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Notícias / Agronegócio

Para Milton Garbugio, primeiro desafio do ano é buscar revisão do preço mínimo do algodão

Especial para o Agro Olhar - Thalita Araújo

Empossado como o novo presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) neste mês de dezembro para o biênio 2013/2014, Milton Garbugio, em entrevista ao Agro Olhar, fala dos principais desafios que terá pela frente.

Para ele, uma das prioridades no início do mandato é buscar a revisão do preço mínimo do algodão no país, o que garantiria mais proteção aos produtores, a exemplo de outras nações fortes na atividade.

Produtor em Campo Verde, uma das regiões mais tradicionais de plantio de algodão em Mato Grosso, Garbugio é paranaense, tem 52 anos e é associado da AMPA desde 2001.

AO - Quais são os principais desafios a superar em seu primeiro ano como presidente da Ampa?

Milton Garbugio:
A cultura do algodão é sempre desafiadora e só permanece no setor quem aprende a encarar desafios.
Hoje, enfrentamos preços deprimidos no mercado mundial de pluma e um cenário pouco animador. De acordo com a Secretaria do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC na sigla em inglês), na safra 2012/13, a produção global de algodão e o consumo industrial estão estimados, respectivamente, em aproximadamente 25,9 milhões de toneladas e 23,4 milhões ton, o que deverá resultar num excesso de oferta de cerca de 2,4 milhões ton.

O preço atual da pluma está muito próximo dos custos de produção e os produtores brasileiros estão desprotegidos em relação ao preço mínimo, enquanto os três maiores produtores mundiais – China, Índia e Estados Unidos – protegem fortemente seus produtores, com uma política de preço mínimo adequada. Por isso, meu primeiro desafio na presidência da AMPA é buscar a revisão do preço mínimo do algodão – uma tarefa que enfrentaremos junto com a nova gestão da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) e outras entidades estaduais.

Mas um de nossos maiores desafios será a realização do 9º Congresso Brasileiro de Algodão, que acontecerá em Brasília, entre os dias 3 e 6 de setembro de 2013. A cada dois anos, uma entidade estadual fica responsável pela organização do evento, que é promovido pela Abrapa. Em 2013, essa missão coube à AMPA e, por uma questão estratégica, resolvemos sediar o congresso na capital federal do país, centro das principais decisões políticas e econômicas do país. Os aspectos logísticos também pesaram na nossa decisão, já que Brasília está mais próxima dos principais agentes da cadeia produtiva do algodão.

Outro desafio grande é a aplicação dos recursos procedentes da indenização norte-americana aos produtores brasileiros de algodão.

AO - O que se espera melhorar, ganhar e evoluir na cultura do algodão no ano de 2013?

Milton Garbugio:
Precisamos de mais investimentos públicos em pesquisa para que sejam desenvolvidas novas tecnologias de modo a aumentar a produtividade no campo, com manutenção da qualidade de fibra, e combater as pragas e doenças que comprometem a nossa rentabilidade.
Nos últimos anos, nós, associados da AMPA, fizemos o dever de casa e criamos o Instituto Mato-grossense do Algodão – o IMAmt – o braço tecnológico da AMPA, que vem desenvolvendo novas tecnologias para que possamos melhorar nossa performance em campo e a qualidade da fibra mato-grossense. O IMAmt também trabalha na qualificação de mão de obra para fazer frente aos avanços nas lavouras e nas algodoeiras.

Temos também o trabalho desenvolvido pelo Instituto Algodão Social – o IAS, cuja presidência assumi no último biênio. O IAS coordena o processo de certificação da pluma mato-grossense e, graças à parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), temos o selo “Algodão Socialmente Correto”, que inspirou o programa “Algodão Brasileiro Responsável” (ABR), lançado pela Abrapa no segundo semestre deste ano. Temos também o programa “Better Cotton Iniciative” (BCI). A partir da safra 2012/13, todos esses programas serão coordenados e executados em conjunto pelas equipes técnicas do IAS.

