Imprimir

Notícias / Economia

Analistas projetam salto do IGP-M no męs

Valor Econômico

A desvalorização mais intensa do real em relação ao dólar durante as últimas semanas de agosto e o aumento de preços de alguns produtos agrícolas no cenário internacional devem ter levado a inflação ao produtor a dar um salto em setembro, na avaliação de economistas, movimento já observado nas leituras prévias do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M).

Diante de repasse mais generalizado da mudança de patamar do câmbio no período sobre preços agrícolas e industrializados, o IGP-M deve deixar avanço de 0,15% em agosto e subir 1,44% em setembro, de acordo com a média das projeções de 15 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data. Se confirmado, seria a maior variação mensal do IGP-M desde novembro de 2010, quando o indicador avançou 1,45%.

As estimativas para o indicador, a ser divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV), vão de 1,33% a 1,54%. Para os economistas, no entanto, o índice não deve registrar altas tão expressivas nos próximos meses, principalmente por causa da estabilização do dólar em torno de R$ 2,20 observada nas últimas semanas, resultado das intervenções do BC e da decisão do Fed, o banco central dos EUA, de não iniciar em setembro a redução de compras de ativos.

Para Fabio Romão, da LCA Consultores, com efeitos mais disseminados da perda de valor do real em relação ao dólar pelos preços de produtos agropecuários e industrializados, a inflação no atacado deve ser bem mais elevada em setembro. Romão estima alta de 1,4% do IGP-M e avalia que parte do avanço será puxada pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem peso de 60% no indicador - a LCA projeta alta de 1,98%

No atacado, a maior alta virá dos itens agropecuários, que vão deixar deflação de 0,60% em agosto para subir 2,18% nesta leitura, de acordo com os cálculos de Romão. O milho e a soja devem ter subido 1,30% e 10,80%, respectivamente.

O economista avalia que a desvalorização do câmbio, que chegou a atingir R$ 2,45 no fim de agosto, é preponderante para explicar a forte aceleração esperada para os produtos agrícolas no atacado e também influenciou o comportamento de outros produtos. Para suínos, por exemplo, Romão projeta alta de 11,9% neste mês, já em função da taxa de câmbio mais pressionada no período.

Para Fernando Parmagnani, economista da Rosenberg & Associados, as leituras mais bem comportadas do IGP-M em julho e agosto, apesar da perda gradual de valor do real naquele período, decorreram do comportamento favorável dos preços das commodities na cena externa. "Nas leituras anteriores, o câmbio mais alto era compensado por queda das cotações do milho e da soja, por exemplo, mas isso não acontece mais", diz o economista, que projeta alta de 2,12% do IPA em setembro.

O impacto do real mais fraco também vai aparecer com mais intensidade nos preços industrializados, na avaliação de Romão, da LCA, que projeta avanço de 1,67% para esses itens em setembro, ante variação de 0,41% um mês antes. Além do minério de ferro, para o qual o economista projeta aumento de 3,30%, Romão avalia que o efeito da desvalorização cambial também poderá ser observado em outros produtos, como couros e calçados, vestuário, produtos químicos, metalurgia básica e artigos de borracha, por exemplo.

Os alimentos e bebidas industrializados, passo intermediário entre o repasse do dólar mais caro dos preços agropecuários para os consumidores, deve ter alta de 3% em setembro. Assim, para os consumidores, essa alta já deve ficar mais visível em outubro, provavelmente, estima Romão. Por enquanto, para essa leitura, o economista projeta aumento de 0,27% do Índice de Preços ao Consumidor-M (IPC-M), ante alta de 0,09% em agosto.

Para Parmagnani, da Rosenberg, que estima alta de 0,30% do IPC em setembro, já é possível observar algum repasse da desvalorização para a inflação no varejo. "O efeito não é linear, mas já observamos aumentos em artigos de residência e bens duráveis, por exemplo", afirma. É possível que os alimentos pressionem os próximos resultados, mas o economista não enxerga grandes pressões para a inflação ao consumidor nos próximos meses.
Imprimir