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Notícias / Agronegócio

Logística, insegurança jurídica e impostos foram grandes problemas em 2012, diz Fávaro

Especial para o Agro Olhar - Thalita Araújo

 O presidente Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Carlos Fávaro – no posto desde janeiro de 2012 – concedeu entrevista ao Agro Olhar e comentou os principais fatos que marcaram as culturas de soja e milho durante o ano.

Para ele, a falta de estrutura logística, a insegurança jurídica e a alta carga tributária foram os maiores problemas enfrentados pelo setor que, em contrapartida, vive um momento especial em relação a preços e mercado.

Carlos Henrique Baqueta Fávaro tem 43 anos, é natural da cidade de Bela Vista do Paraíso, noParaná, é casado e tem duas filhas. Reside no município de Lucas do Rio Verde, região Médio Nortedo Estado, desde o ano de 1986, onde é produtor rural.

Além de presidente da Aprosoja/MT, Fávaro é vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e presidente do Movimento Pró-Logística em Mato Grosso.

AO - Quais foram os grandes ganhos em relação à soja e ao milho em Mato Grosso noano de 2012?

Carlos Fávaro
- O ano de 2012 foi um ano especial para a produção de soja e milho de MatoGrosso, pois, além de termos atingido dados produtivos históricos, os valores pagospela soja, tanto na demanda interna quanto externa, foram um dos mais altos nomercado.

No que diz respeito à soja, com o entusiasmo causado pelo bom momento dospreços, a área plantada na safra 2011/12 foi de 7,07 milhões ha, um aumento de10,3% em relação à safra anterior e de 23% na comparação com a safra 2009/08, deacordo com os dados do Imea.

Não bastasse isso, o preço que se apresentava favorável antes do plantio,intensificou-se no período da colheita. Portanto na soja, a evolução da área e dopreço foram os destaques, embalados, principalmente por um consumo mundialelevado, o que fez com a exportação de soja até novembro deste ano fosse a maiorda história do Estado, com 10,67 milhões de toneladas.

No milho a situação não foi diferente, pois com um bom cenário de preço omilho segunda safra no estado saltou de uma área de 1,75 milhões ha para2,50 milhões t. Além disso, outro destaque, diferente do que ocorreu na soja,foi o índice de produtividade média na casa dos 100/sacas por hectares. Estaprodutividade alcançada em 2012 era imaginada só em 2020.

Desta forma, com acombinação do alto investimento na lavoura por parte dos produtores e com o ótimo comportamento do clima foi possível ao estado colher uma super safra de milho,mais que dobrando a produção de um ano para o outro, saindo de 7 milhões t eindo para 15,6 milhões t. Com alguns municípios, como Sorriso e Lucas do Rio Verde,produzindo mais milho do que soja.

Estes bons números se refletiram ainda na retomada de capitalização do produtor,que conseguiu um fôlego e pode investir mais, gerando um ambiente de negóciosotimista para os demais setores da economia de Mato Grosso.

AO - MT é destaque nacional na produção de grãos e poderia ir além se não existissemproblemas como a falta de infraestrutura logística. Por que em um país tão cheiode recursos e riquezas é tão difícil extinguir esses gargalos?

Carlos Fávaro
- São anos de falta de investimento, onde o setor não recebeu o volume adequado,gerando esta atual paralisia que observamos. O governo ficou muito mais reagindoaos problemas do que se antecipando a eles e agora a situação chegou no limite,estamos prestes a superar os americanos com a maior safra de soja do mundo eoperamos com estradas esburacadas, sem hidrovias, ferrovias no limite e sem portos.

O novo programa de investimento em logística do governo retoma o planejamentode longo prazo, e trabalha de maneira integrada os modais: rodovia, ferrovia,hidrovias e portos. Porém, precisamos de solução de curto prazo.

AO - Além da logística ruim, que outros problemas foram destaque em 2012 noagronegócio mato-grossense? Que soluções são sugeridas pelo setor?

