Imprimir

Notícias / Agricultura

Retorno de adidos agrícolas foi 'indesejável', diz ministério

Agência Estado

 O repatriamento de sete adidos agrícolas sediados em países considerados chaves para o agronegócio brasileiro não agradou ao Ministério da Agricultura. A pasta ficou sem os profissionais para articular as exportações aos Estados Unidos, Argentina, Rússia, África do Sul, Japão, Suíça e Bélgica (sedes da base de articulação com a União Europeia) - apenas a China mantém adido brasileiro atualmente. A Secretaria de Relações Internacionais (SRI) do ministério classifica o retorno, ocorrido há quase duas semanas, como 'indesejável'. Em resposta a questionamento do Broadcast, a secretaria diz que o retorno foi determinado pela Advocacia-Geral da União (AGU) e que a substituição ensaiada desde 2013 está parada no Palácio do Planalto.
Para substituir os adidos, que iniciaram o trabalho em 2010, por um período de dois anos, prorrogado por mais dois anos, a seleção avaliou 100 inscritos - a maioria funcionários de carreira da Agricultura e de áreas ligadas à relações exteriores. O ministro da Agricultura, Neri Geller, encaminhou três nomes para cada vaga, mas a burocracia do Itamaraty e da Casa Civil em avaliá-los atrasou o processo.

'Ao início do processo havia a expectativa que o adido anterior esperasse o novo profissional para voltar ao Brasil', afirma a SRI. 'No entanto, o prazo previsto não pôde ser cumprido, e a Advocacia-Geral da União entendeu que o prazo limite para a atuação dos adidos seria de, no máximo, quatro anos e prevaleceu a sua decisão. Embora não desejável, não se trata de um problema tão grande', pondera.

A expectativa era de que o início da seleção no ano passado desse tempo para substituí-los a tempo, por exemplo, de tocar a consulta pública feita nos EUA para abertura do mercado norte-americano à carne bovina in natura brasileira. Há a expectativa da liberação ainda em 2014, após a consulta pública, que enfrenta resistência do lobby dos produtores norte-americanos - o que exige uma articulação diplomática dos adidos. A autorização é tida como um certificado de qualidade ao rebanho do País.
Segundo a secretaria, os diplomatas brasileiros das embaixadas onde os adidos trabalhavam cobrirão a ausência dos colegas. A SRI não fala em prazo para repor os profissionais, mas o setor agrícola calcula em até 90 dias o tempo necessário entre a aprovação dos novos nomes pela presidente Dilma Rousseff e a instalação deles nos países.

'Infelizmente, devido a fatores alheios à vontade desta secretaria, houve atrasos na finalização da designação. No momento não existe previsão exata. Estamos na última etapa do processo, que é a designação final feita pela Presidência da Republica', diz a SRI.

Brasil tardio

Os postos são tidos como estratégicos para diversos países, que mantêm adidos agrícolas atuando em diversas embaixadas para facilitar o diálogo. O Brasil criou o cargo apenas em 2008 e demorou dois anos para ocupá-lo. 'Todos os países que mantêm grande fluxo de comércio agrícola contam com adidos em suas embaixadas, sempre escolhidos no corpo dos quadros técnicos de seus ministérios da agricultura. Alguns, como os Estados Unidos, têm um serviço especifico para o tema. No Brasil há, inclusive, muitos adidos de países que têm interesse em exportar seus produtos para nós. Poderíamos dizer que o Brasil chegou tarde e modesto no tema', afirma.

A secretaria avalia como 'positivo' o trabalho dos adidos, destacando que foi por meio deles que o Brasil conseguiu a liberação para vender carne suína nos mercados japonês, o maior do globo, e norte-americano. A secretaria aponta também o aumento de frigoríficos autorizados a exportar para a Rússia como resultado das negociações com país, incluindo a negociação para o envio de duas missões técnicas russas para inspecionar os estabelecimentos brasileiros nos últimos dois anos.

Assim como a operação, em 2011, para aumentar o número de frigoríficos autorizados a exportar para a China - hoje maior consumidor de carne de frango do País. 'Nos últimos 10 anos, 20 anos, o Brasil passou a ser um grande protagonista no comércio internacional de produtos agrícolas. Este comércio tem características muito diferentes dos outros produtos, já que, além das regras comerciais, entram em jogo regras técnicas extremamente complexas e sofisticadas. E aí surge a necessidade e inevitabilidade de contar com especialistas nestas posições', defende.
Imprimir