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Notícias / Agricultura

Indústria de café em compasso de espera para ajustar preços

Valor Online

A indústria brasileira de café torrado e moído está em compasso de espera para repensar seu planejamento de preço. A decisão de modificar a composição dos "blends" também deve ficar para depois do período de "estabilização" das cotações da matéria-prima no mercado internacional.

Atualmente, cerca de 40% a 45% da composição do café torrado e moído vendido nos supermercados é da variedade robusta e o restante do tipo arábica, de maior qualidade. Dez anos atrás, a participação do robusta era de apenas 15%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Algumas fontes do setor calculam, entretanto, que a fatia de robusta já passa de 60% no produto.

Algumas torrefadoras mundo afora estariam novamente aumentando a fatia do café arábica nos "blends", aproveitando-se da forte queda dos preços registrada desde o segundo semestre de 2011.

Na bolsa de Nova York, os contratos futuros de arábica são atualmente negociados abaixo de US$ 1,20 por libra-peso, longe dos mais de US$ 3 há pouco mais de dois anos.

Quando as cotações do arábica atingiram patamares altos, muitas indústrias aumentaram a participação do robusta no blend, explicam os especialistas.

Do início do ano até o fechamento de ontem, os contratos de café arábica de segunda posição transacionados na bolsa de Nova York, normalmente os de maior liquidez, acumulam desvalorização de 20,14%, segundo cálculos do Valor Data. Já os contratos de café robusta negociados na bolsa de Londres têm queda de 4,94% no acumulado do ano.

No Brasil, o aumento do uso do robusta no café torrado e moído ocorreu gradativamente e foi aceito pelos consumidores brasileiros, de acordo com Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic. O executivo afirma que a "tendência é usar mais o arábica" se a cotação do produto continuar em queda.

A mudança de determinado padrão de produção, incluindo a mudança no blend, é mais rápida para empresas pequenas e mais demorada para as maiores, que retêm estoques mais volumosos, observa Herszkowicz.

"A mudança só ocorre se o diferencial [entre os preços do arábica e do robusta] permanecer baixo. É preciso sentir que o mercado se estabeleceu em outros patamares", afirma. Mas o diretor-executivo da Abic afirma que há relatos de que algumas indústrias já começaram a usar maior quantidade de arábica diante das cotações mais baixas do produto.

No mercado físico, o café arábica "bebida rio", de padrão inferior, é negociado entre R$ 240 a R$ 250 a saca, valor muitas vezes inferior ao do robusta, segundo o Escritório Carvalhaes, de Santos (SP). Corretores de regiões produtoras dizem que a qualidade desta safra 2013/14 está prejudicada e há grande quantidade de café bebida rio entrando no mercado.

A decisão de reajustar preços também só será tomada quando houver um melhor direcionamento do mercado da matéria-prima. Herszkowicz afirma que a indústria ainda não repassou toda a alta acumulada (cerca de 70%) no preço do grão verde nos últimos anos. Por isso, o momento é de "observação" do cenário para modificar ou não as decisões comerciais. "O industrial vê o médio prazo", explica.

Neste ano, a indústria não repassou custos de produção, afirma. A matéria-prima representa aproximadamente 65% do preço final do café torrado e moído.

O varejo também aguarda um melhor encaminhamento do mercado para tomar suas decisões, pondera o diretor-executivo da Abic. No varejo em São Paulo, o preço médio do quilo do café torrado e moído é de R$ 13,50.
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