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Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

Cuiabá há 500 milhões de anos atrás

O nosso planeta possui 4,6 bilhões de anos, mesma idade que a nossa estrela e que os demais planetas do sistema solar. As rochas que encontramos na superfície do nosso planeta são formados em diferentes momentos e guardam nelas o registro dos eventos que ocorreram na Terra ao logo de toda sua história. Os geólogos através das informações que existem nas rochas, interpretam como eram as condições ambientais e os tipos de processos que ocorreram desde a formação da rocha até os dias de hoje. Mas e as rochas que encontramos em Cuiabá, o que contam para nós?

O leitor mais atento, ao andar pela cidade de Cuiabá, deve ter reparado rochas em forma de placas, formando dobras, com ângulos que varia de próximo a horizontal até próximo a vertical, também deve ter visto rochas arenosas e locais onde existe um material esbranquiçado no meio das outras rochas. A primeira rocha citada é o filito, a segunda é o metarenito e o material esbranquiçado, são os veios de quartzo. Estas rochas pertencem a uma unidade geológica chamada Grupo Cuiabá.

Esta unidade começou a se formar após a fragmentação do supercontinente Rodinia, entre 900 milhões e 1 bilhão de anos atrás, neste tempo estas rochas estavam no litoral de um continente que hoje conhecemos como Cráton Amazônico, em uma margem passiva, ou seja, sem subducção igual ao do litoral brasileiro. Após milhões de anos, este oceano começou a se fechar e a margem passou a ser uma margem ativa, ou seja, com subducção da placa oceânica que tinha se formado. Um outro fragmento continental começou a se aproximar, fechando esse oceano, esse fragmento é chamado de Cráton Paranapanema. Por fim, ambos os continentes concluíram o ciclo de fechamento do oceano há aproximadamente 600 milhões de anos, formando uma cadeia de montanhas igual ao Himalaia. Sim, aqui nesta região já existiu uma imensa cordilheira.

As rochas do grupo Cuiabá guardam o registro de um ciclo completo de abertura e fechamento de um oceano. Para fazermos uma comparação, o Atlântico hoje está se abrindo, e a cada ano a África e América do Sul se afastam alguns centímetros, enquanto o Pacífico está se fechando, ou seja, daqui a algumas dezenas ou centenas de milhões de anos a América do Sul provavelmente irá formar um só continente com a Ásia.

Não encontramos fósseis nestas rochas, pois a deposição delas ocorreu antes da explosão cambriana, episódio de grande diversificação das formas de vida, que ocorreu há 542 milhões de anos.

Dentro desta imensa cadeia de montanhas, em uma câmara magmática, se formou o Granito de São Vicente, há aproximadamente 500 milhões de anos. O granito é uma rocha intrusiva que se forma devido ao resfriamento lento de um magma rico em sílica e oxigênio.

Hoje encontramos essas rochas expostas, pois os processos erosivos atuaram durante milhões de anos, removendo centenas a milhares de metros de rocha. Toda vez que olharmos para o chão podemos ver um pedaço da história do nosso planeta. Em outros locais, como em Chapada dos Guimarães, existem rochas que contam outros momentos e eventos que ocorreram na Terra, juntando todos esses fragmentos conseguimos desvendar o passado.



Caiubi Kuhn Professor da Faculdade de Engenharia – UFMT Campus Várzea Grande
caiubigeologia@hotmail.com



 
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