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Notícias / Agricultura

Produtor de soja já vê margem menor com elevação de custo

DCI

 Em grandes estados produtores, como Mato Grosso e Paraná, os custos nesta safra já subiram 23% e 7%, respectivamente. Em contrapartida, os preços da saca do grão no mercado interno de cada estado caíram 4,4% em Rondonópolis (MT) e 0,9% na média do Paraná. Na Bolsa de Chicago, o preço do bushel da soja está 8,6% menor na comparação anual, embora o dólar tenha se valorizado em quase 16% no mesmo período.

"O custo já prejudicou. Já perdemos muito na margem", afirmou ao DCI Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja, a Aprosoja Brasil. Segundo o produtor, no Mato Grosso, os preços de comercialização e os custos já estão equivalentes.

A margem apertada exigirá dos produtores mais disciplina nos tratos culturais e acompanhamento mais próximo do mercado da commodity, afirma Otávio Celidonio, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A estimativa é que o produtor tenha prejuízo se colher menos de 51 sacas por hectare ou se vender a saca de soja por R$ 44.

"Mais que em outro ano, o produtor ele tem que usar toda a tecnologia e os insumos na hora correta, sem desperdício. Se o produtor fizer uma aplicação a mais [de agrotóxico] sem necessidade, pode fazer a diferença entre o lucro e o prejuízo", assegura Celidonio.

Tanto no Mato Grosso como no Paraná, que respondem por quase metade da produção nacional (47,4%), os maiores vilões do aumento de custo foram as sementes e os agrotóxicos. Os produtores mato-grossenses pagaram 41,2% a mais por sementes nesta safra e 22,1% a mais por defensivos. Nas lavouras paranaenses, o preço das sementes subiu 12,64% e dos defensivos, 18,62%.

"Abusos"

Para Silveira, as empresas cometeram "abusos" neste ano. "As empresas [de agrotóxicos] estão se aproveitando da [lagarta] Helicoverpa e da ferrugem", atestou. A elevação dos custos nesta safra, de 23%, superou a alta do período passado, de 17%. A desvalorização do real também contribuiu em parte desse aumento, mas muitos produtores compraram os insumos antes do período mais forte de variação cambial, em maio, disse Celidonio.

O combate à Helicoverpa, que ainda só é possível com o uso dos inseticidas autorizados e que só são eficazes até o primeiro estágio da lagarta, tem exigido mais aplicações de defensivo. Segundo o presidente da Aprosoja Brasil, o número de aplicações chega a dobrar nas lavouras do grão.

A principal preocupação até o final da safra é o combate a pragas, como percevejo e ferrugem asiática, além da lagarta. O custo do frete também preocupa, mas Celidonio calcula que as empresas já estão antecipando uma eventual alta do transporte.

Bahia sai da seca

Nos campos baianos, os custos de produção subiram ao menos 20%, mas não devem ameaçar as margens dos produtores, que preveem forte aumento de produtividade após um ano de seca que achatou o volume de soja tirado por hectare. "Se chover bem, vamos ter lucro de 15 a 20 sacas de soja por hectare. Na safra passada mal pagamos os custos", relata Paulo Schmidt, produtor de Barreiras, no oeste baiano.
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