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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Opinião

O casal a espera do filho que não vem – Parte 1

Tentar identificar os motivos que leva um indivíduo a querer ter um filho numa certa altura da vida pessoal, pode percorre todo um contexto social, filosófico, sociocultural, interpessoal e intrapsiquico, que norteia o indivíduo, e que, de uma forma ou outra, poderá influenciar na sua decisão. Podendo ser um desejo consciente ou inconsciente, ou até mesmo uma necessidade egóica.

Um filho pode ser esperado para realizar um sonho ou um desejo, para exercer novos papéis como: pai, mãe, avós, tios, ou ainda transmissão de bens.

Expectativas e cobranças por parte de terceiros, principalmente por parte da família, possui uma forte influencia no desejo da parentalidade, assim como a necessidade de pertencer a um grupo social, onde os filhos são um denominador em comum.

A parentalidade pode passar ainda, por uma necessidade conjugal, onde o desejo de se ter um filho, muitas vezes envolve o sucesso do casamento, colocando como parte fundamental para melhorar ou estabilizar a relação. O filho funciona como um salvador para segurar uma relação que já está fracassada.

Seja pelas necessidades do casal, pelo estilo de vida, ou pelas pressões externas, a escolha por um filho implica mais que uma fonte de satisfação pessoal ou desejo emocional, é uma decisão para vida toda.

Para se ter um filho, é imprescindível que o casal esteja de acordo com a decisão, exige muita conversa e desejo mútuo, maturidade e estabilidade emocional. Nossa vida é feita de ciclos, e é importante que o ciclo casal tenha sido bem sucedido, para que se possa passar para o próximo, o ciclo parenteral.

Filho é um elo que vem fortalecer a relação que está dando certo. É uma continuidade dos pais, uma promessa de futuro.

Dessa forma o casal se prepara para a chegada do filho, cria expectativas, faz investimento emocional, e atribui significado à experiência da parentalidade. Juntamente com a família ampliada, todos ficam a espera do momento de assumir novos e futuros papeis.

Quando a vida interfere no ciclo natural e coloca obstáculos, impossibilitando o desejo de um filho, acaba provocando uma grave ferida narcísica na identidade do casal. O que deveria ser algo normal para um casal, torna-se devastador, com sequelas físicas, sociais e principalmente emocionais.

A infertilidade é a principal causa do casal não conseguir ter filhos, e apesar da ciência e da tecnologia estarem voltados para propiciar essa possibilidade, trazendo esperança, muitos casais não conseguem obter sucesso.

A Federação Internacional de Ginecologia (FIGO) define a infertilidade como a impossibilidade de um ou ambos os cônjuges de gerar um filho após um ano de atividades sexuais regulares sem uso de métodos contraceptivos.

Os tratamentos mais indicados para infertilidade são a inseminação intrauterina e fertilização in vitro (FIV).

Durante o período de tratamento, o casal vivencia períodos de ansiedade, esperança e frustração, pois a cada novo ciclo nasce neles à esperança da possibilidade de engravidar, porém logo vem o desapontamento quando percebem que a gravidez não ocorreu e a criança esperada não veio.

A mulher sofre muitas pressões por não engravidar e a impossibilidade de ter filhos leva a uma frustração muito grande, uma vez que está arraigada nas pessoas à tradição de casar, gerar filhos e cria-los, acarretando em uma série de sentimentos como: 'impotência, inferioridade, tristeza, culpa, raiva, preconceito e outros, podendo desenvolver até um quadro depressivo.

O homem pode ver sua infertilidade, como uma ameaça a sua própria potencia sexual, sempre associada à capacidade de fecundação. Ele vê sua situação como impotência, incompetência e insuficiência.

Esse casal ainda passa por um processo de luto não reconhecido. Vivencia o luto do que perdeu e daquilo que não viveu, dos planos e dos sonhos não realizados. Luto por não poder conceber de forma natural, luto pela perda da esperança e de dar continuidade em sua família de forma biológica.

O luto compreende um processo que vem responder naturalmente ao rompimento de um vínculo afetivo com o objeto amado, sendo muito penoso e doloroso.

A ideia de perda não se restringe apenas a relacionada à morte, mas ao enfrentamento das sucessivas perdas reais e simbólicas durante o desenvolvimento humano ou em seu ciclo vital.

É de fundamental importância que esses pais passem por esse processo, mesmo que seja por uma criança que nunca chegou de existir.


Andréia Ramos é Psicóloga Clínica, Especialista em Psicologia Sistêmica. andreiaramospsico@gmail.com 
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