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Notícias / Economia

Nível atual do dólar beira um movimento de bolha, afirma especialista

Joyce Carla, do R7

 A cotação do dólar dos Estados Unidos chamou a atenção nesta semana ao bater o recorde desde a criação do real (em 1994). A moeda nunca tinha ultrapassado a barreira dos R$ 4. Nos últimos dias, esse valor ficou bem para trás — e o câmbio chegou a R$ 4,25.

Para o diretor da Escola de Investimentos Leandro&Stormer, Alexandre Wolwacz, um dólar razoável seria em torno de R$ 3,50 e R$ 3,80, apesar de algumas projeções colocarem a moeda em R$ 4,48. Em geral, os operadores relutam em estimar até que ponto o dólar deve subir, mas a percepção de que o câmbio deve continuar pressionado é unânime.

— Os níveis atuais beiram a um movimento de bolha.

Segundo o especialista, existe uma grande chance de estarmos próximo de um topo do dólar por um período maior, mesmo assim, o movimento mais esperado seria de um arrefecimento da atual sanha compradora da moeda e, no mínimo, uma lateralização do valor do dólar.

Essa valorização do dólar tem causas internas (da política e da economia brasileiras) e externas (principalmente dos EUA e da China). Wolwacz explica que a crise de confiança na capacidade brasileira em honrar seus compromissos é um fator relevante nessa movimentação altista.

Intervenção do Banco Central

Para tentar controlar a alta do dólar, o BC (Banco Central) tem feito leilões da moeda americana diariamente. No último dia 23, por exemplo, foram realizados cinco leilões extras de dólar: quatro de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) e um de swap (equivalente à venda de dólares no mercado futuro).

Para José Carlos Amado, operador da Spinelli Corretora, a solução para esse cenário do câmbio “está em Brasília, e não nos leilões”. Wolwacz afirma que o BC está “literalmente queimando as reservas cambiais que tínhamos”.

— Mas isso é basicamente como enxugar gelo. Não ataca a causa da alta, apenas tenta conter a febre instalada.

A causa dessa alta, segundo o especialista, está na perda do superávit primário (poupança que o País faz para pagar os juros da dívida), no desaquecimento total da economia brasileira, na perda de competitividade das indústrias do País em relação às indústrias estrangeiras e na instabilidade política.

Um operador de uma corretora nacional afirma que “estamos em uma sinuca de bico”.

— Recessão com inflação é uma espiral perigosa e, se não sairmos rapidamente disso, pode ser desastroso. E as chances de isso acontecer são cada vez menores, principalmente com a política como está.

Quem é afetado pelo preço do dólar?

A cotação do dólar não afeta apenas quem vai viajar para fora do País. Na verdade, todos os brasileiros são afetados pelo câmbio. Wolwacz explica que muitos dos insumos brasileiros são importados, uma alta do dólar impacta diretamente em custos e faz subir a pressão sobre a inflação.

— Preços mais altos, levam a uma maior estagnação econômica, que induz ao desemprego e nos leva a uma espiral negativa importante.

Por outro lado, o BC acredita que a recessão econômica deve compensar o impacto da alta do dólar nos preços. Aliado a isso, o BC cita o atual nível de estoques de produtos e o de melhoras nos preços de commodities (produtos primários com cotação internacional) e a taxa básica de juros como fatores que vão compensar a desvalorização o real em relação ao dólar.
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