Carlos Fávaro
- A falta de segurança jurídica e a alta carga tributária são outros problemas quepodemos citar. Com a aprovação do novo Código Florestal, esperamos que a tãosonhada segurança jurídica para os produtores ocorra de verdade. Foram anos dedebates e podemos dizer que o Brasil é o único país do mundo que possui uma leitão moderna quanto o novo Código Florestal.

Pode não ter sido consenso entreos envolvidos, produtores e ambientalistas, mas foi amplamente debatida, deforma democrática e aprovada. O processo de demarcação e ampliação das terrasindígenas é outro assunto que precisa urgente ser tratado de forma mais severa epor quem é de direito, no caso o Congresso Nacional.

É inadmissível assistirmos àsituações como as observadas em Raposa Serra do Sol e recentemente na Gleba SuiáMissu. A Funai, muitas vezes influenciadas por interesses escusos, vem causandoinsegurança jurídica no campo. A situação precisa ser revista e as decisões nãopodem ficar nas mãos de pessoas que só olham um único lado.

Com relação à alta carga tributária, o setor tem vivido uma verdadeira queda debraço com o executivo estadual. Desde o início deste ano, o Governo do Estadobaixou 870 atos que modificam as regras do jogo tributário. São decretos eportarias que alteram valores, formas de cobrança e de cálculo dos impostos queos produtores recolhem para os cofres estaduais. O diálogo foi estabelecido comosendo a principal alternativa, e temos feito isto desde o início do ano.

Inclusive foram montados grupos de trabalho para se chegar a um denominador comum.Entendemos que não vivemos em uma bolha, isolados, e que devemos contribuircom o estado, ajudar nos momentos de dificuldade financeira. Temos feito a nossaparte, mas também queremos receber o retorno disto, na forma de estradas, casaspopulares, educação de melhor qualidade, saúde. Não tem como ‘estrangular’ osetor que mais contribuiu para sustentar a economia deste estado e que garante osaldo positivo da balança comercial brasileira.

AO - Em que principais pontos as propriedades agrícolas de soja e milho de MatoGrosso evoluíram em 2012 em comparação a anos anteriores?

Carlos Fávaro
- O avanço das propriedades na safra passada se deu principalmente nacomercialização antecipada tanto da soja quanto do milho, fatores fundamentaispara boa rentabilidade da propriedade. Isto mostra maturidade dos produtores.

Outro fato interessante é relativo à participação do capital próprio no custeio dasafra, que, segundo o Imea, na safra 2011/12 representou 35% do custeio total doEstado, diminuindo assim a dependência das tradings e revendas. Sendo assim,com mais capital investido nas duas produções, o parque de máquinas de algumaspropriedades foram renovados.

Além disso, houve também uma da intensificação douso de novas tecnologias em sementes e defensivos. Por fim, com o bom momentodo mercado, a rentabilidade das propriedades também foi positiva, sinalizando queeste movimento de investimento na produção para o ano que vem deve se manter.

AO - Quais são as expectativas para a cultura de soja e milho em 2013? As lavouras deMT vão alcançar novos recordes? E os preços? 

Carlos Fávaro
- Com a quebra da safra 2012/13 dos Estados Unidos, o cenário para soja e milhopara o próximo ano continuam animadores. Neste contexto, a área de soja deveobter mais um acréscimo de 11,6% e atingir os 7,89 milhões ha. Na mesma tendênciavem o milho que deve sair dos 2,50 milhões ha e ir para os 2,79 milhões ha. Sendoassim, com o bom desenvolvimento, devemos ter mais um recorde de produçãona soja, com 24,13 milhões t.

Pelo lado da demanda tanto o consumo interno dasesmagadoras e frigoríficos de aves e suínos quanto às exportações devem continuarcrescendo. Por fim, no que diz respeito ao preço da soja e do milho as tendênciassão um pouco divergentes, pois apesar de ambos terem perspectivas de volatilidademaior, o destaque fica para o milho, que com a consolidação de uma boa safra sul-americana pode sofrer inversão no rumo dos preços.

