Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

Festival Lula Livre

O título deste artigo não está errado. Você leu certo. No dia 2 de junho próximo, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo,acontecerá a terceira (sim, a terceira) edição do Festival Lula Livre, ato musical e político em defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 8 anos e dez meses de prisão por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Para essa gente, Lula não é um simples político preso, junto a outra centena de pessoas presas no âmbito da operação lava-jato. Não, Lula, “pastor do povo”, a “alma mais honesta do planeta” é um perseguido político, enfim um “preso político”. É vítima de uma implacável conspiração persecutória envolvendo o poder judiciário, a extrema direita, a imprensa, a igreja, as famílias, a burguesia, as classes, os cachorros abandonados na rua, e por aí vai.

Confesso que relutei em escrever este texto. Na verdade, acredito que o tratamento a ser dispensado a esse senhor deveria ser a indiferença e o desprezo. Muito já foi dito a seu respeito, inclusive por este que vos fala. Tudo o que envolve essa pessoa é obscuro, ilegal, imoral ou bizarro. Volte um pouco no tempo e observe os eventos, hoje históricos, em que essa criatura esteve, direta ou indiretamente, envolto.

Lula lutou pela democracia durante o regime militar? Não. Lula foi um informante do governo. Romeu Tuma Júnior afirmou isso em seu livro, jamais contestado, “Assassinato de Reputações” (4ª edição, 2013, pags.18 e 22), veja:  “(...), e sobretudo de como o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – de resto, o melhor informante que meu pai, Romeu Tuma, dispôs no Dops – converteu uma Polícia Federal de Estado em instrumento a seu serviço, dos seus amigos e do PT. (...)  meu pai, para ações de segurança pública, usava os relatórios e caguetagens que Lula, o ‘Barba’, lhe fazia e prestava”.

Lula e seu partido votaram a favor da Constituição em 1988? Não! Lula apoiou o Plano Real? Não! Lula pediu impedimento de FHC após poucos meses do seu segundo mandato? Sim! Disse que o impedimento da Dilma foi golpe? Sim!  Há indícios do envolvimento do PT e digitais de Lula no caso Celso Daniel? Sim!(Mara Gabrilli, entrevistada pela Veja, disse que Marcos Valério tem provas que incriminam o comandante máximo da ORCRIM). Lula esteve no epicentro do mensalão? Sim! Deixou José Dirceu sozinho no furacão? Sim! Lula é o chefe da ORCRIM que implantou a maior cleptocraciana histórias das Repúblicas, de acordo com o Ministério Público? Sim!Lula nunca fez nada, soube de nada ou viu nada? Sim! Auto-intitula-se a alma mais honesta do mundo? Sim! Enfim, mesmo agora, como um cadáver político insepulto, Lula continua a assombrar a nação, porquanto, fosse este um país um pouco mais sério, já seria um fóssil político.

O que trouxe-me à reflexão acerca do evento tema deste artigo é a seguinte questão, de cunho, talvez, sociológico. O que leva determinadas pessoas, a despeito de tantos fatos conhecidos, clamarem para que um prisioneiro condenado sob o devido processo legal, seja solto sob argumentos absolutamente incabidos? Por que tantas pessoas ainda negam a realidade e optam por crerem em uma narrativa inverossímil, descabida, patética e medíocre? Que espécie de patologia acomete pessoas como Marilena Chauí, professora de filosofia da USP e destacada intelectual orgânica do PT a fazer afirmações como “quando o Lula fala, o mundo se abre, se ilumina e se esclarece”? (declaração dada à Folha de São Paulo).Por que a esquerda política tem tamanha obsessão em transigir com criminosos? Todos ainda lembram quando Lula impediu a extradição do assassino condenado na Itália CesareBatisti e a tese surrada, mas ainda defendida pelas “intelligentsia” petista de que o criminoso é vítima da sociedade.

É provável que muitas pessoas irão ao festival Lula livre. Quem são essas pessoas? Seriam os idiotas úteis? Aqueles que ignoram ou fingem ignorar o verdadeiro caráter do prisioneiro? E os artistas que lá se apresentarão? Seriam eles integrantes da tropa de elite do exército gramsciano? Obviamente, não há como explorar um fenômeno de tal complexidade em um humilde texto opinativo, não obstante, saiba leitor que existem estudos sérios e profundos que jogam luz a estes movimentos e posicionamentos políticos populistas e messiânicos.

Parte da resposta está na compreensão do modo de funcionamento da mente esquerdista. O psiquiatra forense americano Lyle H. Rossiter abordou essa questão em um livro instigante denominado “A mente esquerdista: as causas psicológicas da loucura política”, onde diagnostica que os esquerdistas radicais são abertamente “irracionais, raivosos e desonestos”, a ponto de se comportarem como se a liberdade individual e os direitos à propriedade pudessem ser simplesmente ignorados. Discorre ainda afirmando que os esquerdistas radicais geralmente são violentos sem uma causa justa, mentindo compulsoriamente para os cidadãos a respeito dos custos e benefícios de seus programas. Qualquer semelhanças com os desvios e esquemas que estão sendo descobertos no atual governo, como por exemplo, o programa maismédicos, o FIES, os financiamentos do BNDES para ditaduras, as fraudes no bolsa família, o descontrole com financiamento de ONGs e movimentos sociais, entre outros, não é mera coincidência. Recordam quando Dilma, em 2014, como discurso eleitoreiro pregou que o Brasil estava saneado e equilibrado financeiramente?

Concito o leitor a refletir por apenas alguns minutos. A quem interessa o Lula livre? Qual a relevância, em termos de Brasil, trazer à cena política o sujeito responsável pelo atual caos econômico e moral? De onde vem essa militância de fervor quase religioso? Para compreender esse fenômeno é preciso recuar no tempo. O PT surge após a morte do AI-5. Na virada da década de 70 para 80 foi intensificado o processo de gramscianização da cultura e política brasileira. Para o Antropólogo social Flávio Gordon (Corrupção da Inteligência, 2017), assim, que o PT chegou ao poder em 2002 com Lula, já tinha havido um profundo aparelhamento da cultura. No exercício do poder político, o partido dá continuidade ao aparelhamento agora do Estado.  Nesse sentido, transforma os poderes legislativos e parte do judiciário, além de inúmeras entidades de classe e organizações da sociedade civil (UNE, OAB, CNBB etc) em apêndices do partido.

Ora, mesmo deixando o poder político, parte significativa desse aparelhamento (hegemonia, na expressão de Gramsci) ainda existe e resiste a um governo de matriz ideológica inversa. Obviamente, e nesse aspecto é legítimo e parte do jogo democrático, pretenderem voltar ao poder. É por isso que é tão caro para as esquerdas, sobretudo ao PT, a queda de Lula com a comprovação de que o messias não passa de um ídolo com os pés de barro. A queda de Lula representa o fim do sonho (utopia) do bolivarianismo sul americano (Forum de São Paulo). Representa a desintegração de todo o arcabouço intelectual construído ao longo de 30 anos através de um incessante processo de transformação do senso comum das massas, tornando-as sensíveis à proposta do socialismo. Lula personifica essa ideia porque é um instrumento da ideologia para comunicar com as massas. A narrativa do operário migrante da zona árida do nordeste que, mesmo sem estudo, chega a um grande centro e alcança o ápice do poder político. Se ele conseguiu, qualquer um pode também. Não é uma bela história?
 
 
Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com).
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