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Ferrugem alaranjada chama atenção entre as doenças que mais afetaram a cana-de-açúcar nesta safra

Jornal da Bioenergia

Nessa temporada, algumas doenças estiveram presentes nos canaviais da região, entre elas a ferrugem alaranjada. A doença causada pelo fungo Puccinia Kuehnii vem chamando a atenção pela severidade e pelo seu potencial de dano para a cultura da cana-de-açúcar, tanto em produtividade quanto em qualidade final da matéria prima.

A ferrugem alaranjada é favorecida pelas condições de elevadas temperatura e umidade, presentes em grande parte desta safra. Por isso, causou grande alarde em algumas das principais regiões produtoras do país.

Outro mal que chamou atenção do setor sucroenergético foi o fungo Colletotrichum falcatum. “Ele tem causado o ressecamento dos colmos, progredindo até a morte de perfilhos, proporcionando a redução da produtividade agrícola”, explica o agrônomo de desenvolvimento de mercado da Bayer CropScience, Augusto Monteiro. O fungo ataca as plantas através de danos já existentes nos colmos, como ataques de broca da cana, por exemplo, mas também tem sido capaz de infectar os colmos através da cicatriz foliar, pela casca ou mesmo por rachaduras nos colmos.

Da mesma forma que a ferrugem alaranjada, o Colletotrichum é favorecido pelas altas temperaturas e elevada umidade. Houve, ainda, algumas incidências de podridão abacaxi (Thielaviopsisparadoxa).

Já o pesquisador do centro de cana do Instituto Agronômico de Campinas, Pery Figueiredo, aponta outras doenças percebidas nessa safra: ferrugem marrom, o carvão, a escaldadura, o mosaico e a estria vermelha (sobre algumas variedades sensíveis alocadas geralmente em ambientes férteis e em solos mais pesados).

Pery revela que um fato novo que vem chamando atenção nos últimos ciclos é a constatação do aumento da podridão vermelha dos colmos, uma doença importante no passado, mas que não chamava atenção até recentemente devido ao bom controle da broca da cana-de-açúcar. “Ao que parece, esse controle não vem ocorrendo no nível desejado atualmente em muitas lavouras. Provavelmente em função do aumento dessa praga e da baixa eficiência de controle da broca em muitos canaviais, a podridão vermelha, causada por fungos, reapareceu com força, promovendo muitos danos nos colmos comerciais e reflexos diretos a qualidade da matéria-prima usada para produção de açúcar”, analisa.

Variedades

A podridão abacaxi depende mais das condições ambientais do que propriamente das variedades de cana, e ocorre quando se tem temperaturas apropriadas para o desenvolvimento do fungo, que corresponde a 28 graus, com pH ótimo entre 5 e 7 e alta umidade. “A sobrevivência do fungo é favorecida pela alta umidade e a doença ocorre, geralmente, em solos argilosos, encharcados e de difícil drenagem”, explica o gerente de desenvolvimento de mercado cana da Syngenta, Benedito Braz. Além disso, as temperaturas baixas são, também, altamente favoráveis ao desenvolvimento do fungo, por isso, o outono da região Centro-Sul é a época mais comum de aparecimento da doença.

De acordo com Benedito, as variedades de cana- de-açúcar mais suscetíveis à ferrugem alaranjada foram: CV 14, SP 79-1115, SP 84-2025, RB 72-454, RB 85-5156, CTC 9, SP 79-2233 e, mais recentemente, na SP 81-3250 tem-se observado infestação em algumas regiões. Em relação à Colletotrichum esta também foi observada na SP 81-3250, entretanto são necessários estudos mais detalhados para esta doença.

O agrônomo Augusto Monteiro lembra que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) vem apontando desde 2010 para um grupo de três principais variedades suscetíveis à ferrugem alaranjada: RB72454, SP89-1115 e SP84-2025. “Porém, essas variedades não tinham tanta expressão em nosso censo varietal. Nesta ultima safra, houve grande preocupação do setor, pois a segunda variedade mais cultivada no país, até então: a SP81-3250, começou a apresentar problemas com a ferrugem alaranjada”. Ele aponta que, além da ferrugem alaranjada, a SP81-3250 também vem se mostrando suscetível ao fungo Colletotrichum falcatum. “Esse fungo aparentemente fica nos restos culturais e, no momento de brotação da cultura, nos meses de janeiro e fevereiro, encontra condições favoráveis à sua infecção e coloniza a cultura”, conclui.

Defensivos

De acordo com, Augusto Monteiro, “o uso de fungicidas para o controle dessas doenças ainda não constitui uma regra, mas ao acompanhar as regiões de maior pressão para essas doenças, percebe-se o aumento da adoção dessa medida de controle”. Como defensivo, Pery aponta que os herbicidas são os mais importantes. “Fungicidas, são usados esporadicamente e preventivamente na preparação de mudas para viveiros”.

Benedito explica que no controle de podridão abacaxi foi usado o Priori Xtra a 0,25 l/ha em aplicação sobre os rebolos no sulco de plantio. Para o controle de ferrugem alaranjada o fungicida mais utilizado foi o Priori Xtra a 0,5 l/ha + Nimbus 0,6 l/ha e no geral foram necessárias três aplicações foliares a partir de dezembro e a intervalo de 30 dias entre as aplicações. Para Colletotrichum ainda não existe uma recomendação.

Já em relação às brocas da cana, o consultor e diretor do Instituto de Desenvolvimento Agroindustrial (Idea), Dib Nunes, explica que ela “é controlada por insetos inimigos naturais (Cotesia flavipes), que são criados pelas próprias usinas, além do controle químico com inseticidas - muito eficiente e que não causa danos ao meio ambiente por atuarem exclusivamente sobre as lagartas”.
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