Olhar Direto

Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Opinião

Sobre Olavo de Carvalho e suas críticas aos militares no governo Bolsonaro

O tema deste artigo diz respeito às críticas que Olavo de Carvalho vem fazendo ao papel das Forças Armadas, durante o governo militar, na formação da hegemonia do pensamento de esquerda que culminou com a fundação de partidos como o PT e a supremacia das esquerdas no processo político de 1985 até a eleição de Bolsonaro em 2018.Parte da mídia e analistas políticos vem atribuindo tais críticas como oportunistas e devidas a desentendimentos recentes entre Olavo de Carvalho e os militares que integram o governo Bolsonaro. A própria Deputada Janaína Paschoal em entrevista recente declarou que Olavo de Carvalho sempre defendeu os militares e agora decidiu fazer críticas ao governo militar. Como tentaremos demonstrar, nada mais longe da verdade.

Pretende-se neste pequeno artigo analisar fatos atuais à luz da obra do pensador, sobejamente àquela escrita na década de 1990, portanto, antes do PT assumir o governo federal. Antes de abordarmos os fatos, convém dizer o que sei de Olavo de Carvalho. Trata-se de um filósofo (embora não possua graduação acadêmica desse curso), nascido em 1947 e autor de uma vastíssima obra. Destas, fiz a leitura de pelo menos três: “A nova era e a revolução cultural. Fritjof Capra &Antonio Gramsci” (1994); “O jardim das aflições. De Epicuro à ressurreição de Cesar: ensaios sobre o Materialismo e a Religião Civil” (1995) e “O imbecil coletivo. Atualidades inculturais brasileiras” (1996). Também li vários artigos do autor e assisti a inúmeros vídeos disponibilizados no you.tube. Da análise deste material é possível extrair sua visão de mundo. Sua filosofia é definida por ele mesmo como sendo "a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa".

Suas ideias poderiam ser encaixadas, grosso modo, no espectro político como à direita e conservadora. A relevância política do Professor Olavo cresceu durante e após o processo eleitoral que culminou com a vitória do projeto político capitaneado por Jair Bolsonaro (este confessadamente um seguidor da filosofia olaviana). Este é um aspecto interessante a ser observado. Enquanto os governos de esquerda estavam no poder (pelo menos a partir do governo FHC) poucos ataques e críticas eram dirigidas para Olavo de Carvalho, principalmente pelas esquerdas. Contudo, as três obras acima citadas, escritas entre 1994 e 1996, já explicavam, didaticamente, como se formou a hegemonia do pensamento revolucionário existente em nosso país, fruto da adoção pela intelectualidade da estratégia gramsciana, ainda nos anos 60.

A título de exemplo, já em 1994, na obra “A nova era e a revolução cultural”, Olavo fez uma denúncia contundente e bem fundamentada sobre a questão de como o dogma da cultura militante (esta praticada pelos correligionários dos partidos de vertente marxista, como PT, PSOL, PCdoB etc) não foi adotado como uma opção consciente, vencedora no confronto com outras visões de mundo, mas sim, se infiltrou sorrateiramente, como um “pressuposto implícito, aproveitando-se da ignorância das novas gerações, que ao despertarem para o mundo da ‘cultura’ já a encontram identificada à propaganda ideológica como se este fosse o seu estado natural e seu destino eterno”. Como as esquerdas chamam esse fenômeno hoje? Teoria da conspiração conhecida como marxismo cultural.

Com o desmantelamento dos partidos e da intelectualidade de direita no país, Olavo de Carvalhofoi, nas últimas duas décadas, o principal intelectual a fornecer uma narrativa que não aquela disseminada pelas esquerdas. Pensadores conservadores, praticamente desconhecidos no Brasil, foram citados em suas obras e introduzidos, a partir disso, no mercado editorial com traduções de suas obras. Incomodada com o eco de sua obra finalmente sendo difundida, as esquerdas voltaram suas baterias naquilo que sabem fazer de melhor: atacar a pessoa para desacreditar a obra. Velha estratégia marxista-leninista. A grande maioria sequer deu-se ao trabalho de ler a obra do filósofo.

