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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Opinião

Educação em tempos de pandemia

Desde o início da pandemia escolas e universidades estão com aulas suspensas ou restritas a atividades remotas. Esse cenário tornou latente uma série de desigualdade e desafios relacionados a educação brasileira. Entre eles, a limitação ao acesso à internet ou a computadores, o papel social da merenda escolar, a função das universidades no desenvolvimento de projetos de pesquisa e de extensão e o quanto não podemos fechar os olhos para o ainda existente analfabetismo infantil no Brasil, ou mesmo para o analfabetismo digital.

Entendo que em tempos de pandemia a única alternativa para a continuidade das atividades pedagógicas é o ensino remoto. A educação é essencial para uma nação e, mesmo com limitações, o desenvolvimento de atividades à distância é muito melhor do que a paralisação total por um tempo indeterminado. Porém, mais do que nunca, a pandemia está exigindo dos governos no mundo todo muita análise estatística e desenvolvimento de políticas públicas baseadas nos cenários sociais e econômicos.

A educação brasileira, embora tenha avançado em termos de quantidade, está praticamente estagnada em termos de qualidade a mais de uma década, pelo menos é isso que aponta os indicadores do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

As escolas, além das atividades de ensino, cumprem um importante papel social na garantia de alimentação para crianças de baixa renda. Em tempos de pandemia, alguns estados criaram políticas para continuar essa espécie de assistência para as famílias mais necessitadas, já outros estados parecem não compreender a importância dessa ação.

O acesso à rede mundial de computadores também se mostrou como sendo um grande limitador para muitas famílias, uma vez que muitas não possuem computadores ou acesso à internet, esse fator afeta desde a educação básica até o ensino superior. Alguns exemplos surgiram em meio a esse cenário. A Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), criou uma política de distribuição de chips com acesso à internet para estudantes de baixa renda. Porém, em algumas regiões do Brasil, nem se quer telefone funciona e a internet ainda continua sendo algo muito distante da realidade destas pessoas. Como fazer para garantir o ensino nestes locais?

No ensino superior, algumas instituições parecem que entenderam o momento e se preparam para continuar as atividades de ensino de forma remota até que a situação se normalize, outras ainda discutem se devem ou não adotar essa saída. O fato é que a pandemia não tem data para acabar e, caso não sejam adotadas aulas remotas, o ano letivo pode ficar totalmente comprometido, afetando milhares de estudantes, assim como toda a sociedade que necessita desses profissionais.

A pandemia está sendo mais uma oportunidade da universidade e os centros de pesquisa demonstrarem a sua importância na produção de informações, no desenvolvimento de novas técnicas e ações de extensão. Diversas pesquisas realizadas no Brasil já contribuíram para entendimento sobre o corona vírus e seus efeitos, além de buscarem o desenvolvimento de vacinas e outros produtos que podem ajudar a vencer essa guerra.

Muitas pessoas viram o quanto a falta de acesso à educação afeta a sua vida e dos seus filhos. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do ano de 2012, última pesquisa que analisou o acesso à educação, demonstram que 8,7% dos brasileiros eram analfabetos, entre jovens de 15 a 19 anos o total era 1,2%. Embora os números possam ter evoluído um pouco de 2012 até 2020, eles demonstram que o Brasil ainda precisa fazer muito para erradicar o analfabetismo. Também não podemos esquecer o problema do analfabetismo digital que, com certeza, possui uma dimensão muito maior que o anterior. Provavelmente milhões de brasileiros nem se quer conseguiram solicitar o auxílio emergencial do governo, por não ter acesso ou não saber usar as novas ferramentas.

Em meio a todos esse cenário, o Ministério da Educação parece continuar em um mundo paralelo. Sem desenvolver políticas públicas que garantam acesso à educação a todos os brasileiros e brasileiras. A pandemia escancarou ainda mais as diferenças existentes no Brasil e, se não forem tomadas as medidas necessárias, ao final deste momento da humanidade, essas diferenças serão ainda maiores. Precisamos de ação, precisamos de políticas públicas, precisamos de projetos, precisamos de seriedade.


Caiubi Kuhn é Professor da Faculdade de Engenharia – UFMT Campus Várzea Grand ecaiubigeologia@hotmail.com






 
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