AO - Quais são os maiores desafios que as culturas de soja e milho devem enfrentar em2013?

Carlos Fávaro
- Em relação à conjuntura dos mercados, a volatilidadedos preços em 2013 pode gerar alguns gargalos na comercialização domilho. Além disso, sempre vale lembrar o risco eminente de uma nova turbulênciana economia mundial por parte da Europa, Japão e Estados Unidos, fato que temimpacto direto nos mercados das commodities produzidas em Mato Grosso.

O manejo de pragas também deverá ser outro grande desafio para esta safra, hajavista o risco eminente de ferrugem nas lavouras de soja. Neste sentido tambémse encaixa a janela apertada para o plantio do milho segunda safra, fator decisivopara o manutenção do bom desempenho produtivo. Toda essa preocupação, geraum outro desafio que é a evolução do custo de produção, fato que aumenta anecessidade da gestão financeira da propriedade.

Não bastasse isso, em MatoGrosso se tem gargalos estruturais crônicos, como armazenagem, escoamentoe disponibilidade de mão de obra. Portanto, estes gargalos vem se tornando acada safra os maiores desafios para a produção mato-grossense gerando perdasfinanceiras por toda a cadeia e, por consequência, diminuindo a competitividadedos produtos no mercado internacional.

Sobre isto, para 2012/13 um dos pontos demaiores atenção são: aonde vai se armazenar mais uma safra recorde?; e a quepreço vai ser transportado a soja e milho?, tendo em vista os novos patamares defrete praticados no Estado. Em Sorriso, por exemplo, já esta se falando em freteacima dos R$ 300,00/t, valor nominal jamais visto para região.

AO - Além dos trabalhos que já vêm sendo desenvolvidos, a Aprosoja tem novas frentese projetos pelos quais pretende trabalhar em 2013? Quais?

Carlos Fávaro
- Iremos continuar com o foco na demanda dos produtores, em projetos e ações querespondam aos anseios dos nossos associados. Neste sentido, mudamos inclusivea nossa Visão, e queremos com isso sermos reconhecidos por liderança, resultadose relacionamento com o associado.

Todos os projetos já existentes continuame reforçamos algumas áreas estratégicas, especialmente aquelas que possamcolaborar para trazer rentabilidade aos produtores. Logística também continuarácomo sendo um dos nossos focos e agora passaremos a ter uma gerência só paraacompanhar e desenvolver iniciativas e projetos de relacionamento institucional,especialmente com os poderes e órgãos diretamente ligados à nossa atividade.

AO - O agronegócio é a grande riqueza do nosso Estado. Como essa riqueza poderia sermais bem vivida e distribuída entre a maior parte dos cidadãos mato-grossenses?

Carlos Fávaro
- Em MT, o agronegócio emprega 27% de toda a mão de obra do estado. São 750mil pessoas com carteira assinada no estado, destas, 202 mil são empregadas noagronegócio. O número de empregos gerados nos outros setores aumentou 44%, eno agronegócio, 49%. Os salários pagos no agronegócio são os mais bem pagos do país.

Os municípios cuja principal fonte econômica vem do agronegócio são também osque apresentam melhor índice de desenvolvimento humano. Veja o caso de Lucas doRio Verde, que ocupa a 8 posição no índice Firjan de desenvolvimento.

Além do mais, o setor é o responsável pela chegada de inúmeras indústrias noestado, trazendo a verticalização da cadeia.O desafio está na qualificação da mão de obra e no aumento da escolaridadedos mato-grossenses, pois muitos trabalhadores não conseguem acompanhar econquistar estas vagas de trabalho em razão da baixa qualificação ou do pouco nívelde escolaridade. Isto já foi identificado como um dos gargalos que o setor terá queenfrentar.
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