Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

Sobre o pronunciamento de Bolsonaro

Não se enganem. O discurso do presidente na última terça, 24 de março de 2020, não foi um ato impensado. Ele foi construído na mesma lógica de todo discurso deste governante, e possui uma intencionalidade.

A economia já vinha mal desde o início de seu governo, tendo um PIB pífio em 2019 e sinais claros de que o cenário seria ainda pior neste ano de 2020. A crise do capital estava dada antes mesmo da pandemia do COVID-19. As medidas econômicas que os governo têm adotado, antes mesmo de Bolsonaro, estavam cavando ainda mais o buraco em que a economia iria afundar.

Por isso, o discurso foi tão importante para o presidente. Ao atacar a mídia, por, de acordo com ele, estar causando pânico na população e atacar governadores e prefeitos pelas medidas de confinamento e prevenção ao Corona Vírus, Bolsonaro vai contra as medidas que seu próprio governo vem tomando, via Ministério da Saúde e outros órgãos, que têm seguido as recomendações da OMS.

Ele sabe que seu pronunciamento não deve, de fato, alterar substancialmente o que está sendo feito contra o COVID-19, tendo em vista que muitas das medidas estão sendo tomadas pelo seu próprio governo ou pelos estados e municípios, que decidiram agir apesar do governo. O presidente também não vai acabar com, ou ao menos minimizar,  o medo da população contra a pandemia.

O que ele quis foi se antecipar a um problema que terá de enfrentar, que é a atual crise do capital. Mesmo antes da pandemia, já se indicava que a economia poderia entrar em colapso a qualquer momento. Pois bem, nada como uma pandemia para dar um empurrãozinho e servir como pretextos para mais arrochos contra os pobres.

O que Bolsonaro fez, em seu discurso, foi tentar achar um "bode" para colocar a culpa pela crise. Ele sabe que, em breve, com ou sem COVID-19, a economia iria colapsar, só que, desta vez, ele não poderia mais colocar a responsabilidade só nos governos passados ou na esquerda. Essa crise escancararia a ineficiência das medidas liberais da atual gestão para "salvar a economia".

Sabendo que a crise continuará e se agravará, Bolsonaro se antecipa e elege os novos culpados pelos problemas que o capital criou e que seu governo tem reforçado tão bem. Seguindo o aforismo do velho e bom Homer Simpson, "A culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser".

Dessa vez, a culpa não poderia ser da esquerda, que está praticamente inerte na oposição. A culpa, então, agora, será generosamente distribuída para a mídia e para prefeitos e governadores, que serão os responsáveis, de acordo com o discurso do mandatário brasileiro, pelo colapso que estamos vivendo e que se agravará.  Não importa que as medidas tomadas por governos estaduais, municipais e divulgadas pela mídia sejam as mesmas que seu governo, via Ministério da Saúde, também tem adotado.

Em resumo, o discurso não foi um apelo para salvar a economia, pois esta já está em bancarrota. Também não foi um discurso aleatório e impensado, produzido por um maluco. Temos, no vergonhoso pronunciamento da última terça (24), mais um tijolo na construção da narrativa que será usada para continuar aprofundando o massacre às pessoas pobres neste país.
 


Jelder Pompeo de Cerqueira é Cientista Social, especialista em questão agrária e mestrando em Educação pelo IFMT. Atua como Técnico em Assuntos Educacionais do IFMT e compõe a Diretoria do SINASEFE MT (Gestão 2019-2021).
 
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