Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Os alvos de Bolsonaro



O comportamento político do Presidente Jair Bolsonaro nesta pandemia do COVID-19 tem intrigado muita gente e dividido opiniões. Ao mesmo tempo em que o Governo Federal toma medidas reconhecendo a gravidade da situação, ele mesmo tece críticas fortes a decisões como a do isolamento social e à sua recomendação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disto, ele próprio tem descumprido as orientações dos profissionais e ido ao encontro da população em várias ocasiões.

Esta tensão tem ficado bem evidente na relação com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Este último vem se destacando pela defesa de posições e implementação de decisões mais alinhadas com as recomendações feitas pela comunidade científica da área e pelos servidores do ministério e das secretarias estaduais de saúde.

A meu ver, esta atitude de Bolsonaro deriva de um cálculo político que olha para os vários segmentos que apoiam o seu Governo. Com a mão esquerda ele sinaliza para dentro do sistema politico-administrativo, ao executar as decisões consideradas adequadas, e com a mão direita acena para seu eleitorado mais cativo. Seu núcleo duro de apoiadores, chamado pelo Datafolha de "Bolsonarismo heavy", tem forte posicionamento anti-sistema e aprova suas falas críticas aos governadores e outras instituições.

A participação em eventos com multidões tem ainda o papel de reforçar o seu carisma, uma vez que ele não foi infectado pelo vírus durante a viagem aos Estados Unidos. Mais de vinte integrantes da comitiva presidencial já manifestaram sintomas. Se ele continuar imune à doença fica fortalecido o perfil de um pré-destinado, que teria poupado pela importante missão que tem a cumprir na política brasileira. Caso venha a desenvolver ainda, ele pode adotar o discurso de que contraiu da população, num gesto de entrega ao seu povo.

Seus eleitores mais radicais, que constituem a base de seu edifício político, são críticos ao sistema, derivando até para posições políticas autoritárias nas mídias sociais. Por outro lado, o Democratas (Dem), que tem três ministros no Governo (Onix, Tereza Cristina e Mandetta) representa o que há de mais tradicional na política brasileira. A única maneira de preservar os dois apoios no curto prazo é, de fato, manter a ambiguidade, com gestos saciando a demanda de cada um dos segmentos.

Este núcleo duro é vital para Bolsonaro, já que constitui os alicerces do seu edifício político. Ele tem clareza que boa parte dos seus eleitores fez e faz a opção por ele por representar o anti-Lula e pelo forte perfil carismático e populista que aquela conjuntura favorecia. Este eleitor pode ser perdido para outros que consigam exercer o mesmo papel na eleição de 2022, que acontecerá num momento já diferente.

A grande questão é como equacionar isto no médio prazo, já que são situações de difícil conciliação. De um lado, um eleitorado que desde as revoltas de junho de 2013 vem demandando mudanças estruturais no sistema político e que acreditou num candidato dissidente para liderar este processo. A ênfase vai para a corrupção apresentada pelos parlamentares e também o fechamento dos partidos tradicionais para novos quadros e práticas. De outro lado as forças políticas tradicionais que o estão apoiando e que vem se enclausurando cada dia mais com várias mudanças na legislação partidária e eleitoral. Destaco aqui o Fundo Partidário e o Fundo de Campanha.

De certa forma o país está vivendo este impasse político permanente desde 2013 e que tem dificultado a retomada do crescimento econômico e o andamento de uma agenda importante para o país, incluindo as chamadas reformas. Se isto não for solucionado, poderemos ter mais um Governo que não consegue tirar o Brasil da crise, agora agravada pelo Corona Vírus.



Vinicius de Carvalho é gestor governamental, professor e analista político
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