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“Brasil precisa assumir liderança no debate sobre segurança alimentar”, afirma Roberto Rodrigues

De Brasília - Vinícius Tavares

O discurso propalado mundialmente de que não será possível combater a fome sem derrubar áreas, sem consumir água, nem usar máquinas agrícolas e produtos transgênicos não faz sentido. A avaliação é do conselheiro do Fórum do Futuro e Coordenador de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

Ele foi um dos painelistas do o Seminário “40 anos do Plano Noroeste - A História do Futuro”, realizado nesta quinta-feira (13.6), em Unaí (MG), distante 167 KMs de Brasília (DF), e que reuniu algumas das principais autoridades da política e da agricultura nacional.

Promovido Pelo Fórum do Futuro – entidade voltada para a reflexão prospectiva de questões estratégicas brasileiras – o evento traz para a região noroeste de Minas Gerais uma reflexão sobre a importância do cerrado brasileiro para alavancar a produção de alimentos.

Cálculos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mostram que até 2050 a produção mundial de alimentos precisará crescer 50% para abastecer cerca de 9 bilhões de habitantes. Rodrigues vê neste panorama grandes oportunidades para o país crescer.

“A primavera área foi desencadeada pela falta de alimentos. O debate sobre sustentabilidade na Rio+20 foi um ‘papelucho pequenino sem grandes horizontes’. O que está em jogo é a garantia da paz. Falta gente no mundo para debater a segurança alimentar. Chegou a hora de assumirmos a liderança neste tema”, sentenciou Rodrigues em sua palestra, repleta de dados sobre o potencial brasileiro.

De acordo com o ex-ministro, o setor agropecuário representa 23% do produto Interno Bruto (PIB) do país e gera 37% dos empregos. Em 2012, respondeu por 40% das exportações. Ele afirmou que o saldo da balança comercial brasileira do ano passado foi de US$ 19 bi, sendo que o saldo do agronegócio foi de R$ 79 bi.

“Ou seja, o saldo comercial do agronegócio foi quatro vezes maior do que outros setores. Nos últimos 12 meses, o saldo comercial hoje é de 10 bi de dólares, enquanto o saldo comercial do agronegócio é de 83 bi de dólares. A agricultura é o mais importante setor da economia em relação ao PIB e o mais relevante socialmente em relação aos empregos. Em 2003, exportamos 26 bilhões de dólares. Em 2012 chegamos a 96 bilhões em meio a uma enorme crise”, observou.

Inflamando a plateia com seu otimismo e humor habitual, Roberto Rodrigues lembrou que nos últimos 20 anos a área plantada com grãos cresceu 40% e produção de grãos teve aumento de 200%. O conselheiro da FGV disse ainda que seria necessário o acréscimo de 67 milhões de hectares – além dos atuais 54 milhões de hectares – para manter produção atual com a tecnologia de décadas atrás.

“O Brasil tem 61% do território de florestas originais contra 1% na Europa. E eles ainda querem falar em segurar o nosso crescimento. Não dá para aceitar isso. O Brasil tem 851 milhões de hectares disponíveis para o agronegócio. Não é discurso romântico. Para que o mundo cresça em 20% em 10 anos, o Brasil tem que crescer 40%. Temos terras disponíveis, temos tecnologia e temos gente pra isso. Não tenham medo do que vem pela frente”, acrescentou ao citar o aumento na participação de jovens e mulheres nos cursos oferecidos aos estudantes e trabalhadores do meio rural.

Roberto Rodrigues, contudo, afirma que o Brasil não crescerá nem 40% se não resolver o problema da estratégia. Ao elogiar inovações no Plano Safra 2013/2014, disse que falta política de renda ao produtor e que a logística ainda será insuficiente nos próximos anos.

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“Falta política de renda, política agrícola, tecnologia, estruturação legal para resolver questão ambiental trabalhista, falta estratégia coordenada. No mundo inteiro, o setor funciona como Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca. Aqui são quatro ministérios distintos. Precisamos ter estratégia. O Cerrado é o maracanã da agricultura mundial, mas depende estratégia. Só com a união vamos conseguir isso”, acrescentou.

Plano Noroeste
Segundo especialistas, o aumento na produção de grãos se deve em parte pela expansão da atividade no cerrado brasileiro e pela criação da Embrapa, na década de 1970, cujas pesquisas permitiram que sementes exóticas antes só adaptadas a regiões de clima frio pudessem ser plantadas em áreas com temperaturas mais elevadas.

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Paralelo a isso, foi na região Noroeste de Minas Gerais, há cerca de 40 anos, que teve início uma verdadeira transformação social e econômica do Noroeste quando, por iniciativa de homens de visão e espírito público e republicano, foi dado um grande impulso à atividade rural em larga escala em uma microrregião compreendida por 19 municípios e que abriga uma população de mais de 350 mil habitantes, a maioria de pequenos e médios produtores rurais.

O presidente do Conselho Consultivo do Fórum do Futuro e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, uma das estrelas do encontro, foi um dos responsáveis pela elaboração do plano para o desenvolvimento da região no período em que foi secretário de Agricultura de Minas Gerais durante o governo de Rondon Pacheco, e, posteriormente, como ministro do ex-presidente Ernesto Geisel, entre 1974 e 1979.

O Plano Noroeste, que completa 40 anos, situa-se no bojo de uma série de iniciativas que visavam a expansão territorial para o interior do país, tal qual havia ocorrido anos na década anterior com a recém-inaugurada capital do país, distante entre 150 KMs a 200 KMs desta região produtora.

A região, considerada uma das portas de entrada para o cerrado brasileiro, era praticamente vazia, carente de uma produção organizada, de acesso ao crédito rural e com imensas dificuldades logísticas para o escoamento da produção. A ação foi executada com o aval do ex-governador mineiro, que aos 94 anos recebeu das mãos de Paolinelli uma medalha em sua homenagem durante o seminário.

“A homenagem que estamos prestando a doutor Pacheco tem um profundo significado. A sua figura traz além do respeito, uma gratidão e estímulo. Ele entendeu a necessidade de fazer de Minas Gerais e do cerrado uma região rica e produtiva para o país”, homenageou o ex-ministro.

“Esse é o nosso compromisso de cidadãos para brasileiros. Estou certo de que desse salão surge mais uma mensagem vitoriosa no sentido de prestigiar e desenvolve o futuro do Brasil”, agradeceu Pacheco.

A programação do Fórum do Futuro incluiu ainda painéis sobre a estratégia regional para utilização dos recursos hídricos e a ampliação da capacidade logística para o escoamento da produção, com a implantação de aproximadamente 350 KMs de ferrovia para portos do Espírito Santo e duplicação de rodovias, além de temas ligados ao fortalecimento e qualificação dos produtores e cooperativas da região.

Participaram do evento prefeitos da região da Associação dos Municípios do Noroeste de Minas Gerais (Amnor),
representantes, do governo de Minas Gerais, da Embrapa, de sindicatos, federações e entidades ligadas ao setor rural.
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