Imprimir

Notícias / Economia

Setor de máquinas agrícolas atrai estrangeiros

Valor Economico

Empresas estrangeiras continuam a prospectar o mercado brasileiro de máquinas e implementos agrícolas, mesmo em um ano com desaceleração nas vendas domésticas do segmento após o recorde de 2013. Algumas companhias, principalmente europeias, buscam representações no país e outras já planejam investimentos em unidades industriais no Brasil.

Um dos primeiros caminhos percorridos por essas companhias estrangeiras para entrar no Brasil é a busca de distribuidores no país para conhecer o mercado. É o caso do grupo francês Pichón, que firmou neste ano contrato de representação comercial com o grupo Bouwman, do Paraná. A empresa paranaense representa algumas marcas europeias, principalmente de implementos para pecuária leiteira. Entre elas, além da Pichón, estão a alemã Krone, as holandesas Trioliet e Zuidberg e a irlandesa Tanco, diz Rafael Bouwman, gerente comercial do grupo.

Segundo Bouwman, existem projetos em andamento da Trioliet e da Krone para uma futura produção no país, em parceria com o grupo Bouwman, que iniciou suas atividades há 30 anos como uma indústria de produção e reparos de máquinas agrícolas. Há possibilidade de uma joint venture entre as empresas, na qual a europeia entraria com a tecnologia e a Bouwman com a estrutura física de produção, afirma. Mas ainda não há nada oficial.

A alemã Siloking também estuda implantar uma fábrica no Brasil para que seus produtos tenham acesso aos financiamentos do Finame, do BNDES, com taxas de juros atrativas, como as do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), de acordo com Joel Robinchik, diretor de desenvolvimento de mercado da empresa.

As linhas de financiamento do Finame são voltadas para equipamentos com pelo menos 60% de componentes nacionais em sua fabricação. Algumas linhas de crédito para produtos importados disponíveis no mercado não são tão atrativas quanto as do Finame, diz Robinchik.

Os produtos da Siloking - implementos para pecuária leiteira - chegaram ao mercado brasileiro há menos de um ano por meio de uma distribuidora que importa os itens. Antes de ter uma unidade no Brasil, ressalta Robinchik, é preciso introduzir a marca ainda não conhecida no mercado brasileiro, adaptar a tecnologia e estudar o setor.

Com faturamento superior a u20ac 50 milhões, a Siloking está há 30 anos no mercado europeu e atualmente está ampliando sua atuação para mercados como a Rússia, China e América Latina, segundo Robinchik. O plano, diz ele, é estabelecer uma subsidiária no Brasil ainda este ano, no Paraná. A futura unidade industrial no Brasil poderia ser uma plataforma de exportação da Siloking para outros mercados.

Já a italiana BCS acelerou o processo e já instalou, no fim do ano passado, uma filial de vendas em Caxias do Sul (RS), a oitava da empresa e a primeira fora da Europa e Ásia. A segunda fase do projeto brasileiro seria uma fábrica no país, diz Carlos Virgilio Bidoia, diretor comercial da BCS.

Com faturamento de u20ac 120 milhões em 2013, a companhia produz tratores de 25 a 92 cavalos de potência, motocultivadores, equipamentos para cortar o feno, entre outros, voltados à agricultura familiar.

Diante de um mercado competitivo, a BCS pretende colocar seu produto com um diferencial: oferecer tratores isométricos, com quatro rodas de mesmo diâmetro, o que proporciona menor risco de acidentes, segundo Bidoia. Os tratores são destinados principalmente para a fruticultura, café e hortifrútis. A estimativa é vender este ano cerca de 100 unidades no Brasil, um volume modesto, mas inicialmente a meta é estruturar o pós-venda. O plano, afirma o executivo, é ter, em cerca de quatro anos, uma fábrica, provavelmente na Serra Gaúcha.

Outros fabricantes de tratores também desembarcaram no Brasil recentemente, como a coreana LS Mtron, a indiana Mahindra e a italiana Argo (marca Landini), que anunciou no mês passado que produzirá no país a partir de 2015.

Outra empresa que avalia uma unidade industrial no país é a canadense Soucy, que produz implementos e esteiras de borracha para substituir rodas de tratores e colheitadeiras no trabalho em áreas alagadas, arenosas e argilosas. A expectativa é que a empresa abra uma fábrica no país em 2015 ou 2016, conforme Marcelo Santos de Oliveira, supervisor comercial do grupo Pivot, de Goiás, que há cerca de um ano representa a Soucy no país.

Segundo Oliveira, o produto (esteira de borracha para máquinas agrícolas), sem similar no mercado brasileiro, tem tido boa procura. Atualmente, já é comercializado em oito Estados do país.

Francisco Matturro, diretor da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirma que há cerca de dez anos empresas do setor prospectam o mercado do Brasil, uma vez que o país é a última grande fronteira agrícola do mundo. Chama a atenção, no entanto, o grande número de companhias que o fazem ao mesmo tempo.

Segundo Matturro, as empresas da Europa "administram uma grande ociosidade" - lá, o mercado não cresce - e, por isso, buscam o Brasil. Entretanto, a adequação dos produtos de uma agricultura temperada às condições tropicais "demanda muito tempo e custa dinheiro", avalia.
Imprimir