Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

VLT: vamos ‘levar’ tudo?

Esse enredo das “O obras do VLT”, tema recorrente após a interrupção das obras ao fim de 2014, terá certamente um ‘remake’ na direção do atual governador Mauro Mendes. A ideia do reaproveitamento da estrutura que jaz, carcomida e morta -, não é transe exclusivo seu. Já vimos esse filme e poderemos até, de 2023 para frente, voltar a assistir a um VLT 3, como os filmes de Stallone. O que quer o atual governador é a reedição indolente do que quis Pedro Taques em 48 meses – sem contar as garantias do então secretário de Cidades, o deputado Wilson Santos, que jurou, sabe-se lá se fazendo figa ou não, que os trilhos e seus trens chegariam, pelo menos, até o bairro do Porto, até 2018. 

O bom senso – já que o contribuinte não tolera mais ver impostos fugirem como fumaça pelo vão dos dedos - seria aproveitar o traçado necrosado, criando-se nova alternativa menos morta de transporte. Ou que se faça outra coisa qualquer, mas qualquer outra coisa mesmo, menos o  ‘déjá vu’ desse desavergonhado desperdício, sem o custo-benefício da razão. Há toda sorte de impedimentos para a materialização do [im]provável VLT. 

Primeiro, o VLT não seria (como nunca o foi) -  uma opção ideal de transporte público, tanto pela carestia dos bilhetes como pela miúda capacidade de solucionar o problema de demanda de transporte urbano cuiabano/várzea-grandense – o BRT é bem mais racional e mais barato, por exemplo. Depois, no momento atual, seu custo não é compatível com a capacidade de [novo] investimento do Estado. Com orçamento deste ano estimado em pouco mais de vinte bilhões de reais - e um buraco de quase três mais a queda vertiginosa da arrecadação, Mato Grosso não tem e seguramente não terá dinheiro para por o trem nos trilhos – com recursos de outras fontes ou não. Ademais, no imaginário coletivo, por estas bandas, VLT é a mais completa tradução de ladroeira. Pode até ser que no “Aurélio” o termo signifique outra  nada ardilosa, mas no ‘cuiabanês’ VLT é a leitura exata da sigla “Vamos Ladroar Tudo”.

Tecnicamente, seis anos depois de ter provocado a falência de empresas, tornar o trânsito um pandemônio e incomodar a população de duas cidades, até hoje, o VLT teria que ser reinventado. No que está, pouca coisa poderia ser reaproveitada.

O desnivelamento e outras patologias físicas que atingiram os trilhos e “dormentes” de concreto, corrosão, erosão, não têm mais restauro – embora o que foi feito nem represente 5% do projeto nas duas linhas, sentidos VG/CPA e Coxipó/Centro.  A contaminação do lastro por resíduos sólidos, pó, lama, chuvas, poças sem dreno e ferrugem impedem a continuação das obras, a partir do que está. Na engenharia que trata de metrôs e trilhos, o nivelamento tem que ser de alta precisão sob o risco de trepidação e descarrilamentos. Isso tudo sem contar que os bondes estão atirados ao sol inclemente e às chuvas e poeira, dias após dias, meses após meses, anos após anos. Na visão geral, o que há posto é o aparente espectro de ferro-velho.

Gastar mais recursos públicos com esse delírio não é coisa que se faça ou se pense. O dinheiro, bem perto de dois bilhões de reais, que zeraria o déficit habitacional do Estado, levando-se em conta que o dinheiro viria da Caixa, por exemplo, já foi gasto com viagens, carros, mansões,  fazendas, bois (...). Impunemente. 

Ao alardear a retomada das obras do VLT, como teimou Taques embebecido pelos sopros da estupidez de amigos e assessores, Mendes faz-nos pensar que  tenha perdido o juízo. Tomara que seja um sintoma passageiro! Pão-duro e responsável como é, Mauro talvez tire o VLT da cabeça e ponha outra coisa no lugar. 

Bem fez o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, que mandou recompor os canteiros das avenidas, onde toda arborização tombou precoce e precipitadamente ao sabor de dementes e insensatos. O que fez Emanuel Pinheiro, sob reproches de Mauro Mendes, deveria ser seguido pela prefeita Lucimar Campos, de Várzea Grande. 

Com tanta demanda social à vista, com parcos recursos em caixa, o melhor seria dar um fim a um projeto traumático que só causou males e que, mesmo que ficasse pronto, seria muito mais um cômico  enfeite de luxo que a solução para o caos urbano provocado por ruas abarrotadas de veículos e pela profusão de sinaleiros. Os recursos consumidos por esse projeto não voltarão jamais, até porque Silval Barbosa e a leva de gente que se regalaram com o dinheiro que seria para trens e trilhos, caíram no esquecimento, posto que a chamada justiça trocou milhões de reais da pilhagem por bijuterias inúteis conhecidas por tornozeleiras eletrônicas de pouca valia. Falar em VLT, no momento, é o mesmo que exaltar o desatino. Quem pensa que ao sonhar com tal coisa esteja curtindo um sonho plácido, em verdade, padece de um ofegante pesadelo individual e coletivo. 


Jorge Maciel é Jornalista em Cuiabá
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