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Notícias / Agronegócio

Setor produtivo acredita que governo brasileiro irá retaliar EUA em contencioso do algodão

Canal Rural

 O setor produtivo está confiante de que o governo brasileiro irá retaliar os Estados Unidos, em função do descumprimento do contencioso do algodão. A reunião na Câmara de Comércio Exterior (Camex) para definir a posição brasileira acontece nesta quarta, dia 19. A situação ficou ainda pior com a aprovação da nova lei agrícola norte-americana, que deve gerar prejuízos de 13% à produção brasileira.

A nova lei agrícola eliminou o sistema de pagamentos diretos aos produtores, que recebiam benefícios mesmo sem produzir. Um custo de US$ 4,5 bilhões ao ano para o governo norte-americano. Mas a Farm Bill acrescentou três novos programas que garantem renda ao agricultor daquele país.

O principal é o Stax, um seguro que cobre até 90% da receita esperada e que ainda prevê que o governo pague 80% do prêmio, com valores vinculados à produtividade e aos preços internacionais. Por isso, o setor produtivo brasileiro considera a nova legislação mais prejudicial do que a anterior.

– Na região de seca, clima adverso, que pode ter frustração na produção, o produtor não tem medo nenhum, porque sabe que, se for um ano ruim, o governo vai cobrir 90% da renda dele e ele vai ter pago 20% do prêmio de um seguro, ou seja, está totalmente fora da força do mercado – afirmou o presidente do Instituto Brasileiro do Algodão, Haroldo Cunha.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, Gilson Pinesso, a nova Farm Bill traz distorções gravíssimas e podem causar prejuízos que variam entre 6% e 13% aos negócios brasileiros.

– Temos a informação de que a área americana deve crescer entre 12% e 13% em função dos benefícios. Os americanos vão plantar mais algodão – ressaltou Pinesso.

Hoje, os norte-americanos produzem 2,8 milhões de toneladas de algodão em pouco mais de 3,149 milhões de hectares. No Brasil, a estimativa para esta safra é de 1,2 milhão de toneladas em 1,06 milhão de hectares de área plantada. O economista e consultor em Comércio Exterior, Helio Tollini, prevê queda de 7% nos preços mundiais do algodão. Ele acredita que o Brasil precisa investir em pesquisa e tecnologia, para continuar competindo no mercado internacional.

– O produtor brasileiro confia em Deus, o americano confia no governo. A diferença entre o apoio que eles recebem em termos de produção e exportação não tem nenhum paralelo à história da agricultura brasileira – disse Tollini.

Por isso, Tollini defende a retaliação aos Estados Unidos, diante do descumprimento do contencioso do algodão. O acordo firmado em 2010, previa o pagamento de US$ 829 milhões ao ano para o Brasil até que a nova lei agrícola norte-americana fosse aprovada, e com ela, fossem corrigidas as distorções condenadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), como os subsídios oferecidos aos agricultores.

Desde setembro, quando os pagamentos foram interrompidos, o Brasil deixou de receber mais de US$ 50 milhões. A sugestão é que a retaliação aconteça em alguns setores da economia, como forma de pressionar a realização de um novo acordo.

– Eles temem não pelo dano econômico, que tem condições de rever, mas pela imagem de um país que se diz de mercado livre sendo retaliado porque não cumpre as leis internacionais. Isso causaria um impacto internacional.

Por outro lado, os Estados Unidos podem fazer uma retaliação sobre a retaliação, uma economia grande, poderosa, pode fazer com que o Brasil perca em termos econômicos, de alguma forma. A decisão deve ser tomada na reunião da Camex nesta quarta.

O Brasil pode abrir um novo processo de negociação com os Estados Unidos ou optar pela retaliação. Medida que o setor produtivo aposta, pelo menos para manter fortalecida a imagem do país diante do cenário internacional. Mesmo que isso não seja garantia da retomada dos pagamentos.

– Vindo dos Estados Unidos, eu não espero nada. Se eles romperam o acordo anterior, não cumpriram a determinação da OMC, eu não vejo eles retomando o pagamento. Eu acho que o governo brasileiro também está convencido de que os Estados Unidos não cumprirão a parte deles. Estamos pressionando para que realmente saia a retaliação – explicou Pinesso.

– É um descumprimento duplo e isso nos deixa desconfiado das intenções e seriedade às regras internacionais do comércio que os EUA tanto prezam quando é do interesse deles. Então, o setor espera que o governo brasileiro seja duro para trazê-los para a negociação que traga benefícios para o setor – salientou Cunha.
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