Olhar Direto

Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Opinião

Pandemia negacionista

“É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreender, insultar o que se inveja”, Honoré de Balzac

Vivemos uma pandemia negacionista vertical seletiva dentro da pandemia da saúde (coronavírus) e de duas outras grandes crises, a econômica (paralisia do mercado) e a política (desalinho entre os poderes constituídos).

Negacionismo é a escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Trata-se da recusa em aceitar uma realidade empiricamente verificável, sendo essencialmente uma ação que não possui validação de um evento ou experiência histórica.

O negacionismo é antigo e sempre teve um bom mercado para ser consumido. Para os religiosos, o primeiro negacionista da humanidade é o ateu; ele nega Deus. Mas estamos no campo metafisico. O negacionismo que falamos agora está na rejeição da verdade para proteger pessoas, ídolos, mitos, celebridades, com o chamado viés politico.

Na história da humanidade encontramos vários momentos onde grupos organizados ou celebridades em decadência criam fatos para negarem uma realidade e assim serem projetados dentro da sociedade. E ideias absurdas bem contextualizadas e repetidas a exaustão encontram espaços, principalmente nas cabeças que odeiam pensar.

Para ficarmos apenas em alguns famosos negacionismos históricos é só lembrar que dentro da Europa da Era das grandes descobertas e navegações há até obras que foram publicadas falando que era mentira que os homens navegavam e o que chamavam de Novo Mundo nada mais era que pedaços da Europa que ainda não tinham sido habitados. No século XX o homem foi a lua, mas para um bom número de pessoas aterrissaram foi no deserto do Saara.

A internet, com suas ferramentas fabulosas e as redes sociais, potencializou e arrebanhou um número enorme de negacionistas anônimos e enrustidos que estavam escondidos pela distância ou pela desconexão de comunicação. Por isso podemos falar que estamos na Era do negacionismo vertical. Por que vertical? Porque tem causa política junto. Nega-se para proteger ideias que, apesar de absurdas, atendem minhas vontades. Isso é um fenômeno planetário.

O negacionismo é um estado de espírito. Paul Valéry fala que “o estado de espírito de negação precede frequentemente a ocasião de negar. Antes que tenhas falado, se me és antipático, a minha negação está pronta, digas o que disseres – pois é a ti que eu nego”.

Então vamos do terraplanismo a hidroxicloroquina e cloroquina como se fossemos no mercado fazer compra. A terra fértil está no protecionismo de nossas loucuras idealizadas nos sonhos acordados de termos uma deusificação de ideias que nos fará grandes o suficiente para sermos reconhecido. Já que não sou Galileu Galilei, nem um Santos Dumont, vou desqualificá-los. Isso também rende uns cliques e alguma exposição. Ridícula, mas rende.


Dentro deste campo, as verdades inventadas e a fake news são ferramentas poderosíssimas para a disseminação do negacionismo. E aí o que menos importa é a comprovação da verdade. Na série Grey's Anatomy há uma frase que diz que “a negação não é uma poça d'água. É um oceano”. E como podemos fazer para não nos afogarmos?



João Edisom de Souza é professor universitário e analista político em Mato Grosso.
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