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Notícias / Agronegócio

Casos de ferrugem da soja caem no Brasil, mas custos continuam a subir

Valor Econômico

 Embora a estimativa de gastos para o controle da ferrugem asiática, uma das doenças mais perigosas da soja, esteja 14% maior nesta safra - fruto do avanço de 6% na área plantada - a incidência da doença diminuiu no país. Cálculos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que apesar da previsão de que US$ 2,21 bilhões sejam empregados no combate à doença em 2013/14, ante R$ 1,94 bilhão no ciclo passado, o número de casos caiu 15% desde o início da temporada até janeiro, para 226.

Segundo o Consórcio Antiferrugem, liderado pela Embrapa Soja, janeiro costuma apresentar mais focos da doença e, neste ano, Goiás é o mais afetado, com 37,5% do total. São 84 casos no Estado, 12% acima do mesmo período de 2012/13, devido ao excesso de chuvas.

"A doença já era esperada pelo produtor, mas estamos assustados este ano", diz Silomar Cabral Faria, diretor-geral do Sindicato Rural de Jataí (GO). A expectativa é de uma perda de 15% na produção local, somados os problemas com a ferrugem e a lagarta helicoverpa.

A ferrugem é causada pelo fungo Phakopsora pachyhizi e foi identificada no Brasil em 2001. O principal dano causado é a desfolha precoce, que impede a formação dos grãos e reduz a produtividade.

Segundo Cláudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja, o crescimento da doença em Goiás neste ciclo pode ser explicado pelo atraso na aplicação de fungicida. "A infestação costuma acontecer mais em janeiro, mas as chuvas ocorreram mais cedo este ano, em novembro", afirma Cláudia, lembrando que a umidade contribui para a propagação do fungo.

O produtor Marcelo Soares Ferreira, de Rio Verde (GO), relata ainda que uma fazenda da região quebrou o vazio sanitário (período em que não se pode plantar, para evitar a proliferação da ferrugem). "Essa propriedade que plantou antes, aliada à soja guaxa [que nasce sem ser semeada] com focos da doença, ajudou na infestação", diz.

Neste ciclo, Ferreira já foi obrigado a fazer quatro aplicações de fungicidas em seus 760 hectares com soja - normalmente, eram de duas a três. "Meus custos já dobraram só com a ferrugem", afirma. Como Goiás tem 3 milhões de hectares com soja, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e cada aplicação de fungicida custa US$ 25, serão necessários em torno de US$ 225 milhões para combater a doença no Estado, 7,14% mais que em 2012/13.

Em Mato Grosso, maior produtor nacional, os custos tendem a diminuir. Neste ciclo, são 24 focos até o momento, ante 66 no ano passado.

Na tentativa de conter a ferrugem, têm crescido as apostas em novas tecnologias. O Grupo Mutum, que cultiva 20 mil hectares em Nova Mutum (MT), resolveu experimentar nesta safra um sistema de monitoramento climático que permite prever quando as condições do tempo estão propícias à instalação do fungo - e antecipar a aplicação do defensivo.

O teste inicial do Grupo Mutum, feito em 250 hectares de soja, gerou uma redução de 53% na aplicação de defensivo, com uma economia de cerca de R$ 40 por hectare. "Há ainda o benefício ambiental, com menos uso de agroquímicos", disse Frederico Ribeiro Krakauer, presidente do Grupo Mutum.

A tecnologia, oferecida pela Olearys, de São José dos Campos (SP), foi desenvolvida há pouco mais de uma década inicialmente para o controle de doenças do tomate e da batata, mas logo foi adaptada à ferrugem da soja.

A estrutura é relativamente enxuta: estações meteorológicas instaladas na lavoura coletam dados climáticos (chuva, temperatura, umidade relativa do ar e molhamento foliar) e os transmitem automaticamente a uma central. Nessa central, um modelo matemático simula diariamente a infecção da ferrugem e aponta o melhor momento de agir.

"Conseguimos dizer ao produtor com sete a 15 dias de antecedência quando a condição do clima ficou perigosa e permitir que ele faça aplicações antes de a doença se instalar", explica Tiarê Balbi, gerente de operações da Olearys.

Conforme Balbi, a tecnologia pode ainda evitar perda de produtividade. "Testes indicaram que o sistema pode garantir de 3 a 5 sacas a mais por hectare, em média, que antes seriam perdidos com a doença", contou. Além do Grupo Mutum, quatro fazendas em Goiás estão utilizando a tecnologia, cujo pedido de patente está em análise no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) desde 2007.
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