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Notícias / Agricultura

Cultivo de laranja provoca prejuízo aos produtores de pomares de SP

Globo Rural

 Os preços baixos preocupam produtores de laranja que trabalham na colheita da fruta em propriedades de São Paulo. Um dos fatores para a redução dos preços é a queda nos últimos anos do consumo mundial de suco de laranja, o que causa diminuição da demanda pela fruta no mercado interno brasileiro. Com a crise no setor, muitos agricultores pensam em abandonar a atividade.

A colheita da laranja começou há duas semanas na propriedade de Luís Fernando Cazari. Filho e neto de pequenos produtores, ele cultiva 50 hectares da fruta no município paulista de Itápolis e se diz decepcionado com a atividade.

“Para eu entregar essa laranja colhida, transportada, na porta da indústria, eles me pagam R$ 8 a caixa/peso de 40,8 quilos. O custo para produzir essa laranja e entregar na fábrica gira em torno de R$ 12 a R$ 13 a caixa/peso. O quadro é desesperador. São três anos seguidos que nós estamos vivendo essa situação”, diz Cazari.

Oito mil pequenos e médios produtores de São Paulo vendem laranja para a indústria de suco. Eles respondem por cerca 20% da colheita do estado. Outros 40% são de pomares próprios da indústria e 40% saem de fazendas maiores, que trabalham em grande escala. É justamente esse grupo dos pequenos e médios produtores que mais sofre com a crise.

“Numa situação como esta criou um endividamento muito grande dos produtores e inviabilizou muito a produção para milhares de produtores. O endividamento passa de R$ 1 bilhão, só de produtores de custos e investimento”, calcula Marco Antônio dos Santos, presidente da Câmara Setorial da Citricultura.

A situação atual dos preços é o resultado de uma combinação de fatores. O primeiro ponto é que o consumo mundial de suco de laranja vem registrando queda nos últimos anos, o que causa diminuição da demanda pela fruta no mercado interno brasileiro.

De acordo com Ibiapaba Netto, diretor-executivo da principal associação da indústria no país, houve redução de 13% no consumo global de suco de laranja a partir de 2006. “Hoje, você tem uma oferta gigante de novas bebidas, que são produzidas a um custo muito mais baixo do que qualquer suco integral. Isso faz com que o consumidor tenha opções mais baratas e de paladares diferentes. Se a gente comparar hoje com 2006/2007, por exemplo, o Brasil exporta menos 75 milhões de caixas de laranja ao ano na forma de suco, ou seja, demandam da gente menos 75 milhões de caixas ao ano”, diz.

No final de junho, as indústrias contavam com 534 mil toneladas de suco concentrado, o que garante quase seis meses de exportações. “Com estoque alto, a necessidade por fruta diminui”, completa Netto.

Apenas três grandes empresas produzem algo perto de 90% do suco de laranja brasileiro e dominam quase 80% das exportações globais do produto. “São três companhias que comercializam com o produtor e, muitas vezes, impõem o preço. Então, o produtor fica sem opção de comercialização”, diz Marco Antônio dos Santos.

A combinação de desânimo e prejuízo tem feito milhares de sitiantes reduzirem o tamanho dos pomares. Nos últimos anos, o produtor Luís Fernando Cazari já arrancou cem hectares de laranja. No lugar, ele plantou cana-de-açúcar. “A gente nem vem ver a máquina arrancar a laranja. Dói no coração ver uma árvore bonita, produzindo e o que você se dedicou 50 anos estar virando cana-de-açúcar”, lamenta.

Para tentar aliviar a crise, a Conab anunciou a realização de mais um leilão de laranja ao preço mínimo de R$ 11,45 por caixa. O leilão, marcado para a quinta-feira (31), será para agricultores de São Paulo e do Paraná.
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