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Pesquisadores buscam entender origem da lagarta Helicoverpa armigera para desenvolver estratégias de controle

AMPA

Enquanto lagartas de Helicoverpa armigera atraem as atenções de agricultores, jornalistas, do governo federal e de vários estados produtores, uma “luta” vem sendo travada nos bastidores por cientistas para encontrar os melhores meios de controlar essa praga exótica, que se destaca nos agroecossistemas por sua voracidade e capacidade de se alimentar de várias culturas, como o algodoeiro, soja, milho e feijão. O Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), braço tecnológico da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), vem desempenhando um papel importante nesse embate.

Além de levar informações aos agricultores e seus colaboradores por­­­­­ meio de informativos técnicos e palestras/orientações técnicas através de seus pesquisadores, assistentes técnicos regionais e colaboradores, o IMAmt - por meio do Departamento de Entomologia - buscou parceria com instituições de pesquisa de ponta em nível nacional e internacional, como a Embrapa Cerrados e o CSIRO (The Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation– uma espécie de Embrapa australiana).

No segundo trimestre deste ano, um grupo de pesquisadores do IMAmt visitou o CSIRO na Austrália e conheceu de perto o bem sucedido Plano de Manejo de Resistência de Helicoverpa spp. à Bollgard II®, elaborado pela equipe liderada por Sharon Downes, entomologista da instituição de pesquisa australiana. Na ocasião, o entomologista Miguel Soria, do IMAmt, se reuniu com ela para discutir esse plano, que é seguido à risca pelos cotonicultores da Austrália (um dos cinco maiores exportadores de pluma do mundo), está garantindo a vida útil de variedades Bt de algodoeiro desde 2003 e contribui para a drástica redução de aplicações de inseticidas direcionadas para o controle de Helicoverpa spp.nos algodoais australianos.

Essa parceria vem se estreitando e já rendeu frutos como o Sistema de Diagnose de Helicoverpa armigera (SDHA) do IMAmt, utilizado para identificar com rapidez e segurança lagartas e mariposas da espécie H. armigera, e auxiliar pesquisas em desenvolvimento pelo instituto. O SDHA utiliza marcadores moleculares para diferenciar H. armigera em amostras de lagartas e/ou mariposas de Heliothinae oriundas do campo.

Soria tem participado de todas as etapas do embate contra as lagartas do gênero Helicoverpa spp. e está envolvido em projetos de pesquisa que tem como colaboradores o CSIRO e outras instituições juntamente com Danielle Thomazoni, também entomologista do IMAmt. Em novembro, os dois apresentaram trabalho que resume parte dos resultados iniciais obtidos por essas pesquisas no “Entomological Society of America Meeting – ESA Meeting” (Congresso Norte-americano de Entomologia), realizado em Austin, no Texas.

Intitulado "Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) in Brazil? First molecular detection”, o trabalho foi publicado na íntegra na revista científica PLoSOne– uma publicação especializada da Universidade Bangor do Reino Unido, sob o título de “A Brave New World for an Old World Pest: Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) in Brazil”[“Um bravo Novo Mundo para uma praga do Velho Mundo: Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) no Brasil”, em tradução literal].

Assinado por vários pesquisadores, entre eles, Soria e Thomazoni, o artigo aborda pela primeira vez, de forma detalhada, características da diversidade genética de H. armigera no Brasil, por meio de amostras oriundas de importantes regiões produtoras de grãos e fibra de Mato Grosso, buscando a identificação de sua origem, bem como a relação com Helicoverpa zea, espécie de comum ocorrência em lavouras de milho do Brasil.

“Entender a rota da entrada de H. armigera no Brasil é importante e poderá auxiliar na prevenção de outras potenciais incursões por outras espécies de pragas do Velho Mundo, como da espécie Helicoverpa assulta, que ataca solanáceas (p.e. batata, tomate e tabaco)”, dizem os pesquisadores no artigo. “As implicações da recente invasão de H. armigera para a agricultura brasileira são potencialmente sérias, devido principalmente à história desta praga evoluir rapidamente para a resistência a inseticidas. O monitoramento da resistência de pragas a inseticidas e variedades Bt, de forma independente aos detentores das tecnologias, é recente no Brasil e deve ser incentivado”, acrescentam. “Em adição, a presença de H. armigera no Brasil apresenta um risco à eficiência de variedades Bt de algodoeiro, soja e milho na América do Sul, devido à sua crescente adoção nestas três culturas e à falta de um programa de manejo da resistência a essas tecnologias”, alertam.

Uma matéria sobre esse artigo foi divulgada na mídia australiana e fala sobre a importância da parceria entre pesquisadores de instituições de vários países para evitar novos casos de invasão de pragas exóticas que possam trazer prejuízos na ordem de bilhões de dólares para o agronegócio de países como a Austrália e o Brasil. "Os próximos passos para o time de pesquisadores é investigar a origem da praga, sua distribuição e dispersão pelo continente sul-americano, bem como o status da mesma à resistência aos principais inseticidas e proteínas inseticidas de culturas Bt cultivadas no Brasil e em países vizinhos por meio de técnicas moleculares. A expertise do CSIRO no manejo de resistência de H. armigera contribuirá para que o Brasil desenvolva estratégias efetivas para controle desta mega-praga", conclui Wee Tek Tay, autor da matéria e integrante de grupo de pesquisa que está sendo formado no Brasil juntamente com o CSIRO.

Essa é a expectativa de milhares de agricultores de Mato Grosso e de outras regiões brasileiras que vêm sofrendo com os ataques da lagarta H. armigera.
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