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Preços das commodities tendem a cair nos próximos anos, diz consultor

Canal Rural

 O sócio consultor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, avaliou, nesta segunda, dia 2, que os preços das commodities agrícolas têm tudo para baixar, enquanto os da energia e dos metais preciosos devem subir. Entre os fatores de influência desses comportamentos estão a maior industrialização e a urbanização em massa.

– Por isso hoje vemos o aumento da demanda puxado pelos países asiáticos – destacou.

Barros falou sobre os ciclos de preços das commodities durante reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O debate, coordenado pelo presidente do Cosag, João de Almeida Sampaio Filho, ainda teve como convidado o diretor comercial de Perecíveis do Grupo Pão de Açúcar, Leonardo Miyao.

Alexandre Mendonça de Barros abriu a reunião apresentando um panorama dos ciclos de commodities no cenário internacional. Ele avaliou os superciclos como períodos entre 10 e 40 anos.

– Se tomarmos 2011 como referência desde 1900, os preços das commodities subiram 252%. Desde 1950, foram 192% de alta e desde 1975% em torno de 46% de aumento – explicou.

Diante desses movimentos, de acordo com o consultor, os preços das commodities afetam o ritmo de crescimento econômico. E esses valores tendem a cair nos próximos anos por conta do aumento da produtividade no campo.

– As tecnologias serão decisivas – argumentou.

Em termos de oferta de produtos agrícolas, questões como restrições de terra, escassez de água e carência no fornecimento de fertilizantes podem impactar a produção.

Safra atual

Nesta safra, a preocupação do setor é com a grande safra de milho, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, que deve fazer baixar os preços a partir já do mês de setembro.

– A safra brasileira foi boa tanto de milho quanto de soja, tivemos safrinha recorde e oferta recorde de milho no Brasil. Nos EUA também é um ciclo de recuperação, a gente veio de uma safra norte-americanamuito pequena ano passado. O milho já está mais salvo dentro da estrutura da colheita. Ano passado os Estados Unidos colheram 270 milhões, este ano deve ser 345 milhões, bem maior do que no ano passado, mas menor do que todo mundo pensava. Uma safra que atrasou o plantio, mas acho que a safra de milho está dada, ou seja, nós vamos conviver com preço de milho relativamente mais baixo do que ano passado – avaliou Mendonça de Barros.

No Brasil, o grande volume acumulado do lado de fora dos silos preocupa. Outubro é um mês de chuvas e é preciso escoar os grãos antes disto. Uma saída é a exportação, que no ano passado puxou os preços para cima.

– A desvalorização do real está permitindo que a exportação de milho no Brasil volte a acelerar, estávamos preocupados com o represamento do milho aqui dentro. O fator vital nas próximas semanas é o ritmo das exportações. Nós estamos tendo muita dificuldade de armazenar a safra, já tinha soja nos armazéns e precisa escoar mais rápido possível, por isto que a lógica exportadora é a lógica salvadora do Cerrado. Mas o mercado tem reagido bem, exportações crescendo, talvez bata na trave com chuva, um ou outro lugar vai sofrer. Não podemos chegar a outubro, mês de chuva, com milho no campo. Espero que isto diminua bastante nas próximas semanas – disse o analista.

Para o presidente do Conselho Superior do Agronegócio, João Sampaio, o momento é positivo, o perigo é a correção cambial que pode desestabilizar o setor.

– A gente teve um crescimento muito forte no ano passado para este, expectativa positiva para próxima safra, correção cambial boa neste momento. O risco é que esta correção seja maior nos custos que na receita, o momento é para estar atento, focado neste controle de custos. A gente tem um fator limitador que é logística, não vai ser resolvido a curto prazo – disse Sampaio.

Consumo consciente

O diretor comercial de Perecíveis do Grupo Pão de Açúcar, Leonardo Miyao, falou sobre a demanda por alimentos no Brasil a partir do ponto de vista do varejo. Executivo de uma rede que vendeu R$ 57 bilhões em 2012, dos quais R$ 31 bilhões em alimentos, Miyao destacou que o setor tem o poder de influenciar o consumo e a produção.

– É crescente a busca por alimentos orgânicos e a preocupação com a origem e o modo de produção. Nos últimos cinco anos, as vendas de orgânicos têm crescido a taxas de dois dígitos.

Outra tendência forte, segundo Miyao, é a “valorização da origem e a busca por autenticidade e familiaridade” em relação à produção.

– Os produtores familiares são os protagonistas desse processo – disse.

Nessa linha, os conceitos de sustentabilidade passaram a ser considerados fundamentais por consumidores e varejistas.

– Incentivar esse tipo de consumo é um papel do varejo junto à sociedade – pontuou o executivo.

A empresa tem um programa de acompanhamento da qualidade dos produtos desde a sua origem que inclui a atribuição de notas aos fornecedores. Como exemplo do impacto dessas medidas, Miyao citou o caso de produtores de bananas que há três gerações tinham por hábito plantar, entre outras áreas, no pé de uma serra. Parte da produção do grupo era frequentemente devolvida por não atingir os critérios estabelecidos pela rede, mas a identificação precisa do problema só veio com a adoção da rastreabilidade dos produtos.

– Só assim, pelos lotes, descobrimos que as bananas devolvidas eram sempre aquelas plantadas no pé da serra. Imagine o quanto essa família perdeu durante três gerações por não saber disso – disse.
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