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Procura por carne de cordeiro causa aumento na criação de ovinos em SP

Globo Rural

 O consumo de carne de cordeiro ainda é pequeno no Brasil, com menos de um quilo por ano por habitante. Já o consumo de carne de boi é de quase 40 quilos por pessoa.

O mercado é promissor e fez muitas pessoas decidirem investir na criação. Em São Paulo, há três fazendas que se dedicam à atividade.

A procura pela carne de cordeiro tem registrado aumento e a produção brasileira não atende o mercado. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, até outubro desse ano foram importamos 390 mil quilos de carne. No ano passado, foram 40 mil. Por isso, criadores paulistas aproveitam essa oportunidade. Segundo o IBGE, nos últimos 20 anos o rebanho de ovinos em São Paulo dobrou de tamanho.

Uma das novas criações está na propriedade em Morungaba, São Paulo. As instalações têm três anos e a dona está com apenas 26 anos de idade. A família tem tradição na criação de ovinos. Mas até três anos atrás a atividade era desenvolvida lá na Espanha.

Priscila Quirós, dona da propriedade brasileira, formou-se em administração. Quando pensava sobre o destino profissional, ela se deparou com a história da família. Apesar da experiência familiar, ela teve que aprender tudo do zero.

O pasto da fazenda é formado com capim aruana e irrigado para se manter vistoso. O rebanho tem 1,5 mil animais mestiços. Na propriedade é feita a monta natural, com 20 reprodutores. As ovelhas dão cria no pasto. Todos os dias, pela manhã, os funcionários saem em busca dos filhotes. Os cordeiros são levados nos braços e a mãe, zelosa, segue atrás.

A primeira providência é pesar o filhote. Depois, verifica-se o sexo, fura-se o umbigo e coloca-se o brinco. Feito isso, eles estão prontos para ficar com a mãe dez dias confinados. Então, os filhotes seguem para o piquete.

Enquanto estão no piquete as matrizes recebem silagem e ração. Além do leite da mãe, os cordeiros ganham suplemento à base de milho, soja e trigo. O alimento é servido no creepfeeding, que são cochos cercados onde apenas os filhotes conseguem entrar. “Eles ficam nesse lugar até o cordeiro atingir 60 dias de idade, que á idade média que a gente desmama os nossos animais”, explica Priscila.

O peso, checado no tronco, determina em que baia os animais ficarão até chegar ao ponto de abate. A criação também tem animais puros da raça poll dorset. Eles têm origem anglo-americana e são os responsáveis pelo melhoramento genético do rebanho. Os animais vieram da Austrália e Nova Zelândia, países livres da doença da vaca louca.

O veterinário Sérgio Nadal, consultor na fazenda e que tem experiência de criador no Rio Grande do Sul, avalia o potencial da criação em São Paulo, onde as ovelhas entram no cio durante o ano todo.

Tanto empenho para aumentar o rebanho não pode ser colocado em risco. Animais bonitos soltos no pasto são um prato cheio para predadores. Na região, existem muitas onças e cachorros do mato. A fazenda já chegou a perder 50 ovelhas em um mês por ataque de predadores. A solução foi a importação de cachorros da raça pastor maremano que são colocados novinhos junto com as ovelhas para pensarem que fazem parte do rebanho. A raça é italiana e os filhotes são lindos e muito agitados.

A importação de cachorros, o cuidado com o pasto irrigado, a construção de galpões climatizados e animais de elite para a reprodução tiveram um grande investimento. “O investimento foi em torno de R$ 6 milhões. Hoje, a gente tem um faturamento de R$ 150 mil. Com certeza, em cinco anos a gente vai atingir o retorno”, calcula Priscila.

Em relação a outras regiões do Brasil, o Sudeste ainda está engatinhando. No ano passado, o Nordeste contava com um rebanho de 9,3 milhões de animais. No Sul, eram cinco milhões. No Sudeste, havia 740 mil. A região Sudeste ainda tem alguns problemas extras. O clima úmido do Sudeste é o grande desafio para a sanidade do rebanho.

O veterinário Leandro Rodello é um dos veterinários que dá assistência à propriedade em Itapetininga, São Paulo. “Na região Sudeste, os principais desafios são o controle da verminose e a podridão do casco”, diz.

O dono da propriedade é Eli Alves da Silva. Há 15 anos, o advogado resolveu investir na ovinocultura. O criador começou com os animais de elite. Hoje, a criação tem 70 animais de elite, todos puros da raça santa inês “Naquele momento, até pela fome que estava o mercado, o foco maior era em cima dos animais de elite. Era uma quantidade menor, mas com valor agregado maior”, justifica.

A santa inês é uma raça brasileira desenvolvida no Nordeste através do cruzamento de outras três raças. Essa é uma ovelha sem lã. Mas em ambientes mais frios ela acaba desenvolvendo uma lanugem de proteção.

A capacidade de formar a lanugem e a rusticidade são características que permitiram a adaptação da santa inês à região Sudeste. O veterinário Joselito Barbosa também dá assistência na fazenda. “Ela é oriunda de três outras raças e ganhou no Nordeste duas condições especiais de sobreviver com pouco e adaptação”, explica.

O rebanho conta com 600 ovinos e produz uma média de 50 animais ao mês. O criador está satisfeito com o negócio e pretende fazer mais investimentos para aproveitar o mercado aquecido. “Hoje, se formos considerar, temos faturamento de R$ 40 mil por mês bruto. Nosso objetivo é chegar a um volume de duas mil matrizes para que possamos ter menor sazonalidade de oferta dessa carne para as empresas que comercializam e frigoríficos”, diz Silva.
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