Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

​Até quando seremos alvos fáceis de espacamentos e mortes?

Foi comemorado os 13 anos de existência  da Lei Maria da Penha no último dia 7 de agosto, inclusive, com a presença em Cuiabá da própria Maria da Penha, a cadeirante vítima de violência do marido que deu nome a lei sancionada em 2006, pelo então presidente Luis Inácio Lula da Silva.

 A Lei n° 11.340 criada com a intenção de criar mecanismos para coibir a violência e discriminação contra as mulheres, quebrou paradigmas, mas não conseguiu depois de mais de uma década de existência, mudar o cenário triste e, sobretudo, cruel dos números de espacamentos e mortes tendo a mulher como alvo.

Para especialistas em violência doméstica como a antropóloga Lia Zanotta, da UnB, estes crimes no Brasil vêm ganhando ares de epidemia, principalmente, no aumento de feminicídios, refletindo uma construção histórica que colocou a mulher abaixo do homem e, pior, sob o seu controle.

Mas como mulher e empresária, em particular, de comunicação, tem me incomodado muito  estes conceitos, não porque estejam errados, mas porque não facilitam a vida das mulheres, pois na condição de estudos e análises, acabam ficando sempre sob um olhar do debate, sem a prática ou alternativas que possam, de fato, por um fim à banalização da violência e da morte. 

Assim, claro, sei que vivemos sob a tutela de uma  organização social baseada no poder masculino e que se organiza com base na dominação de homens sobre mulheres. Que ainda se  sujeitam à sua autoridade, vontade e poder.  Ou seja, [eles] continuam detendo o  poder público e o comando sobre o espaço doméstico, incluindo neste processo o controle sobre as mulheres e seus corpos. 

Isto responde - sob o viés do patriarcalismo -, o recurso à violência  física ou psicológica, pois é desta forma que o homem parece conseguir manter sua autoridade ao reafirmá-la por meio deste expediente. Por maiores que tenham sido as transformações sociais nas últimas décadas.

Mas até quando teremos que ser massacradas, mutiladas, esganadas porque não conseguimos, apesar de uma luta sem tréguas, mudar este estado de coisa? Até quando ficaremos a olhar levantamentos e sermos alvos destes dados?

Até quando seremos o tema principal de pesquisas como a mais recente, feita pelo Datafolha, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que revela, por exemplo, que no ano passado[2018], quase cinco milhões de mulheres foram vítimas de violência, o que significa, na ponta do lápis, que a cada hora no Brasil, 536 mulheres foram agredidas fisicamente e na maioria dos casos por pessoas conhecidas e 177 espancadas quase até a morte.

E que 16 milhões de mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de violência: 3% ao se divertir num bar, 8% no trabalho, 8% na internet, 29% na rua e 42% em casa. Que 76% das mulheres vítimas de violência contam que conheciam o agressor: o marido, um ex-namorado, um vizinho. E quando perguntadas o que fizeram depois da agressão, mais da metade respondeu: nada, ou seja, nem sequer chamou polícia. Desvelando uma verdade cruel sobre como ainda é difícil quebrar o silêncio.

Até quando seremos um índice, atropeladas por uma realidade que parece não mudar nunca? Porque se os dados em nível nacional são alarmantes, os de Mato Grosso não ficam atrás. É só olhar os números da Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal, da Secretaria de Estado de Segurança Pública, que apontam que dos 44 homicídios dolosos registrados contra vítimas femininas em Mato Grosso, no período de janeiro a junho deste ano, 21 deles foram identificados como feminicídios. E só para reiterar: feminicídio é o homicídio praticado contra vítima feminina pela condição simples dela ser mulher. Ou seja, pelo escancarado menosprezo da sua condição feminina.

Desta forma, me posicionarei até a exaustão contra esta realidade, por meio de artigos e matérias. Estarei a postos pedindo o fim de mortes anunciadas que seguem acontecendo.  Vou brigar pelo fim à invisibilidade bem calculada - de uma sociedade que nos coloca em pedestal como mães e esposas -, nos prometendo diariamente que as mudanças estão prestes a ocorrer sem que, de fato, isto ocorra, na prática. Prova disto, é que no dia seguinte as manchetes nos revelam que continuamos alvos fáceis de todos os tipos de agressões.

Assim, que as discussões, claro, sejam bem vindas, desde que estes debates se convertam em alerta para o Estado e para grande parte da sociedade, sobre nossa perpetuação em um grupo de risco. Por conta da falta de eficácia governamental, na criação de alternativas públicas e políticas que resultem no fim desta situação de violência. Assim, faço hoje um convite, primeiro como mãe, para começarmos fazendo nossa parte. Ao desenvolver outra consciência de masculinidade em nossos filhos. Pois somente assim, a cultura começará a mudar e deixaremos, quem sabe, em um futuro próximo, de sermos estatísticas frias em boletins de ocorrências de humilhações, abusos e assassinatos. 

Lucy Macedo é empresária, Diretora do Site Única News e Revista Única
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