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Notícias / Agricultura

De olho na inflação, governo quer controlar feijão e arroz

DCI

 O principal prato do brasileiro é alvo de preocupação em Brasília. O governo tenta controlar a escalada de preços do arroz e reduzir a oferta do feijão para que os preços dos dois grãos não pressionem a inflação nem deem prejuízo para os produtores rurais. Ontem, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vendeu para as indústrias 49 mil toneladas de arroz que estavam em seus estoques para tentar frear a alta de preços que está ocorrendo neste fim de entressafra, e até amanhã deve anunciar o volume de feijão que comprará dos produtores por meio de uma Aquisição do Governo Federal (AGF). Em apenas um mês, o preço da saca de 50 quilos de arroz no Rio Grande do Sul, principal produtor, subiu 1,7%, e o da saca de feijão caiu 13,2% no Paraná, estado destacado no cultivo da leguminosa.

As vendas de arroz foram menores no leilão de ontem, mas o mercado já esperava um ritmo menos aquecido, uma vez que a colheita começa em menos de um mês. Das 100 mil toneladas oferecidas ao mercado comprador, a Conab vendeu 49%.

"Ainda há demanda, mas ela vem esfriando. Houve uma moderação neste leilão que não foi observado nos outros", diz Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Fedearroz).

Os preços do arroz pagos ao produtor vinham subindo desde o início da entressafra, em novembro do ano passado, acumulando alta de 9,22% no Rio Grande do Sul desde então. Com o leilão de ontem, Dornelles acredita que o preço pode cair, mas não a ponto de preocupar rizicultores.

Essa foi a terceira oferta de arroz da Companhia Nacional de Abastecimento em 90 dias. Caso o preço não reaja ao último leilão e caia para R$ 35,40 a saca, pode haver uma nova intervenção federal, segundo Wellington Teixeira, analista da Conab.

Se o preço ameaça a inflação ao consumidor, por enquanto a situação está boa para produtores como Artur Pacheco, de Alegrette (RS), onde o clima está favorecendo a colheita do arroz. Em 2013, o excesso de chuvas reduziu sua produtividade e ele colheu 80 mil sacas. Mas, neste ano, o clima estável deve aumentar sua produção e alavancar seu rendimento.

Feijão barato

O feijão carioca, por outro lado, vem correndo no sentido oposto: no período de pico da colheita de uma safra de alta produção, os valores que os produtores recebem estão abaixo do preço mínimo determinado pelo governo, de R$ 95. No Paraná, os agricultores obtiveram, na semana passada, R$ 76,68 pela saca. Em Goiás já há quem tenha conseguido vender a saca por R$ 55. Esse montante não paga os custos de produção no estado, cuja média é de R$ 78 para cada saca produzida.

Para evitar que a baixa remuneração ou mesmo o prejuízo afaste o produtor do plantio de feijão nas próximas safras ainda deste ano e cause problemas de abastecimento, o governo deve anunciar entre hoje e amanhã o volume que comprará e os recursos para retirar o excesso da leguminosa no mercado. A compra via AGF é dada como certa tanto dentro do governo como pelo setor produtivo.

Os produtores de Goiás querem que o governo compre mais sacas que o permitido. "Atualmente o governo compra 600 sacas de cada produtor, mas pedi para que subisse para duas mil sacas, pois atenderia mais produtores e o governo teria um estoque regulador melhor", diz o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner.

Apesar da promessa do governo, o produtor Felix Fleury adianta que reduzirá sua área plantada com feijão em 40%. "Em 120 hectares onde tinha feijão já plantei soja, que está remunerando melhor", afirma.
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