Feito esta pequena digressão, voltamos ao tema. Olavo tem declarado em entrevistas (diversas delas disponíveis no youtube) a tese de que os militares não foram os responsáveis diretos pela “libertação” do comunismo no Brasil, via “golpe” de Estado de 1964 (se foi ou não golpe já discorri em outro artigo). Olavo, em apertada síntese, sustenta que o movimento foi de natureza civil, ou seja, foram líderes civis como Carlos Lacerda, Auro de Moura Andrade, Magalhães Pinto e outros os verdadeiros responsáveis em mobilizar a sociedade e opinião pública, criando a massa crítica que proporcionou a retirado de Jango da Presidência. Olavo também defende a tese que, após a instauração do governo militar, as Forças Armadas fizeram o enfrentamento da esquerda armada, via combate aos movimentos guerrilheiros e seus líderes, exterminando os principais movimentos armados. No entanto, o governo militar não ofereceu “combate” ao movimento de esquerda desarmado, ou seja, os intelectuais que, nas universidades, mídia, igreja, associações etc, continuaram a construção da narrativa revolucionária, culminando com a formação de uma intelligentzia de esquerda com umanarrativa consolidada quando ocorre a passagem (devolução?) do poder aos civis, em 1985. A pergunta é: Olavo de Carvalho somente agora passou a defender tal tese?
Em seu livro de 1994 (“A nova era e a revolução cultural”), Olavo expõe como, desde a derrota da luta armada, a “esquerda andava em busca de uma estratégia pela qual se orientar”, vindo daí a adesão à Gramsci, quase que por “automatismo, sonambulicamente, levada pela carência de opções”. Discorre ainda como essa estratégia obteve sucesso durante o governo militar. Segundo Olavo, o regime militar, dado sua natureza autoritária e não totalitária, desejava a “apatia política do povo e não fez nenhum esforço para doutrina-lo segundo os valores do movimento de 1964 (o totalitarismo, ao contrário, exige doutrinação maciça)”. Essa postura do governo militar, que ficou conhecida como a “estratégia da panela de pressão”, deixou para a oposição de esquerda uma rede de instrumentos editoriais, jornalísticos e escolares de formação da opinião pública, ampliando-se, consideravelmente o mercado editorial de livros de autores de esquerda). Olavo também denuncia que houve a eliminação dos principais expoentes do pensamento de direita do Brasil.

Até mesmo a tão decantada disciplina imposta na rede de ensino pelo governo militar, a famosa “Educação Moral e Cívica” foi tão displicente, segundo Olavo na obra citada, que, o “Partido Comunista se aproveitouda oportunidade para lotar de bem treinados agitadores as cátedras da nova disciplina, as quais assim se tornaram uma rede de propaganda comunista subsidiada pelo governo”.

Acredito ser suficiente expor tais passagens da obra de Olavo fins de refutação às críticas que o autor vem recebendo em função dos comentário que faz atualmente com relação ao governo militar neste aspecto. Esteja ele certo ou errado, o fato é que apenas ratifica tese própria defendida e publicada a pelo menos vinte anos.

Apesar das críticas viscerais que Olavo de Carvalho faz ao PT, ainda na década de 90, é interessante trazer à tona uma passagem constante no apêndice da obra acima citada, em que confessa haver votado em Lula e que ainda o faria caso ele tomasse providências partidárias, tais como: “exorcizar de vez os fantasmas de Marx, Lênin, Débray, Althusser, Gramsci e tutti quanti (...)” e ainda “reprimir o uso de táticas de movimento clandestino e revolucionário (...)”. Chega a afirmar ainda que “Lula é um homem decente” (perceba leitor que estamos em 1994, muitos antes da quadrilha petista assumir o poder) e que ele (Lula) poderia transformar o PT naquilo que seu nome promete (um partido para os trabalhadores), caso Lula se utilizasse da “tremenda força do seu prestígio para exterminar esses dois vícios, o marxismo e o clandestinismo”.Como não chamar Olavo de profeta!

Hoje sabemos que Lula não somente deixou de utilizar seu “prestígio” e força popular para consolidar o Brasil, após a era FHC, como uma nação próspera economicamente, como fez exatamente o contrário: exerceu a liderança de uma verdadeira “quadrilha” travestida de partido, responsável pelo maior assalto ao Estado de que se tem notícia. Condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, amarga a mais de um ano preso em uma cela especial ainda, pasmem, liderando seu partido, lançando “postes” a candidatos e concedendo entrevistas a jornalistas amigos.

Flávio Gordon em seu livro “A corrupção da inteligência”, ao comentar a importância da obra de Olavo de Carvalho como um dos autores que o inspiraram, lembra-nos que o Professor Olavo foi o “único intelectual da geração capaz de pôr o dedo na ferida e perturbar o clima de Pax Romana que havia infestado o terreno das ideias”. Combater a hegemonia do pensamento ideológico marxista, com todas as suas nuances e estratégias de desinformação não é tarefa para qualquer um. Quantas pessoas estão dispostas a mergulhar, por exemplo, nas águas profundas da “Escola de Frankfurt”? Compreender as ideias de Gramsci e sua revolução cultural? Olavo de Carvalho é um destes intelectuais que assumiram esse desafio e hoje pode ser um farol para outros que queiram trilhar essa árduo caminho.
Boa sorte Professor!

 
Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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