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Produtores gaúchos apostam em dois cultivos na safra de verão

Zero Hora

 Enquanto a colheita do milho é acelerada, plantadeiras são preparadas para ocupar as áreas com a safrinha. A possibilidade de uma segunda janela de plantio, no mesmo ciclo de verão, poderá estancar a redução do cultivo de milho no Estado que, neste ano, encolheu pela primeira vez desde a década de 1970 a menos de 1 milhão de hectares.

Pensando na safrinha, produtores gaúchos anteciparam em pelo menos uma semana o plantio do milho ano passado, especialmente nas regiões onde o inverno é menos rigoroso e a probabilidade de geada em agosto é baixa. Com 90 hectares do cereal cultivados em Chiapetta, no Noroeste, Ricardo Meneghetti, 54 anos, iniciou a colheita na semana passada. Pelo menos metade da área aberta já começou a ser ocupada com sementes de soja, que deverão germinar para serem colhidas no final de abril. - No ano passado, a safrinha rendeu 40 sacas por hectare, volume superior ao das lavouras plantadas no período normal (em setembro) lembra Meneghetti, que tem outros 400 hectares destinados à soja no município.

Na próxima safra, quando contará com pivôs de irrigação recém-financiados (R$ 1,2 milhão, a serem pagos em 10 anos), o produtor prevê aumentar a área destinada ao milho para 170 hectares. Com esse investimento, espera aumentar o rendimento atual de 140 sacas para 250 sacas por hectare. Além do ganho maior na área irrigada, terá mais segurança para investir na safrinha de soja. - O milho, além de ter um custo maior de produção, é mais arriscado do que a soja, mas é importante mantê-lo para a rotação de cultura - resume Meneghetti. 100 mil hectares devem ser semeados com soja.

Sem números oficiais sobre o tamanho da safrinha no Rio Grande do Sul, já que o plantio é feito fora do zoneamento agrícola de risco climático do Ministério da Agricultura, a Associação dos Produtores de Milho (Apromilho-RS) estima que ao menos 100 mil hectares colhidos serão ocupados com soja até o final de janeiro. Outros 100 mil hectares, conforme a entidade, receberão uma nova safrinha de milho, boa parte destinada para silagem.

- Esse movimento deve-se muito ao plantio direto. É uma tendência que pode se consolidar nos próximos anos - avalia o presidente da Apromilho, Claudio Luiz de Jesus.´

Sucessão de culturas desafia pesquisadores

A dobradinha milho e soja na mesma safra avança no Estado sem recomendação técnica para o cultivo nesse formato de sucessão. Na ausência de informações científicas sobre cultivares e manejo adequados para o plantio fora de época, produtores estão fazendo seus próprios testes nas lavouras.

- O campo está desafiando a pesquisa a fornecer informações ainda inexistentes - analisa Alencar Rugeri, assistente técnico da Emater-RS. Para o agrônomo, o encurtamento do ciclo das culturas de verão tende a se fortalecer, especialmente em áreas irrigadas. - Estamos caminhando para ter uma segunda safra de soja oficial, e não vai demorar muito - avalia Rugeri, que aposta em um período inferior a 10 anos para a safrinha gaúcha ser incluída no zoneamento agrícola de risco climático da cultura e, consequentemente, no seguro agrícola.

Do ponto de vista técnico, o cultivo de milho (gramínea) seguido de soja (leguminosa) é perfeito, explica Ana Claudia Barneche de Oliveira, pesquisadora da Embrapa. Usando ciclos superprecoces (de até cem dias, ante os 130 dias normais) os produtores conseguem semear a soja em janeiro e colher até o final de abril. Assim, aproveitam a palhada deixada pelo milho no solo.

- O risco está na falta de água para a cultura se desenvolver e na incidência maior de pragas e doenças nesse período - alerta a pesquisadora de melhoramento genético da soja.

Enquanto o primeiro ponto pode ser resolvido com a irrigação, o segundo deve ser reduzido com o monitoramento das lavouras.

- A safrinha é uma lavoura que demanda cuidado maior, já que irá germinar com esporos de fungos presentes nas áreas semeadas anteriormente - completa Ana Claudia.
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