Imprimir

Notícias / Agronegócio

ALCOOLQUÍMICA: Paraná busca novos produtos para diversificar usina

JORNAL PARANÁ

 “O Paraná sempre investiu em alcoóis de melhor qualidade como o etanol industrial, além da fabricação de outros subprodutos. Temos que buscar alternativas para não ficarmos refém de poucos produtos e compradores”, afirmou Miguel Tranin, ressaltando a preocupação da Alcopar em trazer para suas associadas alternativas que possibilitem agregar valores a produção do setor, buscando soluções para os problemas atuais.

Reunião técnica - Com esse objetivo é que foi realizada a reunião técnica “Alcoolquímica e suas Oportunidades no Panorama Atual”, no dia18 de junho, na sede da Alcopar, em Maringá. As palestras foram ministradas pelo engenheiro químico, sócio diretor da Quadra Engenharia Sustentável Ltda, Marco Antonio Falquete, e pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Carlos Laurindo.

Resultados - Além de falar sobre as inúmeras possibilidades da alcoolquímica, os dois apresentaram resultados obtidos experimentalmente por um novo produto, o Qdiesel, cuja composição foi patenteada e desenvolvida pela equipe de pesquisadores com mais de 30 anos de experiência em produtos químicos e em etanol em ciclo diesel, da qual fazem parte. Combustível alternativo para o ciclo diesel, o Qdiesel é feito a partir da cana de açúcar com mais de 97% de composição inteiramente renovável e de produção sustentável.

Matriz - Segundo Falquete, a matriz do produto é obtida através da modificação do processo de fermentação de açúcares, com o uso de organismos geneticamente modificados ou uma combinação destes. “Há diversas tecnologias disponíveis”, disse. A produção desta matriz demandaria a construção de uma planta anexa à usina. Já para a produção dos aditivos multipropósitos que são usados junto com o produto, a sugestão do grupo é que as várias indústrias interessadas se unissem para formar uma unidade de produção.

Estudos - Estudos mais detalhados sobre custos de produção e eficiência energética estão sendo feitos para avaliar a viabilidade técnico-econômica da planta de alcoolquímica. Os dados serão apresentados ao conselho da Alcopar para avaliar a possibilidade de formar um grupo de usinas interessadas em investir no projeto.

Cadeia do Qdiesel gera 9,6 vezes mais energia - O Qdiesel pode ser usado nos motores de ciclo diesel já existentes, com qualquer tipo de injeção, como substituto total do óleo diesel, não sendo necessárias modificações no motor. Tem as mesmas características de lubricidade e durabilidade compatíveis com o diesel, mas não emite particulados (fumaça), não tem enxofre e apresenta emissão reduzida de NOX (óxido de nitrogênio) e CO2 em relação ao óleo diesel, mesmo em motores antigos. É solúvel no diesel, podendo ser usado misturado, além de biodegradável em caso de derramamentos acidentais, permitindo ainda obter crédito de carbono.

Geração - A cadeia de produção permite gerar 9,6 vezes mais energia que a necessária no processo, 20% a mais do que a gerada na produção do etanol e com um custo de produção semelhante ou menor. O ciclo de produção também sequestra mais carbono que o do etanol. Pelos cálculos preliminares do grupo de pesquisadores, o preço de venda também será competitivo no mercado brasileiro. O consumo é de 1,2 a 1,3 litros do combustível por litro de diesel equivalente, com custo por quilômetro rodado semelhante.

Aditivos - Ao produto obtido a partir da cana é misturado de 3 a 4% de aditivos multipropósitos, para melhorar a explosividade, que permite a ignição por compressão do ciclo diesel, produzido por processo contínuo, automatizado e próprio. Também melhora a lubrificação, tornando-o semelhante ao do óleo diesel e tem ação anticorrosiva, formando um filme polimérico sobre a superfície metálica dos componentes do sistema de injeção. O motor fica totalmente limpo, sem incrustações de carbono, típicas do diesel, o que aumenta sua durabilidade. O processo produtivo permite concorrer com o diesel em escala mundial e suas matérias primas estão disponíveis globalmente, conclui o pesquisador. Produto é patenteado e exclusivo no mundo todo.

Mercado é amplo - Como o novo produto pode substituir integralmente o óleo diesel, o mercado é bastante amplo, segundo o engenheiro químico Marco Antonio Falquete. Mas o objetivo inicial é atender ao mercado mais imediato, substituindo, por exemplo, os 1,4 bilhão de litros de diesel usados por ano pelo setor sucroenergético nas operações de plantio, manejo e colheita da cana, e os 1,1bilhão de litros de outras culturas.

Ônibus - Outro mercado imediato seria para abastecer os ônibus que rodam nas oito principais capitais e em algumas cidades brasileiras de grande porte. Só aí seriam absorvidos mais 1,2 bilhão de litros no ano, calcula o engenheiro. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo aprovaram e até regulamentaram leis específicas que determinam o uso de combustíveis ambientalmente corretos. “A frota de São Paulo responde praticamente por 60% dos ônibus das capitais e a meta é em 2018 substituir esta totalmente por ônibus que usem um produto renovável”, comenta.

Eletricidade - No médio prazo o produto pode também ser usado para gerar eletricidade nas usinas térmicas movidas a diesel, ser exportado, ou usado amplamente no transporte rodoviário em todo o Brasil.
Imprimir