Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

Concreto que racha

Com quase dois anos, o bebê já sabia das responsabilidades que tinha e estava concentrado em cumprir sua missão. Sentado no chão da praça logo em frente a sua casa, segurava fortemente o molho de chaves. As pernas rechonchudas em contato direto com o concreto quente. Os olhos estavam vidrados no irmão que jogava bola. O menino de cerca de dez anos e outros garotos ziguezagueavam descalços no concreto quente. Uma olhada ao redor e tudo que se vê é o cinza do concreto, que sob o sol de Cuiabá, racha, arde e maltrata.
 
Pouco mais de quatro anos se passaram desde essa cena vista em um recém entregue residencial na periferia da Capital mato-grossense. Hoje, algumas árvores espaçadas já trazem um pouco de vida às moradias. A quadra continua descoberta. Há outros residenciais na mesma longínqua região, projetados e desenhados no mais puro concreto, sem conforto, sem verde, sem vida.
 
Em meio às ondas de calor que assolam Cuiabá, já imaginou a quantos graus podem chegar esses bairros? Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso apontam que as ilhas de calor cuiabanas podem alcançar dez graus a mais que outras regiões. Dez graus! É agressivo, é desumano.
 
E existe uma solução imediata: árvores! Eu poderia citar vários estudos que comprovam que árvores diminuem a temperatura, mas existe um método mais fácil de se perceber isso: permaneça alguns minutos à sombra de uma árvore e depois à sombra de um concreto. Nós naturalmente buscamos a primeira.
 
Com base em vários estudos de entidades e universidades de diversas partes do mundo, o Fórum Econômico Mundial listou cinco benefícios trazidos pelas árvores. Podem reduzir a poluição em até 60% e a temperatura de uma vizinhança em até 6 graus e com a redução de consumo de energia, economizamos dinheiro. Nos deixam mais felizes, protegem a vida selvagem urbana e melhoram nossa saúde física.
 
Já existem muitas iniciativas que podem ajudar a regular o microclima de uma região, desde calçadas verdes, florestas de bolso, parques naturais, preservação e regeneração de áreas de preservação permanentes, corredores e áreas verdes. Há sim iniciativas que buscam arborizar Cuiabá, mas ainda são pontuais e muitas vezes concentradas em regiões centrais ou onde serão vistas.
 
Ao invés da romantização do calor com piadas sobre o quanto somos fortes em sobreviver ao calor cuiabano (e somos mesmo!), melhor seria pensarmos, idealizarmos e implementarmos políticas públicas consistentes para instituir uma infraestrutura verde na Capital. Claro que uma solução mais completa inclui não só arborização ou rearborização, mas também a diversificação dos modais de transporte, já que essa é uma das atividades que mais lança gases de efeito estufa em área urbana. Ou seja, a cada dia que passa emitimos mais gases que contribuem para aumentar a temperatura e arruinar a qualidade do ar e não compensamos com árvores.
 
É urgente nos engajarmos todos em um trabalho ordenado, constante e participativo de arborização de Cuiabá para o conforto térmico, visual e respiratório de seus habitantes. Para que possamos todos viver em uma cidade mais próspera e saudável.




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Juliana Menezes de Carvalho Jornalista - DRT-MT 1238 Mestre em Comunicação pela Université Grenoble Alpes
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