Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Somos complexidades

Ao afirmar ser um determinado pensamento ‘racional’ não se quer indicar-lhe determinada qualidade, mas precisamente sua essência, a substância própria sem a qual impossível seria nomeá-lo como tal.

A distinguir o homem do animal está a razão e o instinto. Em sendo a razão essência do homem, só se pode admitir a possibilidade de pensamento irracional se ele estiver fora de suas faculdades mentais originais.

O pensamento, então, em essência, é racional, podendo variar tão somente de qualidade.

Pois bem. A capacidade de distinguir entre o certo e o errado é substância no homem, é dele como essência, afora na hipótese acima retratada quanto a problema mental.

Ao juntar racionalidades, pessoas pensando em grupo, temos 100% de responsabilidades para o certo e também para o errado. Aqui não se tem espaço para inocentes.

Considerando que as essências das coisas são desde a eternidade e permanecerão imutáveis, é correto crer que a uns a maldade lhe é como substância a dirigir-lhe as escolhas, que sofrerá apenas graus de intensidade a partir das qualidades próprias do sujeito (inatas ou adquiridas durante o percurso de sua existência).

Pergunta-se: é possível àquilo que qualifica superar e vencer a essência? Impossível, penso. A essência é a substância (Aristóteles), é o conteúdo e revestimento sem o qual a existência seria impossível.

Mas a qualidade tem um papel desafiador, provocar estados mentais emocionais, de arrependimento mais especificamente. Assim, uns se arrependem inteiramente e outros não. Osúltimos são substancialmente teimosos. A maldade faz do ‘mau’ mais que adjetivo, o faz em essência, torna-se o próprio sujeito.  

Não se deve considerar o ‘coitado’ como vítima de sua essência. Ela o ‘é’. Perdoar-lhe seria aceitar escolhas erradas, pois, é delas a marca da sua existência.

Somos a nossa história. O histórico em vida de cada qual. Isso nos faz ser a mesma pessoa, e não um número enfiado no documento de identidade ou no CPF.

Já leram sobre o paradoxo do Navio de Teseu? Vamos lá.

Tal paradoxo foi publicado em um texto de Plutarco, discípulo de Platão. Teseu, o rei fundador de Atenas, retornou de suas conquistas pelo mar, sendo que, ao longo de todo o percurso, todas as velhas e desgastadas placas de madeira que formavam o navio foram sendo arrancadas e substituídas por placas de madeira novas e fortes. As placas velhas de madeira eram jogadas ao mar.

Quando Teseu retornou da viagem, cada placa de madeira do navio havia sido trocada e descartada (fonte: Paul Kleinman). Pergunta-se: o navio em que Teseu retornou era o mesmo navio em que partiu, levando em consideração que as placas de madeira do navio haviam sido trocadas?

Nota-se, Teseu não saiu do navio em nenhum momento. O navio A, em que Teseu partiu, é o mesmo que o navio B, que retornou?

O que está a retratar tal paradoxo (que posteriormente foi levado mais adiante por Hobbes)? A identidade e o que nos torna a pessoa que somos.

Perdão, só com arrependimento!!!

É por aí...
 

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (email: antunesdebarros@hotmail.com).
           
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