrar em operação em 2014. São eles o Complexo Eólico Geribatu, em Santa Vitória do Palmar/RS (que terá capacidade para gerar 258 MW por 129 aerogeradores), e o Complexo Eólico Chuí, em Chuí/RS (capacidade instalada de 144 MW gerados por 72 aerogeradores). Os outros investimentos ficarão por conta de projetos de integração de sistemas de transmissão de energia e da construção de um centro de visitação junto ao complexo de Cerro Chato.

A ampliação e a construção de novos complexos farão com que outros 44 proprietários tenham aerogeradores dentro de suas áreas. “Serão mais 13 moradores contemplados na ampliação de Cerro Chato, outros 26 na implantação do complexo Geribatu e mais cinco proprietários no complexo Chuí”, contabiliza Maurício Carrilho.

Energia Eólica no Brasil

Atualmente, apenas 1,59% da matriz energética brasileira é composta por energia eólica, cuja capacidade instalada é de 2,1 GW, como mostra o quadro ao lado (Reprodução / Aneel). No entanto, é o tipo de energia que tem mais empreendimentos em construção: são 93 instalações com potência outorgada de 2,3 GW, o que representa 11,24% da capacidade de novos empreendimentos. Em termos de empreendimentos outorgados entre 1998 e 2013, mas que ainda não estão sendo construídos, a energia eólica também é primeira colocada, com 197 instalações com potencial para gerar 5,2 GW, que representam 32,49% de todo o potencial de geração de energia de empreendimentos que ainda não estão sendo construídos.

O principal estado brasileiro em termos de capacidade instalada para geração de energia eólica é o Rio Grande do Norte, com 727 MW. Em seguida está o Ceará, com 588 MW. O Rio Grande do Sul ocupa o terceiro lugar no ranking, com 440 MW.
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