Esse processo, certamente, marca a evolução da produção algodoeira de Mato Grosso e é importante para a sua sustentabilidade. Aproveito para destacar que entendemos o conceito de sustentabilidade nos pilares social, ambiental e também econômico, pois se a atividade não for lucrativa para o produtor ela não terá continuidade.

AO - 2012 não foi um ano bom em relação a preços para o algodão e, em 2013, a produção será menor. Que estratégias podem ser adotadas para modificar este cenário?

Milton Garbugio:
A estratégica básica de quem produz é reduzir a área de plantio e, respectivamente, a produção, o que já estamos fazendo. Nossa previsão é de que essa redução passe de 35% na safra 2012/13. É provável até que haja falta de algodão para atender à demanda do mercado interno.

Fora isso, vamos buscar a revisão do preço mínimo do algodão e uma política mais adequada à realidade do mercado. Também continuaremos a buscar, através da pesquisa, novas tecnologias para aumentar a produtividade (com manutenção da qualidade da fibra), reduzir os custos com a aplicação de produtos agroquímicos na lavoura, ou seja, estamos sempre procurando diminuir nossos custos de produção, mas sem tirar o olho da qualidade de nosso produto.

AO - O patamar de bons preços na cotonicultura deve ser alcançado novamente em curto, médio ou longo prazo? Como os produtores devem comporta-se em suas propriedades em relação a isso?

Milton Garbugio:
Essa é uma pergunta difícil de responder diante da volatilidade do mercado de algodão. Há muitos fatores em jogo: condições climáticas nos países produtores da fibra, o comportamento do mercado consumidor do outro lado do mundo, etc.

O produtor associado da AMPA já está habituado a isso e hoje a maioria não se dedica à apenas uma cultura, embora jamais deixe de cumprir seus contratos. O mercado sinaliza hoje para uma demanda maior por milho e soja, isso fará com que uma parte das áreas anteriormente cultivadas com algodão migre para essas culturas.

O produtor planta com um olho na lavoura, o outro no céu e está sempre atento à cotação da pluma na bolsa de Nova York. Numa cultura que envolve custos tão altos de produção, todo cuidado é pouco.

AO- Quais são suas principais expectativas à frente da Ampa e, além dos projetos já em andamento, que novas frentes de trabalho pretende implantar junto ao setor?

Milton Garbugio
: Em breve teremos a inauguração da nova sede da AMPA e da Aprosoja, duas entidades irmãs. Essa mudança representa um marco para nossa instituição.

Minha maior expectativa é dar continuidade ao excelente trabalho desenvolvido por meus antecessores na presidência da AMPA, principalmente, por Carlos Ernesto Augustin, que presidiu a entidade no biênio 2011/12 e participou ativamente da tarefa de normatizar e destinar os recursos provenientes da indenização norte-americana aos produtores brasileiros de algodão junto com a direção da Abrapa.

Para decidir como seriam usados os recursos destinados à AMPA, a diretoria liderada por Augustin, da qual fiz parte como vice-presidente, esteve nos sete núcleos regionais recebendo sugestões e reivindicações de todos os produtores para a aprovação final dos projetos. Uma das principais preocupações dos associados da AMPA é a qualificação da mão de obra, por isso, boa parte dos recursos será aplicada na criação de centros de treinamento em diferentes regiões de produção de algodão.

Com isso e outras medidas aprovadas, tenho certeza de que vamos garantir com sucesso o fortalecimento e a continuidade do projeto algodão em Mato Grosso. Como disse o presidente da Abrapa, Gilson Pinesso, em seu discurso na solenidade de posse da AMPA (em 06/12/12), estamos prevendo um período de redução de área cultivada com algodão e, ao mesmo tempo, uma baixa nos preços internacionais.

Esse cenário nos coloca um novo desafio: investir em qualidade, fidelizar clientes e garantir que continuemos sendo uma das melhores fontes de abastecimento desta fibra para o mercado interno e externo. Mato Grosso é o maior produtor de fibra do Brasil e, com certeza, vamos consolidar nossa posição e assegurar o reconhecimento nacional e internacional de nossa fibra.
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