Olhar Direto

Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Opinião

Amores que nos envergonham ou nos matam

Venho discutindo há algum tempo - por meio de artigos postados no site Única News - e com muita alegria disseminado nas redes sociais - a questão da mulher, sua luta sem trégua para assegurar a presença nos espaços de poder. E as centenas de situações que diariamente nos fragilizam, em pleno século 21, apesar de leis que nos amparam, nos colocando ainda hoje como alvos fáceis da discriminação no mercado de trabalho. Além dos inúmeros casos registrados todos os dias no país e, em particular, em Mato Grosso, em que covardemente somos espancadas e mortas só por sermos mulheres.

Com algumas amigas mais próximas, venho, entretanto, afinando algumas discussões, para além das agressões e das maneiras 'adequadas e elegantes' encontradas por empresários e políticos de nos abrirem as portas ou reconhecerem o trabalho que decentemente realizamos, mas sempre com uma remuneração menor do que a repassada aos homens, escamoteada pelas justificativas de crise econômica ou dificuldades financeiras.

Mas a pergunta que tenho feito exaustivamente a mim e às minhas amigas, nas nossas últimas conversas, são as razões que levam algumas de nós a aceitar, para além das agressões e discriminações, ainda alguns relacionamentos afetivos abusivos. E porque ainda não conseguimos colocar um fim a eles, indiferente a nossa formação social ou intelectual?

Tudo bem, todo mundo sabe que os relacionamentos têm uma tendência de serem mesmo complicados - sejam eles amorosos, entre pais e filhos, amigos, colegas de trabalho ou entre quaisquer pessoas mesmo aqueles sem um vínculo emocional -, por conta das diferenças dos valores e dos posicionamentos ideológicos que individualmente cada um defende.

Afinal, mesmo em tempos de multidimensionalidade e de um mundo, em tese, que busca com mais constância conceitos mais espiritualizados, somos seres complexos. Evidentemente pacificados sob a imposição de rígidas regras sociais, como forma de assegurar que haja minimamente respeito nas relações interpessoais. Tornando, pelo menos aparentemente, estas relações mais fáceis, ou ao menos parecem ser.

Regras que não passam de um bem bolado conceito do que chamamos de 'savoir faire' [habilidade ou saber fazer]. Aliás, condição 'sine qua non' [indispensável] para que possamos estabelecer uma boa convivência social diária.

Mas mesmo diante de tudo isto, porque aceitamos ou entramos nestes relacionamentos? E não há quem não conheça alguém que já esteve – ou que está – em um relacionamento abusivo. Mesmo aquelas de amizade. Ainda que comumente ocorram em uma relação homem-mulher, marcadas por agressões físicas, verbais ou psicológicas.

Mais do que isto, porque muitas de nós nos submetemos a tamanha tortura, ao invés de levantarmos e irmos embora destas relações muitas vezes 'truqueadas', pela justificativa de 'amor prá mais de metro, daí tanto ciúme'? Ou pior, sob a justificativa de que 'não dá prá sair, porque é ele quem paga a conta, é o provedor e com tantos filhos como sair?' Ou ainda difíceis de sair por conta da vergonha, porque o outro, aparentemente é gentil e, assim, família, amigos e colegas muitas vezes não acreditam ou até culpam a vítima pelo abuso.

Aliás, há uma lista de razões dadas pelas vítimas para justificarem sua permanência nestas relações perigosas, algumas até sem grande visibilidade, mas que mantêm a vítima presa ao outro. Com a desculpa eterna de que o parceiro não é violento o tempo todo, mas também se mostra gentil e sensível; ou se mostra arrependido; ou ainda prometeu que vai procurar tratamento. E, claro, como um passe de mágica a situação vai 'mudar de figura '.

O certo é que todos nós estamos começando a acumular histórias de amigos ou conhecidos vivendo um relacionamento permissivo deste. E, pior, tentando sempre minimizar o abuso sem focar nas próprias necessidades de segurança. E embora a aceitação pública deste tipo de abuso tenha reduzido, vejo ainda muitas pessoas culpabilizando as vítimas. Obviamente, por estarmos em uma sociedade ainda 'de faz de conta'. Machista. Agora, sob a égide que o mundo mudou e a mulher assegurou seu espaço, e que homens e mulheres têm oportunidades iguais.

Enquanto isto, lá fora no mundo real, longe dos conceitos de uma falsa igualdade de oportunidades e espaço, as mulheres ou continuam agredidas ou são mortas, ou estão desistindo de viver por sua própria conta e risco, envergonhadas do amor que têm. Que pena para todas nós!

Lucy Macedo é empresária, diretora do site Única News e Revista Única
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